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Crítica

Jim Legxacy

: "Black British Music"

Ano: 2025

Selo: XL Recordings

Gênero: Rap

Para quem gosta de: Little Simz e Frank Ocean

Ouça: Father, New David Bowie e Stick

8.0
8.0

Jim Legxacy: “Black British Music”

Ano: 2025

Selo: XL Recordings

Gênero: Rap

Para quem gosta de: Little Simz e Frank Ocean

Ouça: Father, New David Bowie e Stick

/ Por: Cleber Facchi 11/08/2025

Ainda que carregue o título de rapper e execute com excelência sua função, o que Jim Legxacy propõe em Black British Music (2025, XL Recordings) vai além de um único gênero ou proposta criativa. Sequência ao material apresentado em Homeless N*gga Pop Music (2023), o álbum não apenas amplia o catálogo sonoro do artista, como destaca a vulnerabilidade e o evidente amadurecimento explícito na formação dos versos.

Como indicado no próprio título da obra, o trabalho se aprofunda nas vivências de Legxacy como homem negro vivendo no Reino Unido, porém transcende questões políticas e raciais ao mergulhar em faixas que refletem o lado confessional do artista. São composições que abordam temáticas como luto, deslocamento e vulnerabilidade em um exercício criativo tão pessoal do rapper britânico quanto íntimo do próprio ouvinte.

Em 3x, por exemplo, Legxacy reflete sobre a morte precoce da irmã enquanto é consolado pelas rimas de Dave. Já em Father, é a declarada busca por afeto e citações a Mitski que embalam a formação dos versos. Um delicado exercício de exposição emocional que ganha ainda mais destaque em Issues of Trust, canção que ainda destaca o uso de arranjos acústicos e desconstrução do R&B que evoca Frank Ocean e Mk.gee.

De fato, tão importante quanto a sensibilidade das rimas é a fina tapeçaria instrumental que cobre o disco. Enquanto Homeless N*gga Pop Music parecia voltado à construção das batidas, Black British Music revela o lado melódico de Legxacy. A própria sequência formada por Stick e New David Bowie, logo na abertura do trabalho, sintetiza de maneira eficiente a riqueza de detalhes, arranjos e sonoridade que orienta o registro.

Surgem ainda criações bastante curiosas, como 06 Wayne Rooney, um pop rock com pitadas de emo que faz lembrar artistas como Bartees Strange e Rachel Chinouriri. Já em Dexters Phone Call, Legxacy se afasta completamente dos holofotes para destacar o uso das vozes de Dexter In The Newsagent. Nada que pareça prejudicar a construção das rimas, conceito reforçado em D.B.A.B. e outras faixas no decorrer do material.

Embora bem resolvido em conceito e execução, Black British Music nem sempre sustenta o mesmo grau de inventividade que marca os momentos mais ousados da obra. Músicas como Big Time Forward, S.O.S. e Sun soam excessivamente fáceis, quase genéricas, incapazes de repetir a complexidade emocional que embala a maior parte do disco. Ainda assim, são exceções em um trabalho que consolida Legxacy como um artista em contínua expansão criativa, disposto a testar limites e questionar certezas dentro da própria estética.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.