Poucos artistas conseguiram transitar por entre gêneros com tamanha naturalidade e ousadia quanto os Beastie Boys. Formado no início dos anos 1980 na cidade de Nova Iorque, o trio composto por Adam “MCA” Yauch, Michael “Mike D” Diamond e Adam “Ad-Rock” Horovitz começou sua carreira no punk/hardcore antes de se reinventar como um dos nomes mais influentes do rap estadunidense. Combinando rimas irreverentes, uma abordagem experimental e produções inovadoras, o grupo se consolidou como ícone da cultura pop, lançando álbuns que desafiaram convenções e marcaram diferentes gerações. Seja no rap rock enérgico de Licensed to Ill (1986), na ousadia de Paul’s Boutique (1989) ou nas fusões sonoras de Ill Communication (1994), o grupo sempre esteve à frente de seu tempo, deixando uma sequência de grandes obras agora organizadas do pior para o melhor lançamento em mais uma edição do Cozinhando Discografias.
#8. The Mix-Up
(2007, Capitol)
Passado o lançamento do maduro To The 5 Boroughs (2004), os integrantes do Beastie Boys decidiram seguir uma abordagem diferente no sétimo álbum de estúdio da carreira, The Mix-Up (2007). Diferente dos registros que o antecedem, o trabalho se sustenta inteiramente a partir de músicas instrumentais. Ainda que a decisão tenha caído como um balde de água fria para parte do público e imprensa especializada, que detestou o álbum, o disco produzido pelos próprios membros está repleto de bons momentos. São canções como Suco de Tangerina e Off The Grid que talvez fossem potencializadas pela inserção dos versos, mas se resolvem na forma como o trio nova-iorquino se sustenta inteiramente na construção dos arranjos. Não era o que os ouvintes esperavam, mas era o que o grupo decidiu oferecer.
#7. Hot Sauce Committee Part Two
(2011, Capitol)
Inicialmente previsto para o ano de 2009, porém, adiado por conta do intenso processo criativo do trio, que pensou em lançar o álbum em duas partes, e início do tratamento contra o câncer que tiraria a vida de Adam Yauch (1964 – 2012), Hot Sauce Committee Part Two (2011) conclui com excelência a obra do Beastie Boys. Primeiro álbum de inéditas do grupo desde o instrumental The Mix-Up (2007), o registro não apenas mostra a força criativa do trio em músicas como Make Some Noise e Lee Majors Come Again, como ainda se abre para a chegada de novos colaboradores. Do encontro com Santigold, em Don’t Play No Game That I Can’t Win, passando pelas rimas de Nas, parceiro em Too Many Rappers, sobram canções que destacam a força das rimas e contínuo esforço da banda em jogar com as possibilidades em estúdio.
#6. To The 5 Boroughs
(2004, Capitol)
To The 5 Boroughs (2004) talvez não seja um lançamento tão celebrado quanto a sequência arrebatadora de discos que o antecedem, porém, está longe de parecer um registro menor na discografia dos Beastie Boys. Entregue ao público após um longo intervalo de seis anos, o trabalho reflete uma mudança de postura por parte do grupo que deixa o humor de lado para reforçar o aspecto político da obra. Exemplo disso fica bastante evidente em An Open Letter to NYC, composição que funciona como uma celebração à cidade de Nova Iorque após os atentados terroristas de 11 de setembro. Claro que essa maior sobriedade não interfere na entrega de músicas como a entusiasmada Ch-Check It Out, Triple Trouble e demais faixas que levam o disco para outras direções, reforçando a riqueza de ideias que move o som do trio.
#5. Hello Nasty
(1998, Grand Royal / Capitol)
Você pode nunca ter ouvido falar de Beastie Boys, mas com certeza ouviu algumas das composições de Hello Nasty (1998). E não poderia ser diferente. Trabalho mais acessível do trio nova-iorquino, o registro que debutou na primeira posição da Billboard 200 revelou algumas das canções mais conhecidas do grupo. São faixas como Body Movin’, Remote Control e demais canções que destacam a produção caprichada de Mario Caldato, Jr. e a relação com um time de novos colaboradores, caso do DJ Mix Master Mike, a cantora Miho Hatori (Cibo Matto) e o veterano Lee “Scratch” Perry. Um capricho da primeira à última música que ganhou ainda mais destaque por conta do sucesso de Intergalactic, faixa que revelou um dos clipes mais icônicos da década de 1990 e ainda garantiu um dos dois prêmios Grammy que a banda receberia no ano seguinte.
#4. Check Your Head
(1992, Grand Royal / Capitol)
Apesar do fracasso comercial envolvendo o lançamento de Paul’s Boutique (1989), os integrantes do Beastie Boys não desanimaram e continuaram brincando com as possibilidades no terceiro álbum de estúdio, Check Your Head (1992). Mais uma vez acompanhados pelo brasileiro Mario Caldato Jr., que assina a produção do disco integralmente, o trio nova-iorquino se volta ao uso dos instrumentos, deixando de lado o amplo catálogo de samples do registro anterior. Essa mudança de postura resulta em um regresso parcial ao punk/hardcore de Licensed to Ill (1986), porém, provando de outros estilos, como o jazz, o dub e o funk. Catapultado por conta do sucesso de músicas como So What’cha Want e Pass the Mic, o trabalho não apenas garantiu ao trio uma posição de destaque na Billboard 200, como serve de passagem para o que seria explorado de forma ainda mais interessante no sucessor Ill Communication (1994).
#3. Licensed to Ill
(1986, Def Jam)
Com a boa repercussão em torno da música Cooky Puss, os integrantes do Beastie Boys decidiram deixar o rock em segundo plano para investir ainda mais na relação com o rap. Na época acompanhados pelo DJ Double R, identidade adotada pelo então desconhecido Rick Rubin, o grupo formado por MCA, Mike D e Ad-Rock assinou com a Def Jam para dar vida ao primeiro trabalho de estúdio. O resultado desse processo está na entrega de uma das estreias mais bem sucedidas da história da música, Licensed to Ill (1986). Primeiro registro do gênero a alcançar o topo da Billboard 200, o álbum não apenas revelou algumas das canções mais icônicas dos anos 1980, caso de No Sleep Till Brooklyn, (You Gotta) Fight for Your Right (To Party!) e Brass Monkey, e ainda vendeu mais de dez milhões de cópias, como pavimentou o caminho para que outros projetos ainda mais importantes fossem apresentados na década seguinte.
#2. Ill Communication
(1994, Grand Royal / Capitol)
Ponto de equilíbrio entre o experimentalismo de Paul’s Boutique (1989) e a urgência instrumental que marca o repertório de Check Your Head (1992), Ill Communication (1994) mostra o Beastie Boys em sua melhor forma. Fortemente influenciado pela fase elétrica de Miles Davis, o trabalho produzido em parceria com Mario Caldato, Jr. continua a ampliar os horizontes do trio, porém, de forma ainda mais acessível, culminando em alguns dos maiores sucessos do grupo. Da parceria com Q-Tip, em Get It Together, passando pela introdutória Sure Shot, sobram bons momentos durante toda a execução da obra. Nada que preparasse a banda para o sucesso de Sabotage. Acompanhada de um divertido vídeo dirigido por Spike Jonze, a canção tomou conta da programação da MTV, se transformou em uma das músicas mais icônicas da década de 1990 e ainda contribuiu para que MCA, Mike D e Ad-Rock merecidamente alcançassem o topo das paradas de sucesso pela primeira vez.
#1. Paul’s Boutique
(1989, Capitol)
Pensar no uso de samples como parte de uma manifestação artística parece bastante natural hoje em dia, mas isso só foi possível por conta de obras que previamente estabeleceram conceitos estéticos e até mesmo jurídicos. É o caso de Paul’s Boutique (1989). Lançado no mesmo ano em que o De La Soul apresentou o também revolucionário 3 Feet High and Rising (1989), o trabalho leva o som do Beastie Boys para outras direções. Concebido em parceria com a dupla Dust Brothers, o registro combina o uso de instrumentos com um vasto catálogo de 105 músicas que só foram sampleadas por serem incorporadas a baixo custo, antes de uma mudança na lei de direitos autorais. São fragmentos de artistas como The Beatles, Led Zeppelin e Pink Floyd que estabeleceram as bases para canções como Hey Ladies, Shadrach e a extensa B-Boy Bouillabaisse. Embora não tenha atingido o mesmo sucesso comercial do registro que o antecede, Paul’s Boutique acabou se transformando em uma das obras mais cultuadas do gênero, abrindo passagem para uma sequência de outros lançamentos do trio nova-iorquino.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.