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Crítica

Hot Chip

: "A Bath Full of Ecstasy"

Ano: 2019

Selo: Domino

Gênero: Eletrônica, Synthpop, Dance

Para quem gosta de: Cut Copy e Metronomy

Ouça: Melody Of Love e Hungry Child

8.1
8.1

“A Bath Full of Ecstasy”, Hot Chip

Ano: 2019

Selo: Domino

Gênero: Eletrônica, Synthpop, Dance

Para quem gosta de: Cut Copy e Metronomy

Ouça: Melody Of Love e Hungry Child

/ Por: Cleber Facchi 27/06/2019

Sintetizadores empoeirados, fragmentos de vozes e batidas que ganham forma aos poucos, convidando o público a dançar. Bastam os primeiros minutos de Melody of Love, faixa de abertura de A Bath Full of Ecstasy (2019, Domino), para que o ouvinte seja prontamente transportado para dentro do sétimo álbum de estúdio do Hot Chip. De essência nostálgica, como um criativo resgate do pop eletrônico produzido entre o final dos anos 1980 e início da década de 1990, o trabalho de apenas nove faixas segue exatamente de onde o grupo britânico parou há quatro anos, ampliando parte expressiva do universo criativo detalhado nas canções de Why Make Sense? (2015).

Marcado pela forte sensação de acolhimento e romantismo explícito na composição dos versos, o trabalho que conta com co-produção de Philippe Zdar (Cassius) e Rodaidh McDonald (The xx, King Krule), utiliza dessa leveza como um precioso elemento de transformação para o som produzido pela banda. “Você deixou espaço para mim nesta vida? / Porque há vazios nos quais não podemos sonhar … Existe um som que ressoa / Uma melodia de amor“, canta o vocalista Alexis Taylor, apontando a direção seguida pelo grupo no restante da obra.

Menos urgente em relação aos últimos trabalhos de estúdio da banda, A Bath Full of Ecstasy estabelece nessa propositada leveza a passagem para uma obra essencialmente detalhista, mágica. São retalhos eletrônicos, sintetizadores carregados de efeitos e vozes tratadas como instrumento, estrutura que orienta a experiência do ouvinte até a derradeira No God, um pop psicodélico e retro-futurista. Exemplo disso está na própria faixa-título do disco. Da voz maquiada pelo uso do auto-tune, passando pela fina tapeçaria melódica que cobre toda a superfície da canção, poucas vezes antes o Hot Chip pareceu capaz de produzir tão sensível.

De fato, a real beleza de A Bath Full of Ecstasy sobrevive justamente nos instantes de maior leveza que conduzem a obra. É o caso de Clear Blue Skies. São pouco menos de sete minutos em que cada elemento da faixa se revela em uma medida própria de tempo. São reverberações nostálgicas que apontam para a obra de veteranos como ABBA, The Beach Boys e Bee Gees, porém, dentro de uma estrutura própria do coletivo britânico. Pinceladas instrumentais e harmônicas que se completam pela delicada inserção de temas eletrônicos.

Claro que essa propositada busca por novas possibilidades não interfere na produção de um material puramente dançante, íntimo dos antigos trabalhos da banda. Perfeita representação desse resultado está em Hungry Child, quinta faixa do disco. São camadas de sintetizadores, batidas e vozes complementares que refletem o fascínio de Joe Goddard, um dos principais articuladores da banda, pela música eletrônica dos anos 1990. A própria Spell, logo na abertura do disco, e Positive, com suas camadas e texturas sintéticas, incorpora o mesmo direcionamento festivo detalhado nos antigos trabalhos do grupo, como The Warning (2006) e Made in the Dark (2008).

Conceitualmente diverso, A Bath Full of Ecstasy costura décadas de referências de forma particular, produto da completa versatilidade e permanente desejo do Hot Chip em se reinventar dentro de estúdio. São músicas talvez desprovidas do mesmo aspecto comercial que embala algumas das principais composições já apresentadas pelo grupo britânico, como Over and Over, Boy From School, The Warning e Ready For The Floor, porém, não menos acessíveis e capazes de capturar a atenção do ouvinte tão logo o registro tem início.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.