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Crítica

파란노을 (Parannoul)

: "To See the Next Part of the Dream"

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Shoegaze, Dream Pop, Indie Rock

Para quem gosta de: A Sunny Day In Glasgow e M83

Ouça: White Ceiling e Beautiful World

8.0
8.0

파란노을 (Parannoul): “To See the Next Part of the Dream”

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Shoegaze, Dream Pop, Indie Rock

Para quem gosta de: A Sunny Day In Glasgow e M83

Ouça: White Ceiling e Beautiful World

/ Por: Cleber Facchi 04/06/2021

Quando lançado, em fevereiro deste ano, no Bandcamp, To See the Next Part of the Dream (2021, Independente), segundo e mais recente álbum de estúdio do misterioso guitarrista Parannoul, rapidamente caiu nas graças do público e da imprensa especializada, figurando em uma posição de destaque em alguns dos principais fóruns e plataformas de música espalhadas pela internet. “Cada música é seu próprio exercício de catarse, uma base instrumental que dá ao Parannoul a liberdade de afogar sua voz em meio ao barulho“, escreveu o jornalista Grant Sharples, do Consequence of Sound, no texto em que analisa com cuidado todas as dimensões do elogiado registro. Mas o que torna um trabalho inteiramente cantado em coreano, imerso em ruídos e captações caseiras tão atrativo?

A resposta talvez esteja na atmosfera e temas explorados pelo artista anônimo. São memórias da infância, citações a animes, como Neon Genesis Evangelion, e conflitos típicos de um jovem adulto. “Apenas reclamações sobre esses sentimentos são deixadas neste álbum, e não existem quaisquer formas de superá-los. Eu não posso te dar uma doce palavra de consolo. Eu não posso dizer ‘Vai ficar tudo bem algum dia’. Só espero que existam mais perdedores ativos como eu no mundo“, comentou o músico no texto de apresentação do trabalho. Canções que parecem encapsular a sensação de deslocamento vivida por qualquer indivíduo, proposta que transcende a barreira linguística e se materializa de maneira bastante evidente nas vozes tortas, ruídos e cada mínimo fragmento da obra.

Mesmo a base instrumental do disco, consumida pela força das guitarras, parece contribuir para esse resultado. Longe de abraçar um único gênero ou temática específica, Parannoul se concentra na sobreposição de ideias e referências melódicas que passeiam por diferentes campos da música de forma essencialmente nostálgica. São incontáveis camadas de ruídos e blocos imensos de distorção que vão da atmosfera shoegaze do My Bloody Valentine ao emocore, da base contemplativa do pós-rock à produção caseira dos anos 1990. Instantes em que o artista sul-coreano confessa referências, porém, de forma sempre catártica e grandiosa, como um produto de emoções genuínas, histórias e experiências sentimentais compiladas de forma minuciosa em um intervalo de três anos.

E isso fica bastante evidente em algumas das músicas mais extensas do disco. É o caso de White Ceiling. São exatos dez minutos em que o compositor sul-coreano estabelece na desconstrução das guitarras e texturas sujas a base para uma faixa que externaliza algumas de suas principais inquietações. “Ruído perturbador zumbindo em meus ouvidos / Minha ansiedade crescente / Meu futuro esquecido / Meu sentido está ficando entorpecido“, canta em meio a vozes berradas e momentos de evidente vulnerabilidade. O mesmo direcionamento criativo, porém, partindo de diferentes abordagens, se reflete na dobradinha composta por Age of Fluctuation e Youth Rebellion. Canções que encolhem e crescem a todo instante, sempre atreladas aos sentimentos de Parannoul.

Mesmo quando desacelera momentaneamente, como na derradeira I Can Feel My Heart Touching You, com suas ambientações ruidosas e guitarras que vão de Slowdive ao American Football, Parannoul mantém firme o forte aspecto emocional que serve de sustento à obra. “Para ver a próxima parte do sonho / Se eu der mais um passo à frente / Não preciso mais me esforçar? / Eu quase posso sentir meu coração tocando você“, confessa. É como se o músico transitasse por diferentes espectros da vida amorosa e momentos de maior angústia de forma sempre sensível, estreitando a relação com o ouvinte. O mais interessante talvez seja perceber a forma como o guitarrista se distancia de uma abordagem melodramática, típica de obras do gênero. Composições que mesmo consumidas pela dor, em nenhum momento tendem aos excessos, produto da sobriedade e domínio do artista.

É justamente esse maior refinamento no trato das emoções que torna a experiência de ouvir To See the Next Part of the Dream tão satisfatória. Enquanto os arranjos e temas instrumentais esbarram em conceitos talvez previsíveis e anteriormente testados por diferentes artistas, Parannoul sustenta nos versos um exercício criativo tão particular que parece próprio do ouvinte. Canções pensadas para dialogar com outros “perdedores ativos” como o músico anuncia no texto de lançamento da obra. Dentro desse fluxo eufórico que alterna entre momentos de evidente leveza, delírios criativos e composições dilacerantes, o guitarrista coreano garante ao público uma obra de sentimentos universais, fazendo da identidade anônima uma representação subjetiva de qualquer indivíduo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.