Ano: 2025
Selo: Sonamos
Gênero: Art Pop, Experimental
Para quem gosta de: Lucrecia Dalt e Mabe Fratti
Ouça: La Paradoja, Siestas Ahí e Miro Todo
Ano: 2025
Selo: Sonamos
Gênero: Art Pop, Experimental
Para quem gosta de: Lucrecia Dalt e Mabe Fratti
Ouça: La Paradoja, Siestas Ahí e Miro Todo
Passagem para um universo particular, Doga (2025, Sonamos) concentra o que há de melhor no trabalho de Juana Molina. São faixas que exploram estruturas sem ganchos tradicionais, letras enigmáticas e o uso de ambientações sonoras sempre inquietantes. Um delirante atravessamento de informações, mas que em nenhum momento sufoca o humor peculiar da musicista, proposta que vai da imagem de capa aos temas.
Primeiro trabalho de estúdio da cantora e compositora argentina em oito anos, o registro nasce das mais de trinta horas de improvisos que Molina desenvolveu em conjunto com o tecladista Odín Schwartz. A própria artista pensou em lançar o material como um álbum triplo, porém encontrou na produção de Emilio Haro um precioso poder de síntese que preserva a grandeza do vasto repertório, mesmo reduzido a 55 minutos.
Claro que isso não impossibilita a entrega de exageros conscientes. Exemplo disso fica bastante evidente na derradeira Rina Soi. Escolhida para o encerramento do trabalho, a música de quase dez minutos destaca a habilidade da artista em mergulhar na criação de letras cíclicas que se espalham em meio a ambientações disformes. O mesmo acontece na extensa Miro Todo, ainda mais abstrata, musicalmente etérea e fascinante.
Entretanto, é quando organiza melhor suas ideias que a cantora garante ao público algumas das melhores criações. É o caso de Siestas Ahí, composição que preserva o estranhamento das formas instrumentais sem necessariamente corromper a beleza dos versos que discorrem sobre a intensidade física e emocional do desejo. A própria Uno Es Árbol, na abertura do disco, é outra que encanta pelo estranho equilíbrio criativo.
Sempre imprevisível, Molina se permite até flertar com a música pop. Segunda faixa do disco, La Paradoja exemplifica isso de maneira bastante eficiente. Enquanto sintetizadores sombrios e batidas conduzem em direção às pistas, a compositora estabelece nos versos a metáfora entre cães e gatos para tratar sobre um relacionamento consumido pela culpa, dor e a fluidez do tempo que desestabiliza tudo ao redor do casal.
Naturalmente, por se tratar de uma obra exploratória, como tudo aquilo que define a produção da cantora, nem todos os caminhos percorridos em Doga levam aos melhores destinos. Em músicas como Intrigulado e Va Rara, o excessivo hermetismo poético da compositora torna o material quase inacessível para o ouvinte. Mesmo a base instrumental, gestada no improviso, vez ou outra, não leva a lugar algum. Um exercício torto e, por vezes, incerto, mas que sustenta nessas pequenas oscilações a beleza imprevisível da obra de Molina.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.