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Crítica

Billy Woods

: "Aethiopes"

Ano: 2022

Selo: Backwoodz Studioz

Gênero: Hip-Hop, Rap, Experimental

Para quem gosta de: MF Doom e Arman Hammer

Ouça: Asylum e Remorseless

8.0
8.0

Billy Woods: “Aethiopes”

Ano: 2022

Selo: Backwoodz Studioz

Gênero: Hip-Hop, Rap, Experimental

Para quem gosta de: MF Doom e Arman Hammer

Ouça: Asylum e Remorseless

/ Por: Cleber Facchi 12/08/2022

Seja nos trabalhos em carreira solo, encontros com diferentes parceiros e incontáveis projetos paralelos, Billy Woods em nenhum momento parece seguir pelo caminho mais fácil. Perto de completar duas décadas de carreira, o rapper nova-iorquino continua a tensionar os limites da própria obra em busca de um resultado marcado pela provocação e permanente senso de ruptura. Canções que partem sempre de uma estrutura conceitual pré-estabelecida pelo artista em estúdio, mas que seguem por vias pouco usuais, proposta que vai da construção das rimas ao sempre inusitado uso das batidas e temas instrumentais.

Primeiro trabalho de Woods em carreira solo desde a sequência formada por Hiding Places (2019) e Terror Management (2019), Aethiopes (2022, Backwoodz Studioz) é um bom exemplo desse resultado. Tendo como ponto de partida o conceito de negritude, o rapper estadunidense atravessa séculos de conteúdo historiográfico em uma minuciosa análise sobre a diáspora das comunidades africanas e a forma como os colonizadores europeus moldaram a ideia sobre o que é ser uma pessoa preta. O próprio título da obra vem do termo empregado pelos gregos ao se referir aos povos do Alto Nilo e agrupamentos subsaarianos.

Conceitualmente, é uma das ideias mais complexas que já tentei abordar em um álbum. São muitas ideias, grandes e pequenas, de uma profundidade significativa. Acho que, para mim, há muita coisa acontecendo sobre a negritude como uma ideia, a África como uma ideia, a África como uma realidade“, disse Woods em entrevista ao site Fader. E isso fica bastante evidente durante toda a execução do material. Do momento em que tem início, em Asylum, cada mínimo fragmento do disco parece concebido a partir do delirante atravessamento de informações, quebras e sedimentação dos elementos, marca das criações do rapper.

São retalhos instrumentais e bases retorcidas que mudam de direção a todo instante, porém, preservam a clareza do discurso e potência das rimas de Woods. Exemplo disso acontece em Sauvage, composição em que reflete sobre “o fardo do fomem branco” e a forma como os colonizadores europeus justificaram o processo de invasão ao continente africano como forma de “domesticar” a população local. Esse mesmo caráter contestador acaba se refletindo de forma ainda mais ampla em Remorseless, canção que trata da deturpação de símbolos e do apagamento de diferentes povos colonizados por meio do capitalismo.

Dentro desse espaço marcado pelo permanente cruzamento de informações e referências que vão da imagem de capa, um fragmento da pintura “Dois Mouros” (1661), de Rembrandt, ao refinamento dado às rimas, Woods aproveita para estreitar a relação com novos e antigos colaboradores. Sexta faixa do disco, Nynex funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto a base da canção conta com assinatura de DJ Preservation, parceiro durante toda a execução do material, nomes como Quelle Chris, Denmark Vessey e Elucid, uma das metades do Armand Hammer, ampliam os limites da composição.

É como uma extensão natural de tudo aquilo que Woods tem desenvolvido ao longo da última década, vide a riqueza de detalhes e amadurecimento explícito em obras como History Will Absolve Me (2012) e Known Unknowns (2017). A diferença em relação aos trabalhos que o antecedem, incluindo os recentes encontros com Moor Mother e Elucid, está no forte caráter homogêneo de Aethiopes. Composições que utilizam de uma abordagem essencialmente disforme, porém, consistentes com o processo criativo e temática que conduz de forma bastante singular o direcionamento do registro durante toda a execução das faixas.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.