Cozinhando Discografias: The Killers

/ Por: Cleber Facchi 18/08/2014

A seção Cozinhando Discografias consiste basicamente em falar de todos os álbuns de um artista, ignorando a ordem cronológica dos lançamentos. E qual o critério usado então? A resposta é simples, mas o método não: a qualidade. Dentro desse parâmetro temos uma série de fatores determinantes envolvidos, que vão da recepção crítica do disco no mercado fonográfico, além, claro, dentro da própria trajetória do grupo e seus anteriores projetos. Além da equipe do Miojo Indie, outros blogs parceiros foram convidados para suas específicas opiniões sobre cada um dos trabalhos, tornando o resultado muito mais democrático.

Bastou ao The Killers o lançamento do primeiro álbum de estúdio, Hot Fuss (2004), para que a banda se transformasse em um dos maiores fenômenos da música nos anos 2000. Formado na cidade de Las Vegas, o grupo composto por Brandon Flowers, Dave Keuning, Mark Stoermer e Ronnie Vannucci, Jr. encontrou no passado a base para a própria sonoridade. Inspirado pelo trabalho de bandas como U2, New Order, The Cure e outros gigantes da década de 1980, o quarteto é um dos responsáveis pela volta de um rock dançante e recheado por sintetizadores, premissa para cada um dos discos organizados em nosso especial.

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#04. Battle Born
(2012, Island / Vertigo)

A nostalgia dita as regras de Battle Born. Das melodias de Flesh and Bone, típicas do Queen, passando pelo hard rock dos anos 1980 em Runaways e The Rising Tide, cada segundo do álbum revela parte específica das referências que sempre abasteceram a sonoridade / estética do grupo desde o primeiro disco. Mais do que um trabalho acomodado em específica zona de conforto, o quarto álbum ainda revela boa parte dos elementos que sustentaram a fase solo de cada integrante. Aproveitando do hiato pós-Day & Age (2008), Brandon Flowers (Flamingo, 2010) Mark Stoermer (Another Life, 2011) e Ronnie Vannucci Jr (Big Talk, 2011) produziram seus primeiros discos autorais, principio para o desdobramento Country de From Here on Out ou o pop melancólico de Deadlines and Commitments – vívidas referências em cada projeto particular dos músicos. Feito sob medida para o público da banda, Battle Born pode até ser um trabalho coeso dentro de sua proposta, porém, está longe de apresentar um material realmente expressivo quando observamos o rico acervo que sustenta os três álbuns que o antecedem.

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#03. Day & Age
(2008, Island / Vertigo)

Distante da composição temática de Sam’s Town, Day & Age veio para reforçar ainda mais o aspecto dançante do The Killers. Visivelmente orientada pela voz límpida de Brandon Flowers, a banda parece crescer em estúdio, reforçando o já expressivo uso de guitarras caricatas e bases sempre manipuladas por sintetizadores. Dentro dessa estrutura comercial, delineada para o público cativo do grupo, músicas como Human e Spacemen se afastam de prováveis fórmulas complexas, abraçando com naturalidade uma estrutura mais pop. Não por acaso, Flowers definiu o álbum em entrevistas como o “mais divertido” já feito pela banda. Mesmo que a leveza ocupe grande parte das canções, a seriedade instalada na segunda metade do trabalho revela o oposto desse resultado. Faixas como The World We Live In e Goodnight, Travel Well que desaceleram para reforçar a face sombria e melancólica da banda, inspirada de forma confessa na obra de David Bowie e Lou Reed nos anos 1970.

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#02. Hot Fuss
(2004, Island / Vertigo)

Poucos trabalhos lançados nos anos 2000 concentram tamanha quantidade de hits quanto Hot Fuss. Se levarmos em conta Glamorous Indie Rock & Roll, presente em edições alternativas do disco, são 13 faixas puramente radiofônicas e entregues ao grande público. Músicas pegajosas como Mr. Brightside e Somebody Told Me, sempre recheadas por versos acessíveis, guitarras rápidas e a voz intensa de Brandon Flowers – controlado apenas na derradeira Everything Will Be Alright. Exemplar atento da segunda leva de bandas que surgiram na última década – como Franz Ferdinand e Kings of Leon -, a estreia do quarteto de Las Vegas cresce com uma celebração ao passado. Dos sintetizadores de On Top ao nome da banda – retirado do vídeo de Crystal, do New Order -, cada instante do trabalho se abastece de referências lançadas entre as décadas de 1970 e 1980. Veteranos como The Cure, Duran Duran, The Smiths e demais artista da época que ecoam de forma explícita na sonoridade eufórica e temas nostálgicos do disco. Irritantemente pegajoso, Hot Fuss convence até o mais sisudo dos ouvintes a dançar.

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#01. Sam’s Town
(2006, Island / Vertigo)

Se hoje Sam’s Town é encarado como um típico exemplar dos conceitos assinados pelo The Killers, em 2006, quando lançado, a entendimento em relação o disco foi bem diferente do atual. Quem esperava por um “novo Hot Fuss” encontrou no segundo trabalho em estúdio do quarteto de Las Vegas uma obra densa e até mesmo reclusa durante as primeiras audições. Da energia incorporada em músicas como Somebody Told Me do trabalho anterior, pouco parecia ter sobrevivido, gerando estranheza e até descontentamento em parte do público e crítica. Curiosamente, a nova postura despertou o interesse de toda uma nova parcela de ouvintes, agora motivados pelas letras existenciais (When You Were Young) e sóbrias (Why Do I Keep Counting?) sempre reforçadas pela voz forte de Flowers.

Carregado de referências nacionalistas, Sam’s Town é mais do que uma homenagem da banda à cidade de Las Vegas, onde foi formada, mas um resgate dos valores e diferentes aspectos da cultura estadunidense. Ora decadente, ora exuberante, o cenário pensado para o disco serve de inspiração para que personagens (Uncle Jonny) e sentimentos (This River Is Wild) sejam ressaltados a todo momento, material que parece emular com naturalidade a obra de Bruce Springsteen nos anos 1980. Mesmo instalado em um ambiente sombrio, o trabalho em nenhum momento abandona o detalhamento pop reforçado no disco anterior. Bastam as harmonias sutis e versos românticos de Bones para que o ouvinte seja prontamente seduzido pelo álbum. Base para os futuros registros da banda, Sam’s Town prevalece como um trabalho maduro e autoral, sendo o grande responsável pelo sucesso comercial e o público fiel hoje conquistado pelo grupo.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.