Disco: “Old Ideas”, Leonard Cohen

/ Por: Cleber Facchi 27/01/2012

Leonard Cohen
Canadian/Singer-Songwriter/Folk
http://www.leonardcohen.com/

 

Leonard Cohen talvez seja um dos artistas vivos com uma das carreiras mais consistentes da história da música moderna. Com os trabalhos iniciados em 1956, o músico canadense soube desenvolver como poucos uma discografia magra, porém, decisiva. Em mais de meio século de atuação o cantor chega apenas agora ao décimo segundo disco de sua riquíssima carreira, um catálogo curto, porém capaz de concentrar alguns dos mais importantes trabalhos de todos os tempos – como o clássico Songs of Love and Hate, de 1971. Talvez por conta desse conjunto de acertos, ouvir cada novo trabalho do artista seja um grande acontecimento, algo que Cohen reforça mais uma vez com a chegada do soturno Old Ideas.

Lançado após um recesso de oito anos – o último disco do músico foi também ótimo Dear Heather de 2004 -, o presente trabalho reforça mais uma vez os elementos tradicionais da obra do músico, como a instrumentação econômica, o lirismo doloroso e, principalmente, a voz cada vez mais marcante de Cohen. Hoje com 77 anos, o canadense tem os vocais firmes de outrora entalhados pela ação do tempo, soando de forma muito mais densa e áspera, garantindo assim um significado naturalmente penoso aos versos românticos e todas as sensações ressaltadas pelo músico.

Quase sempre enquadrado como uma figura solitária em um palco com poucas luzes, Cohen passeia ao longo de todo o registro esboçando justamente essa mesma imagem, sendo rodeado por percepções obscuras e uma instrumentação diminuta que reforça ainda mais esse aspecto. Com mais de 40 minutos, o álbum evidencia a todo tempo a imagem de um personagem solitário, uma figura que mesmo dotada de ampla percepção sobre a vida e todos os sentimentos que a entrecortam, acaba se revelando de forma atemporal, como um triste e honesto viajante de eras.

Por conta do tempo em que teve para entalhar cada uma das dez faixas do álbum – embora gravado entre janeiro e agosto do ano passado, algumas faixas vieram se acumulando com o passar dos anos -, Cohen acaba revelando um trabalho que se manifesta essencial em todos os aspectos. Todas as faixas são necessárias, exploradas de forma delicada e banhadas por uma instrumentação sublime, mas que nunca se sobrepõem aos vocais do cantor. Dessa forma, Old Ideas soa como um típico trabalho do canadense no ápice da década de 1970, ao mesmo tempo em que revela particularidades nunca antes evidenciadas pelo músico.

Conforme o trabalho se desenvolve, somos lentamente encaminhados pelas diversas “personagens” incorporadas por Cohen. Enquanto Amen e Show Me The Place com seus coros de vozes e instrumentação não econômica reforçam o lado religioso do cantor, Darkness – conduzida pela voz forte do músico – reforça o lado “maligno” do canadense. O romantismo por sua vez, acaba claramente exposto em Crazy To Love You, percepção também exposta em Lullaby, que traz a instrumentação mais rica e distinta do trabalho, pendendo suavemente para o cancioneiro country norte-americano.

Poeta e músico, Ed Sanders é quem assume com perspicácia a produção do trabalho. Confesso adorador da obra de Cohen, o americano é responsável por manter a mesma sonoridade e o tom confessional dos primeiros álbuns do canadense, resultando em um trabalho que conversa a todo o momento com o passado, ao mesmo tempo em que preenche a obra do músico com pequenos ineditismos. Como o próprio nome já diz, Old Ideas é um trabalho que evoca velhas experiências do cantor, muito embora boa parte delas acabem chegando até nós como criações totalmente novas e primorosamente inéditas.

Old Ideas (2012, Columbia)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Bob Dylan, Tom Waits e Neil Young
Ouça: Darkness

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/32974013″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.