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Críticas

Baths

: "Obsidian "

Ano: 2013

Selo: Anticon

Gênero: Eletrônica, Glitch Pop, IDM

Para quem gosta de: Shlohmo, Groundislava e The Postal Service

Ouça: Incompatible, No Eyes e Ironworks

8.6
8.6

Resenha: “Obsidian”, Baths

Ano: 2013

Selo: Anticon

Gênero: Eletrônica, Glitch Pop, IDM

Para quem gosta de: Shlohmo, Groundislava e The Postal Service

Ouça: Incompatible, No Eyes e Ironworks

/ Por: Cleber Facchi 06/05/2013

O tempo trouxe apenas benefícios e maturidade ao trabalho de Will Wiesenfeld. Onde havia luz, o produtor tratou de preencher com trevas, o que era gracioso se transformou em amargura e os encaixes sutis de Cerulean (2010) hoje dão vida ao plano obscuro de Obsidian (2013, Anticon). Segundo registro em estúdio do californiano à frente do Baths, o álbum traz de volta elementos específicos da produção eletrônica da década passada. Uma medida instável de batidas eletrônicas que se fragmentam a todo o instante, sintetizadores derramados em texturas ambientais e vocais que dançam de acordo com a essência ruidosa da obra, tudo enquadrado em um cenário de pleno sofrimento.

Trabalhado como uma extensão sombria e praticamente contraditória de tudo o que o produtor testou há três anos, o novo álbum trata de cada camada instrumental dissolvida pelo registro como um habitat para referências tocadas pelas sombras. Nada do que orienta o presente trabalho de Wiesenfeld parece íntimo dos mesmos gracejos solares encontrados em Lovely Bloodflow, ♥, Maximalist e demais composições concentradas no último trabalho. Pelo contrário, da capa soturna aos versos consumidos pela dor, tudo assume uma direção oposta ao que apresentou o produtor.

Reverberando marcas específicas do que foi alcançado em projetos como Boards of Canada, The Postal Service e até no Radioheadpós-Kid A, Wiesenfeld faz do novo álbum um ponto consistente em relação a tudo o que fora construído com o primeiro disco. Enquanto o debut parecia alimentado pela colagem de diferentes atributos eletrônicos, com o novo álbum o produtor mantém constante a proximidade entre as faixas. Dessa forma, mesmo que a relação com obras como Geogaddi (2002) e Give Up (2003) seja constante – principalmente na forma como os vocais são trabalhados -, é possível afirmar que em Obsidian residem marcas específicas do universo de Baths.

A constante proximidade instrumental que conduz as faixas em nenhum momento evita que o produtor deslize por ruídos e alterações constantes de percurso. Bastam faixas como No Past Lives e No Eyes para perceber os pequenos ambientes instáveis que Wiesenfeld deixa crescer por todo o trabalho, prendendo o ouvinte em um oceano de experimentos controlados. Mesmo nos pontos mais comerciais do trabalho, como Miasma Sky e Ironworks, Baths em nenhum momento se ausenta da necessidade de costurar referências excêntricas e pouco convencionais, propósito ampliado no uso constante de samples que vão do barulho da chuva caindo até conversas.

Se inovação e maturidade preenchem a instrumentação que recheia a obra, no que tange o aproveitamento das letras, Wiesenfeld segue exatamente de onde parou há três anos. Enquanto parte significativa do trabalho anterior parecia centrada na construção de músicas apaixonadas, consumidas de forma honesta pelo amor e a saudade com extrema leveza, hoje o californiano revela um lado oposto desse cenário. Boa parte das faixas de Obsidian são alimentadas por um constante sentimento de desprezo, pessimismo e sofrimento, como se a mente do produtor fosse consumida lentamente pela dor, resultando de forma natural na execução de músicas como Incompatible e Earth Death.

Contrário do que movia toda a extensão de Cerulean, em Obsidian Will Wiesenfeld parece ambientar o registro dentro de uma massa única de som. Cada faixa impulsiona a canção seguinte – mesmo que os pequenos experimentos pervertam essa lógica por diversos momentos. Acima de tudo, o registro serve como uma morada para os sentimentos do produtor, que temporariamente consumido pela melancolia, faz do trabalho um abrigo para o que há de mais doloroso em sentimentos particulares ou que se relacionam diretamente com o próprio ouvinte.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.