Disco: “Sees The Light”, La Sera

/ Por: Cleber Facchi 13/04/2012

La Sera
Indie/Female Vocalists/Lo-Fi
http://www.myspace.com/iamkatygoodman

Por: Fernanda Blammer

Katy Goodman parece ter duas versões de si própria. A primeira está claramente delineada ao lado das parceiras do Vivian Girls, banda nova-iorquina que veio de um começo focado na música punk, abraçou o Lo-Fi e por vezes flerta com o Dream Pop em contornos nada flutuantes. A outra metade (ou versão) da norte-americana se manifesta quando ela assume todos os limites do La Sera, projeto em que explora parte das mesmas influências abordadas com sua anterior banda, porém muito mais inclinada ao indie rock praieiro que despertou na produção musical dos últimos anos, cantando sobre amor, melancolias e diversas outras temáticas, todas próximas dela.

Assim como já havia testado no homônimo primeiro álbum – lançado em fevereiro do último ano -, em Sees The Light (2012, Sub Pop), mais recente trabalho da cantora tudo emana um sentimento de nostalgia, um grupo de composições perfumadas ora pela saudade, ora pela paixão. Embora o clima tímido ainda preencha boa parte do registro – uma das características da musicista dentro desse projeto -, ao longo das 10 músicas que representam o álbum tudo se desenvolve de forma melhor estruturada, com a nova-iorquina aproveitando tanto os vocais como as guitarras de maneira muito mais versátil e adulta.

O clima efêmero que se apoderava das canções do último álbum agora é substituído pela construção de um resultado muito mais consistente, tanto em se tratando da instrumentação – que abandona o clima levemente ensolarado de outrora – como dos versos maduros que preenchem o disco. Em relação ao trabalho passado, Katy dá um salto gigantesco, aprimorando a construção de faixas essencialmente melódicas e muito mais detalhistas, fazendo nascer o que se evidencia como uma terceira e talvez até mais interessante identidade da artista.

Talvez os comandos lentos de Love That’s Gone, faixa de abertura do disco, impossibilitem o ouvinte de captar rapidamente todas as mudanças que tomam conta da cantora dentro dessa nova fase. É só a partir da crescente I Can’t Keep You in My Mind que toda a evolução de Goodman se faz visível, com a cantora olhando para a década de 1990 ou mais especificamente para aquilo que Kim Deal (ao lado do Breeders) e Liz Phair desenvolveram. Não há qualquer aproximação referencial ou demasiadamente intensa com essas artistas, apenas uma fina herança que aparece reconfigurada na voz e nos instrumentos assumidos por Katy.

Sees The Light é um álbum longe de quaisquer tipos de exageros. Tudo dentro do registro parece confortavelmente assentado e coerente, com a vocalista apenas passeando de um canto a outro esbanjando pequenos gracejos (Real Boy), momentos de raiva (Break My Heart) e compatíveis doses de solidão (I’m Alone). Oposto do álbum anterior, ou mesmo dos próprios discos lançados ao lado das garotas do Vivian Girls, com o novo registro Goodman não se importa nem um pouco em viajar por entre distintos estilos e décadas musicais, procurando por referências vindas tanto da década de 1960 como do presente momento.

Há no interior do álbum uma soma de diversas possibilidades musicais e caminhos distintos, todos bem delineados e magistralmente concluídos pela cantora. Ao ouvinte, sobra apenas a tarefa de se deliciar por cada um desses diferentes universos, escolhendo se pretende ou não se entregar ao caleidoscópio de amores, desilusões e afagos fornecidos por Katy Goodman, figura que não apenas compartilha todos os sentimentos e pensamentos que a cercam, como faz deles algo próximo de qualquer ouvinte.

 

Sees The Light (2012, Sub Pop)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Frankie Rose, Vivian Girls e Best Coast
Ouça: I Can’t Keep You in My Mind e Real Boy

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.