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Crítica

Aaron Frazer

: "Introducing..."

Ano: 2020

Selo: Dead Oceans

Gênero: Pop Rock, Soul, Rock

Para quem gosta de: Whitney, Alabama Shakes e Leon Bridges

Ouça: Bad News, Have Mercy e Over You

7.5
7.5

Aaron Frazer: “Introducing…”

Ano: 2020

Selo: Dead Oceans

Gênero: Pop Rock, Soul, Rock

Para quem gosta de: Whitney, Alabama Shakes e Leon Bridges

Ouça: Bad News, Have Mercy e Over You

/ Por: Cleber Facchi 13/01/2021

Ouvir as canções de Introducing… (2021, Dead Oceans), estreia de Aaron Frazer, é como se transportar para a década de 1960. Deliciosamente inspirado pelo que há de mais característico no R&B/soul produzido durante o período, o trabalho de essência referencial estabelece na nostalgia dos temas um elemento de imediato diálogo com o ouvinte. Composições orientadas pela voz macia do músico original de Baltimore, Maryland, mas que estabelecem no detalhismo dos arranjos a passagem para uma obra maior a cada nova audição, riqueza que embala a experiência do ouvinte até a derradeira Leanin’ on Your Everlasting Love.

Composto, produzido e gravado em parceria com o multi-instrumentista Dan Auerbach (The Black Keys, Lana Del Rey), também responsável pelas guitarras que recheiam o disco, Introducing… estabelece no reducionismo dos elementos a base para grande parte das canções. São pianos e melodias cuidadosamente trabalhadas dentro de estúdio, estrutura que se completa pela percussão encaixada de forma discreta, evocando a sofisticação de Burt Bacharach, porém, de forma a preservar os coros de vozes e riqueza típica de veteranos como Smokey Robinson e Curtis Meyfield.

Não por acaso, Frazer escolheu You Don’t Want To Be My Baby como faixa de abertura do disco. São pouco mais de quatro minutos em que o musico residente na região do Brooklyn, em Nova Iorque, estabelece as regras para o trabalho. Pinceladas instrumentais e poéticas que surgem e desaparecem durante toda a execução da faixa, apontando a direção seguida até o último instante do álbum. Um misto de passado e presente, reverência e busca pela própria identidade criativa, tratamento que faz lembrar de Leon Bridges e outros nomes regidos por uma proposta bastante similar.

Entretanto, enquanto Bridges, dono de obras como Coming Home (2015) e Good Thing (2018), sustenta na voz forte um impacto quase imediato, Frazer avança lentamente. É como se o álbum fosse trabalhado em uma medida própria de tempo, sem pressa. Canções como Love Is e Have Mercy em que o ouvinte é convidado a desvendar cada elemento, proposta que encanta nos minutos iniciais, porém, invariavelmente reflete um trabalho consumido pela própria comodidade. Fragmentos instrumentais e poéticos que dão voltas em torno de um limitado jogo de ideias e experiências sentimentais.

Não por acaso, algumas das principais faixas do disco são justamente aquelas que pervertem parte dessa estrutura. É o caso de Bad News. Da fluidez dada aos versos, passando pelo uso destacado das guitarras e batidas, tudo soa como uma fina desconstrução do material entregue por Frazer ao longo da obra. O mesmo tratamento acaba se refletindo em outros momentos ao longo do trabalho. São faixas como Ride With Me e Over You em que o músico norte-americano rompe com qualquer traço de morosidade, riqueza que vai dos arranjos à evidente força dos vocais.

Dividido entre momentos de maior euforia e composições trabalhadas de forma contida, Introducing… cresce como um exercício essencialmente coeso e equilibrado. Trata-se de uma obra em que Frazer organiza suas ideias, inspirações e preferências estéticas, porém, imprimindo a própria identidade artística de forma a estreitar a relação com o público, conceito que dialoga diretamente com o título do disco. Canções talvez consumidas pelo excessivo diálogo com os clássicos, mas que sustentam no refinamento dos arranjos, melodias e vozes o estímulo para um registro difícil de ser ignorado.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.