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Crítica

a.s.o.

: "a.s.o."

Ano: 2023

Selo: Low Lying Records

Gênero: Trip-Hop, Downtempo

Para quem gosta de: Portishead e Air

Ouça: Rain Down e My Baby's Got It Out For Me

7.6
7.6

a.s.o.: “a.s.o.”

Ano: 2023

Selo: Low Lying Records

Gênero: Trip-Hop, Downtempo

Para quem gosta de: Portishead e Air

Ouça: Rain Down e My Baby's Got It Out For Me

/ Por: Cleber Facchi 05/01/2024

Não fosse o conhecimento prévio, seria fácil pensar no autointitulado registro de estreia do a.s.o. como uma obra perdida da década de 1990. Produto da parceria entre a cantora e compositora Alia Seror-O’Neill e o produtor Lewie Day, ambos australianos residentes em Berlim, na Alemanha, o trabalho de onze canções funciona como uma verdadeira viagem em direção ao passado. Seja pelo tratamento dado às batidas, uso dos sintetizadores e escolha dos timbres, cada mínimo fragmento do material funciona como um aceno para as criações de veteranos do trip-hop, o que não necessariamente compromete a identidade da dupla.

Inaugurado pela atmosférica Go On, com seus sintetizadores retrofuturistas, batidas e vozes submersas, o trabalho diz a que veio logo nos minutos iniciais. É como se a dupla orbitassem o mesmo território criativo de registros como Dummy (1994), do Portishead, e Moon Safari (1998), dos Air, porém, não em um sentido referencial, mas como um produto gerado no mesmo período de tempo. O próprio uso ecoado das bases, sempre em contraste com a bateria seca e completa aspereza das guitarras, torna isso ainda mais evidente.

São composições que se revelam aos poucos, sem pressa, como um convite a se perder em um labirinto de sensações que gera um curiosíssimo senso de familiaridade durante toda a execução da obra. Faixa mais extensa do disco, Rain Down funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto a fluidez das batidas vai de encontro ao mesmo território de nomes como Massive Attack, versos marcados pela força das temáticas buscam estreitar laços com o ouvinte. “E se você me ver caindo / Estendendo a mão para você / Não significa que eu não posso continuar sem você“, detalha Seror-O’Neill em tom libertador.

Mesmo quando rompem com esse resultado, Seror-O’Neill e Day continuam a dialogar com a produção de outros artistas. Em Love In The Darkness, por exemplo, a base soturna e o uso atmosférico das guitarras vai de encontro ao som de Julee Cruise, como uma composição perdida da trilha sonora de Twin Peaks. O mesmo pode ser percebido em True, música que avança em um território de formas enevoadas, proposta que soa como uma natural combinação entre as criações etéreas do Cocteau Twins com o Dead Can Dance.

Independente da direção percorrida, prevalece durante toda a execução do trabalho a formação de uma obra marcada pelos detalhes e evidente refinamento dado aos arranjos. Mesmo próxima ao fechamento do disco, Falling Under destaca o capricho da dupla australiana. Enquanto a voz de Seror-O’Neill surge como um instrumento versátil, assumindo diferentes formatações ao longo da canção, o parceiro de produção não economiza no uso de pequenas inserções. São ambientações sintéticas, efeitos, ruídos e batidas que vão de um canto a outro de maneira totalmente imprevisível, rompendo com qualquer traço de conforto.

Dessa forma, Seror-O’Neill e Day se permitem confessar algumas de suas principais referências criativas de maneira evidentemente explícita, porém, jogando com as possibilidades e ampliando o próprio campo de atuação com uma delicadeza única. São quatro ou mais décadas de diferentes estilos reorganizados dentro de um território bastante característico, por vezes próprio da dupla australiana, mas que a todo momento busca estimular antigas memórias para não apenas atrair, como seduzir e capturar a atenção do ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.