Disco: “Silent Running”, 65daysofstatic

/ Por: Cleber Facchi 16/11/2011

65daysofstatic
British/Post-Rock/Experimental
http://www.65daysofstatic.com/

 

Por: Cleber Facchi

 

Um jardineiro espacial que revoltado com os comandos de seus superiores decide não destruir as últimas amostras da fauna e flora terrestre, buscando por uma solução para salvá-las. Embora simplista esta é a trama que envolve o clássico de Douglas Trumbull Silent Running – ou Corrida Silenciosa no Brasil -, película de ficção científica lançada em março de 1972 e trabalho que serve de inspiração para o mais novo álbum do grupo inglês 65daysofstatic, banda que além de completar dez anos de carreira surge agora com sua mais nova epopeia musical.

Utilizando do mesmo título que dá nome ao filme dos anos 70, o grupo composto por Joe Shrewsbury, Paul Wolinski, Rob Jones e Simon Wright vai aos poucos desenvolvendo uma espécie de trilha sonora alternativa ao longa, entrelaçando através de seu pós-rock volátil uma sucessão de sons sintéticos e elementos musicais embarcados pelo épico. Responsáveis por uma sequência de quatro registros em estúdio – que aos poucos abandonaram suas predisposições ao math rock em prol de um som mais amplo -, o quarteto converte seu novo disco não apenas em uma sincera homenagem ao antigo filme, como garante à ele novo acabamento e quiçá significado.

Se originalmente a película protagonizada por Bruce Dern apresentava uma primorosa trilha arquitetada pelo compositor norte-americano Peter Schickele – claramente inspirado pelo resultado proposto de 2001: Uma Odisséia no Espaço -, para o quarteto inglês temos um completo afastamento de um fluxo musical que possa soar erudito ou demasiadamente pensado dentro dos limites da música clássica. Cada uma das 11 canções que orientam o disco são formalizadas dentro de um universo sonoro puramente futurístico, compondo o que parece ser a trilha sonora exata para o saudoso filme.

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Livre das delongas que por vezes arrastam o pós-rock para dentro dos campos do rock progressivo, o trabalho de pouco mais de 40 minutos – não, ele não segue a exata extensão da película – concentra todos seus esforços na reprodução de faixas rápidas, porém suficientemente capazes de compor o clima atmosférico do filme. Embora similares e partilhando de uma mesma construção instrumental, Silent Running (o disco) acaba se dividindo em dois caminhos bem específicos.

De um lado do trabalho estão canções maquiadas por uma série de elementos puramente sintéticos, algo que logo na segunda faixa do álbum torna-se evidente a partir dos sintetizadores e das programações geradas através de Space Theme, ou mesmo mais à frente através dos recortes complexos de The Scattered Disk. Na contramão surgem faixas delimitadas pelo inverso, valorizando a produção de um som integralmente orgânico e magistral, algo que se representa tanto pela melancolia de Burial Scene, como pela sutileza de Rantaloupe.

Mais do que uma trilha sonora alternativa para um filme pouco conhecido da década de 1970, Silent Running se revela como um trabalho de visível cuidado e o mais puro primor. O delicado catálogo de sons que caracterizam o disco ultrapassa a lógica que se relaciona com a película que o inspira, proporcionando ao ouvinte uma espécie de passeio instrumental intergaláctico sem que você precise tirar seus pés do chão.

 

Silent Running (2011, Dustpunk)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Mogwai, Explosions In The Sky e God Is An Astrounaut
Ouça: Burial Scene e Space Theme

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.