10 Discos Para Gostar de Dream Pop

/ Por: Cleber Facchi 28/06/2013

10 Discos Para Gostar de Dream Pop

Subgênero do Rock e um verdadeiro condensado de referências que se acumulam desde o fim da década de 1960, o Dream Pop encontrou na música sombria dos anos 1980 uma morada segura. Casa de bandas veteranas como Cocteau Twins e artistas recentes como Beach House, o estilo se caracteriza pelo uso de melodias compactas, vozes etéreas e guitarras que desaceleram a aspereza do Shoegaze de forma a fluturar. Terceiro especial da nossa série de textos para quem pretende se aventurar em gêneros musicais específicos, separamos dez obras fundamentais que atravessam quase três décadas de produção musical e chegam ao presente. Depois de Dubstep e Ambient Music, é a vez de conhecer (ou redescobrir) 10 Discos Para Gostar de Dream Pop:

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Beach House

Beach House
Teen Dream (2010, Sub Pop)

Em  crescimento desde as primeiras composições, a dupla Beach House fez dos dois registros iniciais um preparativo para o que surge com leveza e perfeição na estrutura de Teen Dream. Terceiro disco da parceria entre Victoria Legrand e Alex Scally, o álbum praticamente se desfaz nos ouvidos, tamanho o cuidado com o qual a dupla tece o aveludado instrumental que se desenrola pela obra. Tendo nos vocais de Legrand um instrumento guia, Scally faz com que batidas, guitarras esvoaçantes e principalmente sintetizadores circundem as vocalizações da parceria, resultando em um composto de plena agrabilidade musical. Mais do que uma representação particular do universo de referências do casal, Teen Dream é um disco que se entrega ao propósito radiofônico e toques nada tímidos de música comercial. São faixas da plena manifestação etérea (Walk in the Park), composições que brincam com os instrumentos (Real Love), além de canções que se derretem instrumentalmente (Zebra), mas que dançam por entre versos e sons de pleno invento acessível. Um esforço inteligente em experimentar, mas sem jamais se distanciar do público.
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Broadcast

Broadcast
Haha Sound (2003, Warp)

A julgar pelo lançamento cada vez menor de registros e a busca por uma frente de novos estilos, no começo dos anos 2000 qualquer álbum voltado ao Dream Pop parecia de forma bastante natural preso ao passado. Parcos representantes de um gênero esquecido e que buscavam se sustentar em meio a velhos acertos redundantes. Longe de repetir fórmulas ou construir um trabalho centrado em composições desgastadas, em 2003 James Cargill e os parceiros do Broadcast deram vida ao clássico Haha Sound, obra que não apenas parecia perverter as bases do gênero, como dava novo sentido à ele. Longe de se afundar em composições letárgicas e camadas suaves de distorção, o músico e a sequência mutável de colaboradores vão em busca de pequenos experimentos. Ora centrado em marcas específicas do Krautrock, ora sustentado reformulações eletrônicas de nítido invento, o disco cresce em uma medida particular da banda, um encontro esquizofrênico entre marcas talvez esquecidas do passado com inventos raros e centrados no presente.

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Cocteau Twins

Cocteau Twins
Heaven or Las Vegas (1990, 4AD)

Elizabeth Fraser e os parceiros Robin Guthrie e Will Heggie haviam passado boa parte da década de 1980 explorando melodias etéreas e vocais flutuantes que praticamente transformaram o Cocteau Twins em uma passagem para um universo paralelo. Entretanto, foi só com o lançamento de Heaven or Las Vegas, em setembro de 1990, que o trio escocês conseguiu alcançar um ponto de aprimoramento e plena compreensão da própria arte. Sem fugir do enquadramento sombrio que haviam testado anos antes, porém, tratando de cada composição como um objeto de pleno detalhe, a banda assume em cada música um tratamento sonoro invejável. Registro de extrema influência para o que orienta o trabalho de artistas recentes como Julianna Barwick, Grimes, Julia Holter ou qualquer outra desbravadora da música experimental, o trabalho acumula desde a faixa de abertura Cherry-Coloured Funk, passando por Iceblink Luck, Pitch the Baby e demais canções um alinhamento primoroso de vozes e sons, exercício que nem a própria banda seria capaz de superar.

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Galaxie 500

Galaxie 500
On Fire (1989, Rough Trade)

As texturas densas de guitarras, os vocais abafados e as letras consumidas pela dor fazem de On Fire uma das obras mais importantes rock alternativo. Segundo registro em estúdio do trio Galaxie 500, o álbum é ao lado de Psychocandy do The Jesus and Mary Chains e Loveless do My Blood Valentine um marco do Dream Pop e de todas as transformações que “sujaram” o cenário musical da época com distorções imedidas. Seguindo a proposta inaugurada com o disco Today (1988), o registro é o ponto de maior transformação dentro da curta, porém inventiva trajetória da banda. Dono de algumas das composições mais delicadas (e naturalmente dolorosas) da discografia do trio – como Blue Thunder, Tell Me e When Will You Come Home -, o trabalho se sustenta em um jogo de composições acinzentadas, faixas capazes de ressaltar o que há de mais sombrio nos sentimentos humanos. Livre de quaisquer exageros instrumentais, On Fire parece amarrar todas as canções em um imenso bloco de som, acerto que faz do registro um dos trabalhos mais influentes de todos os tempos.

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Mazzy Star
Mazzy Star
So Tonight That I Might See (1993, Capitol)

Artistas com foco no rock alternativo se transformaram nos principais alvos de qualquer gravadora no começo da década de 1990. Fossem elas gigantes ou independentes, todas queriam ter seu novo Nirvana, Pixies ou qualquer que fosse a banda da estação. Abocanhada logo em começo de carreira pela gigante Capitol, a dupla Mazzy Star encontrou tempo e conforto nos braços do selo para em 1993 apresentar o delicado So Tonight That I Might See. Segundo registro da carreira da banda comandada por David Roback e Kendra Smith, o trabalho se divide entre distorções leves e temáticas acústicas tomadas de confissões, proposta que preenche cada espaço do álbum até o último instante. Praticamente desprezado pelo grande público, o disco e toda a discografia restante da banda só foram descobertos no começo dos anos 2000, o que até contribuiu para o regresso da dupla, em hiato desde o fim dos anos 1990.

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Mercury Rev

Mercury Rev
Deserter’s Song (1998, V2)

Formado ao final dos anos 1980, o Mercury Rev passou boa parte da década seguinte em busca de um resultado de natureza complexa e próximo da perfeição, efeito que o grupo só seria capaz de alcançar em 1998 com Deserter’s Song. Quarto registro em estúdio da banda, o álbum é uma curiosa interpretação da psicodelia e realces do Chamber Pop firmados na década de 1960, um jogo de cores e sons que ao se encontrarem com as vozes de Jonathan Donahue fazem o ouvinte flutuar. Atento de forma clara aos detalhes, o álbum traz pianos, arranjos de cordas, sopros e toda uma carga surpreendente de sons sendo acomodados em uma cama suntuosa de orquestrações. Músicas como Tonite It Shows, que vão do comportado ao grandioso em segundos, ou canções como Opus 40, que crescem além de qualquer limite anteriormente proposto pela banda. Obra mais completa de toda a discografia da banda norte-americana, Deserter’s Song ocupa um espaço isolado na produção musical da década de 1990, sendo uma peça rara mesmo dentro do catálogo de obras focadas no Dream Pop.

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Mojave 3
Mojave 3
Ask Me Tomorrow (1995, 4AD)

Formado em meados da década de 1990, o coletivo inglês Mojave 3 parecia ser uma fina representação de tudo o que foi estabelecido nos anos 1980. Abençoado pelos ensinamentos de Ivo Watts-Russell (This Mortal Coil) e capaz de resgatar elementos específicos do trabalho do Galaxie 500, a banda londrina fez do primeiro registro em estúdio uma espécie de retrospecto involuntário e ainda assim criativo. Tratado em cima de um esforço de plena morosidade e dor, Ask Me Tomorrow transforma todas as faixas arquitetadas pelo grupo em um composto único. Vozes que se derretem, guitarras capazes de desenvolver imensos cenários musicais, além de um composto detalhista de acréscimos que borbulham ao fundo de cada canção. Base para o que impulsiona o trabalho de artistas recentes como Beach House, o disco é a representação coesa de uma banda que partilha coletivamente cada experiência que alimenta o álbum.

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The Church

The Church
Starfish (1988, Mushroom)

Banda querida de um público muito específico de ouvintes, o The Church trilhou boa parte da década de 1980 se esquivando das preferências e incorporações instrumentais que alimentaram a música australiana durante o período. Habitantes de um cenário pontuado pela delicadeza dos arranjos e guitarras que tocavam de leve a psicodelia, a banda alcançou em Starfish de 1988 o exemplar mais criativo de uma carreira que se expande até os dias atuais. Brincando com as vozes em coros comportados, o grupo traz em músicas como Under the Milky Way, Lost e Destination um propósito que jamais foge de uma bem delimitada atmosfera. Por vezes próximo de diversas características que abasteceram o Pós-Punk no mesmo período, o álbum gravado em Los Angeles e com produção de Waddy Wachtel é um reduto natural para as melancolias de seus componentes. Nostálgico, o disco parece ser a representação de um período temporal muito específico, mas que traz no cuidado dos arranjos uma plena relação com o presente.

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This MOrtal Coil
This Mortal Coil
It’ll End In Tears (1984, 4AD)

Fundador do selo 4AD – casa de bandas como Pixies, Deerhunter e outros grandes nomes da cena alternativa -, Ivo Watts-Russell é antes de tudo um músico versátil e profundo interessado nas transformações da música clássica. Grande expoente da música Gótica e do Dream Pop na década de 1980, o britânico é responsável por estabelecer as bases para diversos projetos do gênero, fazendo dos inventos com o This Mortal Coil uma representação segura de tudo o que alimenta o estilo ainda hoje. Formado no começo da década e em plena atuação até o início dos 1990, o grupo serviu de morada para diversos artistas da cena inglesa, músicos que fizeram do debut It’ll End In Tears um condensado doloroso de melodias e sentimentos. Interpretado por diferentes vozes e sutil na forma como os instrumentos são espaçados pelo disco, o álbum segue até o último instante deslizando por entre harmonias de pianos, vocais soturnos e toda uma ambientação que parece coerentemente relacionada com a produção musical do período. Em 1986 Watts-Russell e os parceiros viriam com Filigree & Shadow, uma obra ainda mais sombria do que o reverenciado debut.

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Youth Lagoon
Youth Lagoon
Wondrous Bughouse (2013, Fat Possum)

O medo de envelhecer, a melancolia e a corrupção mental pela loucura servem como base para o trabalho de Travor Powers em Wondrous Bughouse. Segundo registro em estúdio pelo Youth Lagoon, o álbum é uma continuação amarga do cenário implantado previamente em The Year of Hibernation (2011), registro de estreia do músico e um habitat natural para pequenas desilusões. Traduzido em uma medida hipnótica de sintetizadores psicodélicos, vozes submersas em efeitos e ruídos que parecem encaixados de forma a aterrorizar a mente do jovem compositor, o álbum é uma plena representação da presente fase do Dream Pop, gênero que ultrapassa as bases sombrias firmadas na década de 1980 para se aproximar de uma carga de novas referências. De manifestação sublime em toda a extensão, o álbum cresce em um jogo de composições essencialmente guiadas pelo sofrimento, propósito musical que se apodera de faixas como Mute, Sleep Paralysis e principalmente a épica Dropla.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.