Like a Prayer, Material Girl, Ray of Light, Like a Virgin, Human Nature, Hung Up ou Music. Em mais de três décadas de carreira, Madonna deu vida a um dos maiores e mais significativos acervos da música pop. Uma coleção de obras que atravessa os anos 1980 – True Blue (1986), Like a Prayer (1989) -, explora a eletrônica na década de 1990 – Erotica (1992), Ray Of Light (1998) – e se parte em diferentes sonoridades, gêneros e possibilidades ao longo dos anos 2000 – Confessions On a Dance Floor (2005), Rebel Heart (2015). Na lista abaixo, um exercício – evidentemente particular – de organizar toda a discografia de estúdio da cantora – 13 álbuns -, do pior para o melhor lançamento. Aproveite os comentários para montar a sua lista de favoritos da cantora, organizando cada um dos trabalhos por ordem de preferência.
.
#13. MDNA
(2012, Boy Toy / Live Nation / Interscope)
Em um cenário dominado por Taylor Swift, Rihanna, Lady Gaga e todo um time de novas representantes da música pop, MDNA (2012) nasce como uma obra de explícito reposicionamento da cantora. Bastam os instantes iniciais de Girl Gone Wild, composição produzida pelos primos Alle e Benny Benassi, para perceber o completo interesse da artista norte-americana pela EDM. São pouco mais de 50 minutos em que Madonna deixa de ser um personagem criativo, uma inspiração, para copiar o que há de mais descartável na música recente. Mesmo as canções divididas com o velho parceiro William Orbit, caso de I’m a Sinner e Falling Free, soam como uma mera reciclagem do material explorado pela cantora no interior do clássico Ray Of Light. Nem a sequência de faixas assinadas em parceria com M.I.A. e Nicki Minaj – Give Me All You Luvin´, I Don´t Give A e B-Day Song – parecem capazes de igualar o mesmo espírito dançante de obras como Music (2000) e True Blue (1986), fazendo de MDNA uma cópia mal feita de diversos trabalhos da própria artista.
.
#12. Hard Candy
(2008, Warner Bros.)
Depois de ouvir FutureSex/LoveSounds (2006) do cantor Justin Timberlake, o interesse de Madonna em trabalhar com Timbaland e outros colaboradores do ex-NSYNC foi quase imediato. De fato, grande parte das canções apresentadas em Hard Candy (2008), 11º álbum de estúdio da cantora, soa como uma adaptação do registro de Timberlake entregue ao público dois anos antes. Longe da sonoridade dançante e nostálgica do ótimo Confessions on a Dance Floor (2005), Madonna e o time de produtores da obra investiram pesado na construção das batidas, transportando o público para um novo cenário musical. Uma versão agressiva (e renovada) do mesmo R&B explorado décadas antes com Bedtime Stories (1994). Além da boa repercussão do single Give It 2 Me, o destaque acabou ficando por conta da sequência de parcerias espalhadas pela obra. Faixas como Beat Goes On, ao lado de Kanye West, 4 minutes, com Justin Timberlake e Timbaland, além da inaugural Candy Shop, música que conta com a produção de Pharrell Williams.
.
#11. Music
(2000, Maverick / Warner Bros.)
Em setembro de 1999, quando Madonna entrou em estúdio para a gravação do sucessor de Ray of Light (1998), é bastante provável que tenha se perguntado: “para onde devo seguir?”. Depois de brincar com a New Wave – Madonna (1983), Like a Virgin (1984), True Blue (1986), Like a Prayer (1989) -, flertar com o R&B – Bedtime Stories (1994) – e explorar diferentes tonalidades da música eletrônica – Erotica (1992) e Ray of Light (1998) – ao longo da carreira, com a chegada do inédito Music, no final de 2000, a cantora parecia transformar o sétimo registro de inéditas em um resumo despretensioso da própria discografia. Com exceção da rápida passagem pela música country – sempre acompanha de temas eletrônicos -, Music se projeta como um resgate involuntário de boa parte dos temas e ritmos explorados pela artista em quase duas décadas de atuação. Não por acaso o trabalho é inaugurado pela emblemática faixa-título, uma descompromissada exposição lírica que traduz a grandeza da música- “Music makes the people come together” -, ao mesmo tempo em que observa o extenso catálogo de obras acumuladas pela cantora até aquele momento.
.
#10. Rebel Heart
(2015, Boy Toy / Live Nation / Interscope)
Se levarmos em consideração que o dançante Confessions On a Dance Floor (2005) foi o último grande trabalho da cantora, temos pelo menos uma década repleta de lançamentos instáveis, como se Madonna buscasse por um novo espaço dentro da música pop. Obra que mais se aproxima da boa fase da cantora – entre o final dos anos 1980 e grande parte da década de 1990 -, Rebel Heart mostra uma artista que mesmo “contida”, preserva sua essência. Durante todo o trabalho, temas como religião, sexualidade, autodestruição, amor e rebeldia abastecem as canções, revelando ao público uma das obras mais complexas da cantora desde o lançamento de Ray of Light, em 1998. A sobriedade do trabalho, explícita logo na icônica capa do disco não exclui a formação de um catálogo de composições pegajosas. Faixas como Bitch I’m Madonna (parceria com Nicki Minaj), Unapologetic Bitch, Living For Love, Hold Tight e Devil Pray. Ainda que o assertivo time de produtores formado por Diplo, Kanye West, Avicii e Ariel Rechtshaid pareça conduzir o trabalho, está na presença, no lirismo provocativo e na essência da cantora a verdadeira força de Rebel Heart.
.
#09. American Life
(2003, Maverick / Warner Bros.)
Fruto do conturbado cenário político dos Estados Unidos pós-11 de setembro, American Life é o trabalho em que Madonna melhor dialoga com o presente. Logo na faixa de abertura do disco, uma precisa desconstrução do estilo de vida norte-americano, estímulo para a crítica ao mundo de flashes, celebridades e exageros que marcam Hollywood. Na sequência do trabalho, um catálogo de músicas que exploram temas intimistas (Nobody Knows Me), resgatam elementos do passado da cantora (Mother and Father) e ainda flertam com o mesmo som produzido pela artista no final dos anos 1990 (I’m So Stupid). Comercialmente bem-recebido pelo publico, American Life ainda ganhou enorme destaque por conta da inserção de Die Another Day como música tema do filme 007 – Um Novo Dia para Morrer (2002) – estímulo para um dos melhores clipes de toda a carreira da cantora. Um trabalho sóbrio perto das cores e temas dançantes que viriam a ser exploradas no sucessor Confessions on a Dance Floor, de 2005.
.
#08. Erotica
(1992, Sire / Warner Bros.)
Erotica é um típico álbum do começo dos anos 1990. Batidas e bases que flertam com a House Music; doses consideráveis de Hip-Hop, Soul e R&B, além do permanente uso de versos declamados, cíclicos, sobrepondo a crescente tapeçaria de vozes que musicalmente sustenta as canções. Curva fechada em relação ao som pegajoso que acompanhou a cantora até o clássico Like a Prayer, em 1989, o registro de 14 faixas inéditas não apenas atualiza o catálogo de ritmos de Madonna, como amplia o rico acervo lírico explorado pela artista desde o meio dos anos 1980. Ainda que o erotismo e a provocação façam parte do cardápio de referências exploradas até o último verso do trabalho, a cada nova composição, Erotica reforça o uso de temas como aceitação, preconceito e libertação, preenchendo de forma delicada as pequenas lacunas do disco. De fato, parte expressiva do disco reflete os tormentos da cantora ao presenciar a morte de homossexuais e amigos próximos em decorrência da Aids. Mesmo considerado o primeiro “fracasso” de Madonna, Erotica conquistou um lugar de destaque em diferentes paradas de sucesso, indicando o caminho eletrônico que seria explorado de forma assertiva na obra-prima Ray of Light (1999).
.
#07. Madonna
(1983, Sire / Warner Bros.)
Em 1982, depois de colaborar em diferentes projetos da cena nova-iorquina – incluindo o coletivo de dance pop Breakfast Club -, Madonna deu vida ao primeiro single em carreira solo: Everbody. Produto típico da época em que foi lançada, a canção, um misto de synthpop, funk e R&B, parece apontar a direção seguida pela cantora dentro do autointitulado primeiro registro de estúdio. Entregue ao público em julho de 1983, o álbum de sete composições inéditas e produção dividida entre John “Jellybean” Benitez e Mark Kamins reforça a capacidade da jovem cantora em brincar com diferentes tonalidades da música pop. Da abertura com Lucky Star, passando por faixas como Borderline, Holiday e Burning Up, Madonna e o time de colaboradores finalizam uma obra que peca pela ausência de ineditismo, mas hipnotiza pela solução de versos pegajosos que acompanham o ouvinte até a dobradinha composta por Physical Attraction e a já conhecida Everebody. Um explícito teste de identidade e estímulo para o trabalho da cantora no sucessor Like a Virgin (1984).
.
#06. True Blue
(1986, Sire / Warner Bros.)
Difícil não criar expectativa depois de uma obra como Like A Virgin. Todavia, longe de sufocar pelo sucesso excessivo de um único trabalho, com o lançamento de True Blue, em 1986, Madonna deu sequência ao catálogo de composições bem-sucedidas. Enquanto os versos do disco parecem dialogar com a mesma temática provocativa da obra lançada em 1984, reforçando temas como religião, sexualidade e relacionamentos fracassados, bastam as batidas e sintetizadores dançantes da inaugural Papa Don’t Preach para perceber a nova direção assumida pela cantora. Sobram ainda pequenos experimentos, caso da “tropical” La Isla Bonita e a própria faixa-título, um diálogo declarado com a música negra do final dos anos 1960 e todo o universo de representantes da Motown. Um eficacíssimo aquecimento para a avalanche de hits que cobriria todo o quarto álbum de inéditas da cantora, o também clássico Like A Prayer (1989).
.
#05. Like a Virgin
(1984, Sire / Warner Bros.)
Lutando contra o excessivo controle da gravadora e o machismo de boa parte da equipe de executivos, em 1984, Madonna deu início ao processo de gravação do segundo álbum em carreira solo, assumindo, junto de Nile Rodgers e do ex-namorado Stephen Bray, a construção do clássico Like a Virgin. Centrado no universo particular da cantora, o álbum de nove faixas – cinco delas apresentadas ao público como singles – mostra a versatilidade da artista quanto compositora, discutindo sexualidade, consumo, medos e relacionamentos fracassados a cada nova curva do disco. Musicalmente amplo em relação ao trabalho lançado um ano antes, Like a Virgin fragmenta a New Wave em diferentes tonalidades, indo da urgência pop de Over and Over ao tom melancólico da confessional Love Don’t Live Here Anymore. O resultado se reflete no altíssimo número de vendas do álbum ao redor do globo – mais de 25 milhões de cópias vendidas -, além da posição de destaque da cantora em diferentes paradas musicais. A clássica apresentação no VMA de 1984 viria como a cereja no topo do bolo, consagrando de forma definitiva o trabalho de Madonna.
.
#04. Confessions on a Dance Floor
(2005, Maverick / Warner Bros.)
Madonna sempre manteve uma constante relação de proximidade com a Dance Music. Da estreia, em 1983, aos temas eletrônicos de Erotica (1992) e Ray of Light (1998), um verdadeiro cardápio de composições dançantes lentamente foi montado. Nada que se compare ao material apresentado pela cantora em Confessions On a Dance Floor, de 2005. Décimo álbum de estúdio da artista norte-americana, o registro de 12 faixas não apenas dialoga com as pistas de dança de diferentes épocas, tendências e cenários diferentes, como presta uma verdadeira homenagem aos clássicos da década de 1970. Do sample de Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight), do Abba, logo na inaugural Hung Up, passando pela coleção de faixas como Sorry, Jump, Future Lovers e Push, Madonna e o time de produtores convidados para o disco abraçam a essência da música disco explorada três décadas antes do lançamento do disco. Difícil não lembrar de Giorgio Moroder, Donna Summer, Chic e todo um time de artistas que sobrevivem criativamente no interior da obra.
.
#03. Bedtime Stories
(1994, Sire / Warner Bros.)
Depois dos “excessos” que abasteceram as canções de Like a Prayer (1989) e Erotica (1992), Madonna decidiu trilhar um novo caminho dentro da própria discografia. Inspirada pela recente explosão do (novo) R&B e pelo trabalho de artistas iniciantes como Mary J. Blige, TLC e Aaliyah, em 1994 a cantora apresentou ao público o sexto registro de estúdio: Bedtime Stories. Confortavelmente instalada em um ambiente dominado pela manifestação de sentimentos, sussurros românicos e confissões apaixonadas, Madonna faz do registro de 50 minutos e 11 faixas inéditas uma de suas obras mas delicadas. Da abertura com Survival, passando por Secret, Inside of Me e Love Tried To Welcome Me, a cantora e o time de produtores formado por Nellee Hooper, Dallas Austin, Dave “Jam” Hall e Babyface finalizam uma obra que não apenas conforta, como seduz o ouvinte lentamente. Salve a rápida fuga na provocativa Human Nature – “Express yourself, don’t repress yourself” -, cada composição do álbum parece servir de estímulo para a faixa seguinte, transformando Bedtime Stories em um capítulo isolado (e deliciosamente coeso) dentro do extenso acervo da cantora.
.
#02. Like a Prayer
(1989, Sire / Warner Bros.)
Se em 1986 Madonna havia conquistado a ira da Igreja Católica com o lançamento de Papa Don’t Preach, faixa de abertura do álbum True Blue, em 1989, com a chegada de Like a Prayer e do polêmico clipe da canção, a cantora e compositora norte-americana iria ainda mais longe. Quarto registro de inéditas da artista, a obra lançada em março de 1989 não apenas pontuaria de forma assertiva a atuação de Madonna nos anos 1980, como transportaria o público para uma sequência de obras versáteis e essencialmente polêmicas ao longo de toda a década de 1990. Estimulada pelo rompimento conturbado do relacionamento com o ator Sean Penn, a cantora mais uma vez se transformou na matéria-prima do próprio trabalho, mergulhando em versos marcados pela sexualidade, empoderamento feminino, religião e conflitos pessoais. Para além da icônica faixa-título do álbum – produzido em parceria com Patrick Leonard e Stephen Bray -, sobram composições memoráveis como Cherish, Express Yourself, Keep It Together, Oh Father e Till Death Do Us Part. Mesmo o dueto Love Song, parceira com o cantor Prince, em nenhum momento interfere no conceito pessoal da obra – ainda hoje, uma das peças mais importantes da música pop.
.
#01. Ray of Light
(1998, Maverick / Warner Bros.)
A grande beleza no trabalho de Madonna sempre esteve na capacidade de adaptação da cantora. Do colorido neon de Like a Virgin (1984) e True Blue (1986) ao tom sóbrio de Erotica (1992) e Bedtime Stories (1994), durante grande parte dos anos 1980 e 1990 a cantora sempre pareceu interessada em corromper a própria sonoridade, brincando com as possibilidades a cada novo álbum. Com Ray of Light não poderia ser diferente. Sétimo trabalho de inéditas da cantora, o disco lançado em março de 1998 talvez seja o registro que melhor sintetize a permanente mutação que define a vida da artista – dentro ou mesmo fora do estúdio. Enquanto Madonna celebrava a chegada da primeira filha, Lourdes, e a conversão à Cabala, a estreita relação com o produtor William Orbit, responsável por grande parte das faixas do disco, parece estimular todo esse universo de novos temas e inspirações, gerando uma verdadeira explosão criativa que se reflete em cada uma das 13 canções do álbum.
Ao mesmo tempo em que os arranjos e entalhes eletrônicos esbarram na mesma sonoridade de artistas como Björk, Massive Attack e Portishead, em se tratando dos versos, Madonna amplia ainda mais o próprio catálogo de referências. Mesmo que faixas como Little Star – escrita para a filha Lourdes – dialogue com o cotidiano da cantora, grande parte de Ray of Light explora um conjunto de elementos e conceitos existencialistas, íntimos de qualquer ouvinte. Canções que que mergulham na temática do amor (Drowned World/Substitute for Love), fé (Shanti/Ashtangi) e até discutem conflitos sociais (Swim) sem necessariamente distanciar a cantora das pistas de dança.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.