Image
Críticas

Blue Hawaii

: "Untogether"

Ano: 2013

Selo: Arbutus

Gênero: Dream Pop, Eletrônica

Para quem gosta de: Grimes e Purity Ring

Ouça: InTwo II e Try To Be

8.0
8.0

Resenha: “Untogether”, Blue Hawaii

Ano: 2013

Selo: Arbutus

Gênero: Dream Pop, Eletrônica

Para quem gosta de: Grimes e Purity Ring

Ouça: InTwo II e Try To Be

/ Por: Cleber Facchi 18/01/2013

O lançamento de Visions no último ano teve um papel significativo na transformação do panorama canadense. Mesmo que o segundo álbum de Grimes pareça se fechar dentro de um universo próprio, quase como uma materialização musical das estranhezas que habitam a mente de sua idealizadora, a mistura conceitual entre o pop e a eletrônica abre espaço para muito do que define a atual cena de onde veio a artista. Cercada por nomes como Blood Diamonds, Doldrums, Majical Cloudz, e demais amantes dos inventos eletrônicos, Claire Boucher parece dar inicio a maior transformação musical desde os temas orquestrais difundidos pelo Arcade Fire na década passada.

Também partidários da mesma proposta pop-experimental construída por Boucher e demais representantes da nova música canadense, Alexander Cowan e Raphaelle Standell-Preston (ou Agor e Raph como costumam se apresentar) dão vida ao Blue Hawaii, projeto que encontra no uso de ambientações vocálicas a abertura para um mundo de inventos conceituais que jamais tendem ao óbvio. Mantendo a eletrônica como um estímulo leve para as cargas densas de vozes que se espalham na execução de Untogether (2013, Arbutus), o casal deixa crescer uma obra que prima essencialmente pelo minimalismo, estabelecendo um campo de atuação em que o detalhe e a sobreposição de elementos mínimos jamais abraçam o excesso.

Se a construção de Visions, Shrines ou demais projetos recentes se concentram na forma como sintetizadores e batidas são alinhados de forma a estimular a audição do ouvinte, em Untogether o gancho está na voz. Tratando da herança de Kate Bush, Björk ou mesmo de artistas recentes como Julianna Barwick, Raphaelle (que ainda é uma das integrantes do Braids) dança solitária enquanto o parceiro passeia ao seu redor, encaixando pequenas referências sintéticas de forma a adornar as suavizadas formas de som expressas pela artista. É como se a delicadeza de The Magic Place (2011) fosse engrandecida por pequenas doses de preferências eletrônicas que trazem distinção à obra. Entretanto, mesmo a mais sublime alteração, jamais altera o curso conciso do álbum, que até a última música fixa um encaminhamento de extrema proximidade entre as músicas.

Desde a primeira faixa impulsionado pela maneira como os vocais reverberam brandos e hipnóticos,o álbum vai ao longo de suas composições permitindo que pequenas referências instrumentais de gêneros diversos ganhem destaque. Enquanto In Two II absorve de maneira particular as vozes e o ritmo próprio do R&B, Daisy e as batidas matemáticas que envolvem a composição aproximam o disco de um novo resultado. Realçando os mesmos encaixes e batidas que se fragmentam na discografia do Four Tet, a canção abre espaço para que Cowan apareça com o mesmo destaque que a parceira, picotando os vocais de Standell-Preston de forma a transformá-los em um instrumento para a construção da faixa.

Obra de difícil compreensão, Untogether parece alterar suas preferências em cada faixa – tudo isso sem jamais desviar a proposta climática que tanto caracteriza o álbum. Se a abertura ao som de Follow deixa fluir a estrutura abstrata da obra, Try To Be apresentada logo em sequência muda completamente essa proposta, transitando entre o Goldfrapp do álbum Seventh Tree e o Toro Y Moi do disco Causers Of This. Até a execução da última música o casal ainda percorre as climatizações exóticas do Trip-Hop (Flammarion), a morosidade da ambient music (Reaction II) e até mesmo a eletrônica em seus instantes mais “convencionais” (In Two).

De proposta comportada e necessária entrega para uma completa absorção da obra, Untogether revela seus segredos em pequenas doses. Mesmo evitando a todo o custo uma alteração brusca na maneira como as canções vão se enfileirando, a cada nova composição assinada por Agor e Raph uma variedade rica de preferências sonoras acomodam o disco em um cenário distinto, ampliando de maneira por vezes imperceptível as possibilidades do casal. Ora voltado à eletrônica, ora entregue ao flutuar do Dream Pop, isso sem jamais abandonar a capa experimental, o disco dá continuidade a tudo que há de mais complexo e ainda assim atrativo na música recente, e não apenas a que é colhida em solo canadense.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.