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Crítica

100 gecs

: "1000 gecs and the Tree of Clues"

Ano: 2020

Selo: Dog Show / Big Beat/ Atlantic

Gênero: Experimental Pop, Eletrônica, Avant-Pop

Para quem gosta de: Charli XCX e SOPHIE

Ouça: xXXi_wud_nvrstøp_ÜXXx e Hand Crushed

8.0
8.0

100 gecs: “1000 gecs and the Tree of Clues”

Ano: 2020

Selo: Dog Show / Big Beat/ Atlantic

Gênero: Experimental Pop, Eletrônica, Avant-Pop

Para quem gosta de: Charli XCX e SOPHIE

Ouça: xXXi_wud_nvrstøp_ÜXXx e Hand Crushed

/ Por: Cleber Facchi 16/07/2020

Nascido da colorida colagem de ritmo e referências extraídas dos mais variados campos da música, 1000 gecs (2019) não apenas serviu para apresentar o trabalho da dupla formada por Dylan Brady e Laura Les, como sintetiza de maneira inexata uma série de transformações que movimentaram a produção musical na última década. Canções que vão do nightcore ao bubblegum bass incorporado por diferentes nomes da PC Music, do pós-dubstep ao resgate de tendências criativas produzidas entre o final dos anos 1990 e início da década de 2000. Um misto de passado e presente, reverência e reformulação, proposta que ganha contornos ainda mais curiosos em 1000 gecs and the Tree of Clues (2020, Dog Show / Big Beat/ Atlantic).

Sequência ao material entregue no primeiro álbum de estúdio do 100 gecs, a coletânea de remixes, mais do que apresentar novas versões para o som produzido por Brady e Les, amplia de forma significativa uma série de conceitos que definem a estética da dupla. Não por acaso, o duo norte-americano decidiu estreitar a relação com algumas de suas principais referências criativas e nomes que foram fundamentais para a consolidação do som incorporado em músicas como Money Machine, 745 Sticky e Gec 2 Ü.

Exemplo disso ecoa com naturalidade na já conhecida reedição de Ringtone. Originalmente assumida apenas pela dupla estadunidense, a faixa cresce na bem-sucedida colaboração com Charli XCX, Kero Kero Bonito e Rico Nasty. Pouco mais de três minutos em que somos convidados a se perder em um misto de avant-pop, hard rock e rap, como se cada fragmento da canção transportasse o ouvinte para um território diferente. É partindo justamente dessa inusitada sequência de ritmos e fragmentos eletrônicos que o 100 gecs orienta a experiência do ouvinte até o último instante do trabalho, na sequência ao vivo composta por Small Pipe e 800db cloud.

Dentro cenário marcado pelas possibilidades, surgem músicas como a introdutória Money Machine, canção que parece saída de alguma coletânea da PC Music, efeito direto da produção versátil de A. G. Cook, grande nome por trás do selo britânico. A mesma riqueza de detalhes acaba se refletindo mais à frente, em Gec 2 Ü, música que passa por novo tratamento nas mãos de Danny L Harle. Pouco mais dois minutos em que somos transportados para o início dos anos 2000, como um diálogo com a eurodance de nomes como Gigi D’Agostino e Lasgo.

Nada que se compare ao material entregue em Hand Crushed by a Mallet. Originalmente regida pelas vozes distorcidas de Les, a canção ganha novo sentido no inusitado encontro entre Fall Out Boy, Craig Owens e Nicole Dollanganger. É como se a dupla confessasse suas principais referências em um curto intervalo de tempo, proposta que vai experimentalismo eletrônico ao pop punk de forma deliciosamente nostálgica. Esse mesmo tratamento conceitual embala a releitura de xXXi_wud_nvrstøp_ÜXXx, música que poderia pertencer ao Vengaboys, mas que se projeta de forma insana pela presença de Tommy Cash e Hannah Diamond.

Completo pela inserção de duas composições inéditas – Toothles e Came To My Show –, 1000 gecs and the Tree of Clues mostra o esforço dos dois artistas em se reinventar criativamente mesmo em um curto período após o lançamento do primeiro trabalho de estúdio. Na contramão de outras coletâneas de remixes, sempre regidas pelo caráter autoral dos convidados, interessante perceber a forma como Brady e Les preservam a própria identidade criativa dentro de uma obra tão diversa. Canções que dão novo significado ao material entregue em 1000 gecs, porém, preservando a essência delirante da dupla estadunidense.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.