Aquecimento: “Matangi”, M.I.A.

/ Por: Cleber Facchi 18/09/2013

Por: Cleber Facchi

M.I.A.

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Duas obras fundamentais para o catálogo de registros que marcam os anos 2000, e um tropeço. Em pouco menos de uma década de carreira, a rapper britânica Mathangi Arulpragasam, a M.I.A., foi da ascensão – Arular (2005) e Kala (2007) – à queda – /\/\ /\ Y /\ (2010) – em poucos instantes. O que antes era a morada para versos consumidos pelo teor político, mas embalados de forma dançante pelos ritmos periféricos, logo deu lugar a composições tomadas pelo esforço ingênuo das palavras, uma tentativa de substituir a própria origem e se transformar em um novo produtor da música pop. Próxima de lançar o quarto registro em estúdio, Matangi, M.I.A. se adorna de referências, estreia os laços com velhos parceiros e tenta restabelecer os rumos abandonados nos primeiros discos. Em mais um texto do especial Aquecimento, listamos dez músicas, discos e outras referências culturais que valem ser conhecidas antes da chegada do aguardado Matangi.

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M.I.A. – “Bad Girls”

Única composição capaz de igualar a beleza lírica e instrumental de Paper Planes, o primeiro grande exemplar pós-/\/\ /\ Y /\ serviu para restabelecer os rumos da rapper. Assertivamente produzida pelo norte-americano Danja (Britney Spears, Justin Timberlake e Björk), a canção é a base para Matangi, efeito explícito na relação com a música árabe, bom aproveitamente de melodias pop e a presença vocal cada vez maior da artista. Originalmente apresentada na mixtape Vicki Leekx (2010), a faixa trouxe no clipe dirigido por Romain Gavras um complemento natural para as melodias.

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Cultura Oriental

Matangi

Se os Beatles e até Glória Perez foram ao oriente encontrar sustento para a própria obra, com M.I.A. não seria diferente. Parte do que abastece a estética, música e referências (sonoras ou visuais) selecionadas para o novo álbum fluem com naturalidade em território oriental. Das cores e formas típicas da cultura indiana, aos passeios pela essência islâmica, cada aspecto do trabalho proposto pela rapper esbarra nesse cenário diverso e de forte apego religioso. O próprio nome “Matangi” é uma referência direta à deusa da música e cultura hinduísta, efeito direto de uma viagem da artista há alguns anos pela Índia.

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Omar Souleyman – “Wenu Wenu”

Já que estamos falando sobre a cultura do oriente, dar uma passada pela obra de Omar Souleyman é um exercício que se faz necessário. Músico/produtor original de Ra’s al-‘Ayn, Síria, Souleyman não custou a chamar as atenções de Björk, Damon Albarn e Four Tet, resultado da fusão entre a música eletrônica e o Mijwiz – flauta artesanal e um princípio da identidade que marca a obra do artista. Com o novo álbum, Wenu Wenu, previsto para estrear no dia 22 de Outubro, Omar deve antecipar uma série de conceitos que Bad Girls e demais canções da rapper já anunciaram para Matangi.

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M.I.A. – Vicki Leekx (2010, Independente)

Lançado meses antes da chegada de /\/\ /\ Y /\ (2010), a mixtape Vicki Leekx parecia antecipar tendências e guiar os rumos da rapper antes mesmo da chegada do terceiro álbum. Apenas parecia. Visivelmente desenvolvido como um esboço para o que hoje conceitua Matangi, o registro de 36 minutos entrega farelos do que viria a ser Bad Girls, princípios para as bases de Come Walk With Me, além de diversos elementos pensados para estrutura suja de Bring the Noize. Anárquico e dançante na mesma proporção, o registro é quase um esqueleto do novo disco, tamanha a carga de referências reaproveitadas ou que ainda se escondem nele.

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Death Grips – The Money Store (2012, Epic)

Ruídos eletrônicos, quebras constantes de ritmo, vozes maquiadas por efeitos e batidas arquitetadas de forma instável. Se você prestar bastante atenção verá que cada uma das canções apresentadas por M.I.A. até agora (com exceção de Bad Girls) carregam forte influência e referências vindas da proposta do Death Grips. Responsáveis por dois registro de peso para o Hip-Hop proclamado no último ano – The Money Store e NO LOVE DEEP WEB – o trio californiano é, não apenas para Matangi, a base para uma série de obras recentes do gênero. Prepare-se para uma enxurrada de sons caóticos e rimas que mais parecem batidas tamanha a estrutura anárquica do flow.

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Sleigh Bells – “Bitter Rivals”

/\/\ /\ Y /\  já estava em produção quando M.I.A. Simplesmente se encantou pelos ruídos de Derek E. Miller nos primeiros singles do Sleigh Bells. O resultado desse favoritismo ao Noise Pop fez a rapper repensar toda a estrutura do terceiro álbum, convidando o músico norte-americano para assinar a produção de Meds and Feds, além de outros rastros distorcidos que se espalham pela obra. Com Bitter Rivals, novo álbum do Sleigh Bells, estreando um mês antes de Matangi, prestar atenção ao trabalho de Miller e da vocalista Alexis Krauss é um exercício simples e que talvez revele uma boa carga de informações sobre o novo registro da rapper britânica com antecedência.

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Switch – “A Bit Patchy”

Desde a separação de M.I.A. e Diplo, o produtor britânico Switch se manteve como uma espécie de conselheiro criativo da rapper. Parceiro de longa data – os laços se estreitaram a partir da construção do álbum Arular (2005) -, o artista inglês parece ser a espinha dorsal do novo álbum, sendo o principal “culpado” pela construção de Bring the Noize e Come Walk With Me. Um dos responsáveis pelo álbum Guns Don’t Kill People… Lazers Do (2009), estreia do Major Lazer, Switch acumula um extenso catálogo de remixes e faixas produzidas para outros artistas, como Beyoncé e Santigold, trazendo em composições autorais uma série de elementos que esbarram na essência da rapper.

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Palestina – Joe Sacco (2011, Conrad)

Palestina

A cada álbum, M.I.A. costuma focar em ritmos e temas periféricos bastante específicos. Enquanto Arular passeou pelo Brasil, Caribe e pelas periferias de Londres, Kala trouxe na essência africana um princípio para as bases instrumentais e líricas de toda a obra. Com o Oriente Médio como um dos alvos de Matangi, a rapper não deve se distanciar dos conflitos que ocupam grande parte da região, trazendo marcas específicas da cultura e política local para dentro da obra – algo já evidente na estética de Bad Girls. Para quem talvez desconheça parte desse cenário, Palestina, do quadrinista Joe Sacco é uma ótima referência, além, claro, de um dos exemplares mais significativos da produção “recente” dos quadrinhos.

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M.I.A. – Doobie (Prod. Danja)

Switch pode ser o responsável por alicerçar a estrutura que consolida Matangi, entretanto, é do norte-americano Floyd Nathaniel Hills, mais conhecido como Danja, parte do tempero regional e das maquinações que orientam o novo álbum da rapper. Produtor responsável por Bad Girls, o protegido de Timbaland é parceiro de M.I.A. há bastante tempo, desde o florescimento da artista em Kala (2007). Com presença garantida no álbum, Danja pode repetir não apenas a proposta do primeiro single pensado para o álbum, mas o resultado exposto em Doobie, parceria nunca antes lançada pela dupla, mas que foi apresentada pelo próprio produtor no começo de janeiro.

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Blur – 13 (1999, EMI)


Ainda que as batidas eletrônicas e o clima focado na World Music evidenciem o contrário, de um jeito ou de outro o rock sempre esteve presente na obra de M.I.A.. Seja pelos samples de Ghost Rider (Suicide) e Straight to Hell (The Clash) ou nos versos de Where Is My Mind? (Pixies), décadas de referências ao gênero são diluídas dentro do trabalho da artista, que recentemente encontrou no Blur um complemento natural. Para o lançamento da inédita UNBREAK my Mixtape, faixa que deve abastecer Matangi, a artista resgatou um curto recorte de Tender, canção que inaugura o sexto álbum do grupo britânico e música  que abre precedentes para que outros clássicos do gênero circulem pelo registro.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.