Resenha: “Idealizações e Contratempos Que Resultam Em Música”, De Repente, Vivo

/ Por: Cleber Facchi 11/01/2017

Artista: De Repente, Vivo
Gênero: Pós-Rock, Experimental, Indie
Acesse: https://www.facebook.com/derepentevivo/

 

Idealizações e Contratempos Que Resultam Em Música é um trabalho precioso. Do momento em que tem início O Idealista, faixa de abertura do disco, cada fragmento da música produzida pelo cantor, compositor e multi-instrumentista gaúcho Juliano Lacerda se projeta de forma a confortar o ouvinte. Ambientações sutis, guitarras etéreas, sempre minimalistas, ponto de partida para a construção de cada uma das composições que recheiam o primeiro grande registro do projeto De Repente, Vivo.

Produto do isolamento do músico gaúcho, responsável pelos instrumentos, vozes e mixagem do trabalho, o registro de oito faixas revela um claro amadurecimento em relação ao EP de cinco faixas apresentado por Lacerda em 2015. Livre do parcial experimento e ziguezaguear de ideias que marcam o curto registro, cada canção do presente álbum serve de estímulo para a música seguinte, resultando na construção de um álbum homogêneo, mesmo rico em detalhes e possibilidades.

Entre temas acústicos e sobreposições eletrônicas, sempre próximas da música ambiental, Idealizações e Contratempos… encanta pela fluidez tímida e hipnótica dos arranjos. Ainda que a faixa de abertura do disco estreite a relação com o trabalho do Explosions in the Sky e outros representantes de peso do pós-rock, à medida que o álbum avança, novos ritmos e temas instrumentais escapam do som produzido por Lacerda, revelando a identidade do trabalho.

Um bom exemplo disso está na segunda faixa do disco, Se o Sol Não Nos Deixar. Em um intervalo de quase seis minutos, o músico gaúcho detalha uma fina tapeçaria eletrônica, pano de fundo para a inclusão de vozes sintéticas, uma espécie de novo instrumento nas mãos do artista. O mesmo cuidado se reflete ainda em Ecos Em Curto-circuito, quarta faixa do disco. Um jogo de melodias eletrônicas, naturalmente íntimas do trabalho produzido por artistas como Brian Eno, influência confessa de Lacerda.

Na dobradinha Até o Outono Aparecer e Acho Que Me Achei, o uso cuidadoso de elementos acústicos. São movimentos contidos, sempre acolhedores, mas que se abrem para a fina interferência de ruídos eletrônicos e experimentos que parecem saídos de algum trabalho recente do Bon Iver. Mesmo a curtinha Nada?, com pouco mais de dois minutos de duração, reflete o completo esmero do compositor, concentrado em espalhar uma série de fragmentos e acréscimos minimalistas.

Movido pela completa leveza dos arranjos, Idealizações e Contratempos Que Resultam Em Música é um registro que cresce a cada nova audição. Vozes eletrônicas, ambientações oníricas, pinceladas e pequenos encaixes instrumentais. Mesmo repleto de composições acessíveis, caso de O Idealista e Até o Outono Aparecer, sobrevive na complexidade dos arranjos e segredos escondidos no interior da obra o grande charme da música produzida por Lacerda.  

 

Idealizações e Contratempos Que Resultam Em Música (2016, Independente)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Constantina, Sentidor e Rio Sem Nome
Ouça: O Idealista, Até Outono Aparecer e Clarão Dourado

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.