10 Discos Para Gostar de Chillwave

/ Por: Cleber Facchi 22/11/2013

Definir a Chillwave como um gênero específico é uma tarefa praticamente impossível. Nascido da colagem de distintas referências, o “estilo”, surgido ao final da década passada, mantém na psicodelia o principal elemento de aproximação entre projetos tão distintos como Washed Out, Neon Indian e Toro Y Moi. Fruto de um acumulo conceitual que absorve as ambientações do Boards Of Canada, passando pela manipulação de sons alcançada por Panda Bear, em Person Pitch (2007), o gênero trouxe na formação de obras como Psychic Chasms (2009) e Life of Leisure um efeito atento de mutação, algo que os demais projetos surgidos logo no ano seguinte trataram de manifestar com maior acerto e distinção. Mantendo como foco a busca por trabalhos de essência veranil e íntimos da estética nostálgica dos anos 1980, selecionamos 10 Discos para gostar e entender a Chillwave. Um conjunto de obras recentes, mas capazes de definir aquele que talvez seja um dos estilos mais curiosos nascidos nos últimos anos.

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House Arrest

Ariel Pink’s Haunted Graffiti
House Arrest (2006, Paw Tracks)

Tudo bem, Ariel Rosenberg está longe de parecer uma figura essencialmente voltada à Chillwave, entretanto, desconsiderar a importância do músico para a formação do gênero seria um verdadeiro erro. Quase uma década antes de Neon Indian e Washed Out brincarem com o uso de colagens instrumentais letárgicas e sons artesanais, o músico californiano e os sempre mutáveis companheiros de banda transformaram o Ariel Pink’s Haunted Graffiti em um projeto aberto ao experimento. Em House Arrest, de 2006, é quando todo o aglutinado de referências do músico começa a assumir real consistência. Arranjos psicodélicos, vozes empoeiradas e um conjunto amplo de sons organizados em um curto espaço de tempo, tudo isso faz com que a efemeridade se manifeste como um complemento para a obra. Sem qualquer ordem aparente e com cada faixa desenvolvida de maneira isolada, o disco cresce como um imenso esboço para aquilo que Rosenberg e outros artistas desenvolveriam com maior cuidado posteriormente. Ainda assim, um tratado essencial.

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Com Truise
Galactic Melt (2011, Ghostly)

Seguindo a mesma trilha iniciada por Daniel Lopatin e outros artistas próximos, Seth Haley encontrou na tonalidade nostálgica dos anos 1980 um princípio inevitável para a obra do Com Truise. Circundado por sintetizadores e vozes fragmentadas de antigos registros caseiros – como fitas VHS e samples -, o produtor nova-iorquino substituiu o propósito artesanal do gênero, por um resultado muito mais complexo e amplo. Dividido entre músicas de essência climática e canções de fluxo acessível, o disco traz como princípio a composição isolada de cada faixa. Dessa forma, enquanto Ether Drift se abre como um bloco de sons experimentais, quase místicos, outras como Flightwave amenizam os rumos da obra de forma a dialogar com o público médio. Ponto de divisão da própria essência de Haley, o disco converge tanto o conjunto de melodias sujas, propostas inicialmente pelo produtor, como o catálogo de faixas “comerciais” entregues nos lançamentos posteriores. Um verdadeiro passeio pela galáxia enquanto as estrelas começam a derreter.

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Ducktails
Ducktails III: Arcade Dynamics (2011, Woodsist)

Depois de dois bons discos caseiros e a estreia com os parceiros do Real Estate, em 2009, Matt Mondanile resolveu transformar o terceiro registro do Ducktails em uma obra entregue ao experimento. Confortado em emanações essencialmente lisérgicas e ambientações tropicais, o músico resolveu se transportar com cuidado até a década de 1960, transformando o jogo de experiências que definem o disco em uma obra essencialmente volátil e mesmo assim específica. Menos sintético que outros projetos do gênero, Arcade Dynamics encontra no uso de violões e demais componentes orgânicos um ponto de aproximação com outra parte do público, o que de forma alguma distancia Mondanile do fluxo letárgico que se espalha com leveza por toda a obra. Com vocais ocultos pelos efeitos e um efeito litorâneo que cresce pelo disco, o músico apresenta desde canções movidas pelo turbilhão de referências (Sprinter), até faixas essencialmente tímidas (Sunset Liner). Um dos melhores álbuns já feitos para se ouvir ao por do Sol.

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Ford & Lopatin

Ford & Lopatin
Channel Pressure (2011, Software)

De um lado, os sintetizadores nostálgicos de Daniel Lopatin, no outro, as vocalizações acessíveis de Joel Ford. No meio de todas essas referências que abastecem a dupla está Channel Pressure, uma obra que passeia pelo lado mais soturno e dançante de toda a década 1980. Condensado assumido de referências diversas, o projeto pode até se distanciar do lado mais radiante e letárgico da Chillwave, mas mantém no mesmo conjunto de experiências e colagens um ponto lógico de aproximação. Desenvolvido em cima de samples e vozes que parecem resgatadas de antigas fitas magnéticas, o empoeirado registro atravessa a psicodelia, esbarra no R&B, até observar a eletrônica e toda a estética MIDI em um senso específico de transformação. Da melancolia de Break Inside ao fluxo pop de Emergency Room, cada música do registro se divide com acerto entre boas melodias e toques explícitos de mutação. É como se tudo o que foi conquistado há três décadas fosse recortado e colado novamente em um formato totalmente não linear.

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Gold Panda

Gold Panda
Lucky Shiner (2010, Ghostly)

Enquanto boa parte dos produtores encontraram na temática litorânea e no cenário dos anos 1980 um sustento natural para a Chillwave, Derwin Schlecker (Gold Panda), resolveu apostar em um novo catálogo de possibilidades. Desenvolvido em cima de fitas VHS, samples de sons da cultura oriental e traços específicos da IDM, Lucky Shiner se espalha em um jogo de possibilidades tímidas, mas não menos encantadoras. Do detalhamento caseiro que abre o disco, com You, passando pela precisão de músicas como Same Dream China e I’m With You But I’m Lonely, toda a composição da obra se orienta em um invento sensível, a ser repetido diversas vezes. Ora centrado em um fluxo atmosférico, ora próximo de um resultado dançante, o álbum ultrapassa a letargia, tão típica de trabalhos do gênero, para se aproximar de um estágio continuo de precisão – evidente na formação dos beats. São sequências eletrônicas que se misturam às bases orgânicas, traços vocais embebidos em ruídos e um jogo de músicas que mais parecem a abertura para um ambiente próprio, totalmente isolado.

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Memory Tapes

Memory Tapes
Seek Magic (2009, Sincerely Yours)

Existe um distanciamento imenso entre a estética proposta por Dayve Hawk em Seek Magic (2009) e nos posteriores Player Piano (2011) e Grace/Confusion (2012). Enquanto para a construção dos lançamentos mais recentes o músico de Nova Jersey apostou em uma estrutura orgânica, investindo na formação de uma banda e sonorizações amplas, com o debut, o isolamento e o uso específico de uma composição eletrônica trouxe um melhor enquadramento para o projeto. São programações detalhadas em um efeito ambiental, mas que rompem com os próprios limites ao provar de pequenas essências específicas. Do Dream Pop em Swimming Field, ao passeio pela Balearic em Bicycle, faixa, após faixa, Hawk arrasta o ouvinte para um jogo de experiências compactas, mas não menos envolventes. Lançado no mesmo ano que Psychic Chasms e Life of Leisure EP do Washed Out, o disco serviu para definir o que seria entendido como Chillwave nos meses seguintes.

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Neon Indian

Neon Indian
Psychic Chasms (2009, Lefse)

Se a Chillwave pudesse ser definida em um único registro, Psychic Chasms com certeza seria o escolhido. Ensolarado, nascido da colagem de referências e totalmente drogado, a obra de estreia do Neon Indian ainda hoje é um álbum que se mantém no topo do cenário que ajudou a projetar. Assumido em totalidade pelo texano Alan Palomo, o projeto coleciona desde recortes musicais nostálgicos, até faixas consumidas de forma atenta pelo uso de sintetizadores, efeito que ao esbarrar nas guitarras e vozes carregadas de efeitos se converte em uma verdadeira experiência sinestésica. Da letargia matinal que inaugura Deadbeat Summer, aos exageros lisérgicos de Should have taken acid with you, cada música espalhada pela obra parece fluir como um resultado dos excessos de seu criador. Essencialmente experimental, mas ainda assim capaz de prender o ouvinte sem grandes dificuldades – vide Terminally Chill e Mind, Drips -, o disco coleciona no uso de harmonias voláteis uma das melhores (e mais chapadas) viagens instrumentais da cena recente.

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New Chain

Small Black
New Chain (2010, Jagjaguwar)

Parte da segunda leva de artistas que definiram a essência  da Chillwave, New Chain, obra de estreia do Small Black, trouxe na busca por um som comercial a ferramenta para o natural crescimento do disco. Ainda que o uso de sintetizadores festivos e a psicodelia melódica dite de forma expressiva os rumos da obra, é na produção de versos plásticos e sonorizações movidas de forma dinâmica que o trabalho realmente se desenvolve. Tendo como princípio a formação de versos marcados pela dor, o álbum segue até o último instante em um efeito de plena relação entre as músicas, o que converte o disco em um imenso bloco de sons homogêneos. Na contramão de outros projetos próximos – normalmente centrados na figura de um único indivíduo -, New Chain é resultado da atuação em conjunto de cada membro da banda, o que garante ao ouvinte um catálogo muito maior de experiências instrumentais e um ponto de distanciamento em relação ao que define outros registros próximos.

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Toro Y Moi

Toro Y Moi
Underneath The Pine (2011, Carpark)

Longe do cenário limitador e naturalmente tímido proposto para Causers Of This (2010), Chaz Bundick resolveu experimentar com o segundo registro em estúdio do Toro Y Moi. O resultado dessa passagem por ambientes específicos e que esbarram na Psicodelia, Soul e até IDM está no universo próprio de Underneath The Pine (2011). Nada ponderado em relação ao álbum que o precede, o registro se espalha em meio a vocais melódicos, emanações típicas da música pop, além, claro, de uma presença muito maior dos instrumentos – manifestação quase inédita nos primeiros lançamentos do músico e outros projetos do gênero. Estão lá canções conduzidas pela melancolia (Before I’m Done), declarações de amor (Go With You) e até faixas que manifestam todo o teor radiante do projeto (How I Know). Sem amarras e (quase) livre do caráter Lo-Fi, o disco segue até o último instante em uma coleção de faixas que aproximam o toque hipnagógico que define o gênero do grande público, resultado explícito na boa repercussão em torno do álbum e na forma como o trabalho se mantém estável até o último segundo.

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Washed Out

Washed Out
Paracosm (2013, Sub Pop)

Enquanto Within and Without (2011) é uma obra entregue ao sexo, Paracosm é a abertura para um cenário paradisíaco e ainda mais amplo do que a estreia do Washed Out. Detalhado pelo uso aconchegante de sintetizadores, a mística obra de Ernest Greene arrasta o espectador para um cenário colorido, habitado por criaturas selvagens, plantas tropicais e sonorizações lisérgicas. É quase possível sentir a brisa ou as ondas do mar batendo nos pés enquanto o álbum se desenvolve. Nada tímido e ainda assim comportado em relação ao registro que antecede, o trabalho encontra na psicodelia em cruzamento com o Dub um ponto de renovação para a estética Chillwave. São composições densas e marcadas pelo detalhe que encontram nas vocalizações (quase) limpas um fluxo pop. Carregado de faixas acessíveis, caso de Don’t Give Up, It All Feels Right e Great Escape, o álbum mantém na homogeneidade um ponto explícito de evolução em relação a outros projetos.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.