Disco: “Diver”, Lemonade

/ Por: Cleber Facchi 23/05/2012

Lemonade
Electronic/Indie/Alternative
http://www.myspace.com/bananasandecstasy

Por: Fernanda Blammer

Até a explosão da Chillwave em 2009, trabalhos estrangeiros influenciados pelo clima tropical se apegavam de maneira desengonçada aos ritmos quentes da música brasileira. Entre erros e acertos, vez ou outra era possível encontrar algum registro acima da média, trabalhos que mesmo capazes de manter uma linearidade, se deixavam influenciar por uma aura clichê e até limitada quando observada do ponto de vista tupiniquim. Entre os poucos que conseguiram manter a boa condução até o fim estava o trio californiano Lemonade, grupo que mesmo responsável por um disco inteligente e poderoso, acabou passando batido, descobertos apenas por uma mínima parcela de ouvintes.

Talvez por isso, há algumas semanas quando as primeiras faixas do caloroso Diver (2012, True Panther Sounds) caíram na rede, uma onda de fanáticos por música correu em buscas de subsídios sobre a tríade norte-americana. Os mais atentos provavelmente já haviam feito isso assim que as primeiras informações sobre Ilhabela, novo álbum do Holger produzido Alex Pasternark (um dos membros do trio) surgiram. Entretanto, mesmo aos despreparados e novos espectadores, a banda reformula o recente álbum em uma espécie de introdução, um exercício inteligente e que transforma em novo as mesmas experiências testadas por eles há quatro anos.

Menos eufórico que o registro passado – um homônimo álbum de seis faixas lançado em 2008 –, Diver se divide entre composições mais climáticas e outras prontas para as pistas. Uma mistura dicotômica que não apenas funciona dentro do registro, como consegue movimentar todas as faixas até o encerramento da obra. Entre beats eletrônicos, teclados enevoados e guitarras brandas, a tonalidade do novo disco muito se assemelha ao que fora testado pela banda sueca Air France há alguns anos – dentro do álbum No Way Down. O que separa o trio californiano da extinta dupla europeia é justamente o tempero tropical, referência que abandona os batuques de outrora – muito presentes em faixas como Big Weekend – e parecem dissolvidos de maneira suave e muito mais coesa.

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Além das aproximações com o som tropical-suingado da música brasileira e com as referências doces propostas pelo duo sueco, quem também deixa marcas visíveis dentro do álbum é o grupo espanhol Delorean. Há tempos parceiros do trio de São Francisco – inclusive fazem parte do mesmo selo -, o quarteto de Zarautz, Espanha imprime traços marcantes e fundamentais no interior do novo disco, algo que a funcionalidade levemente etérea de músicas como Eye Drops, Vivid e principalmente Sinead traduzem de forma quase conceitual, um resultado muito próximo do que definiu o elogiado Subiza, melhor e mais completo álbum da banda catalã, lançado em 2010.

Entre incontáveis referências, curioso notar como o trio – completo com a presença de Callan Clendenin e Ben Steidel – consegue alcançar uma sonoridade própria com o passar das faixas. Distante das experimentações (por vezes exageradas) do primeiro disco, Diver permite que os vocais aflorem no centro do novo registro, resultando em um tratado muito mais próximo do público e consequentemente capaz de ampliar o número de seguidores da banda. Todavia, contrário do que músicas como Neptune e Softkiss já haviam antecipado, são raros os momentos onde as canções alcançam uma sonoridade mais extensa e popular dentro do álbum, estratégia que mantém certa dose de autocontrole, fazendo com que a banda cresça, mas ainda se mantenha próxima do nicho que há tempos a acompanha.

Mais do que um registro perfeito para um dia de sol à beira mar, Diver rompe com o limite das estações ou climatizações específicas, surgindo como um trabalho diversificado, perfeito para os mais diversos gostos e situações. Ora dançante, ora experimental, o disco funciona não somente como um ponto de maturidade do Lemonade, como parece ser a resposta mais exata para o que deve acontecer com grupos como Neon Indian, Toro Y Moi, Washed Out e tantos outros pelos próximos anos.

Diver (2012, True Panther Sounds)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Delorean, Holger e Air France
Ouça: Sinead, Neptune e Vivid

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.