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Crítica

ABBA

: "Voyage"

Ano: 2021

Selo: Polar / Universal

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Bee Gees e Fleetwood Mac

Ouça: I Still Have Faith in You e Don't Shut Me Down

7.0
7.0

ABBA: “Voyage”

Ano: 2021

Selo: Polar / Universal

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Bee Gees e Fleetwood Mac

Ouça: I Still Have Faith in You e Don't Shut Me Down

/ Por: Cleber Facchi 16/11/2021

Trabalhos que marcam o retorno de um grande artista são, antes de qualquer coisa, registros de decisões. Afinal, que direção criativa seguir após tamanho período de espera? Para alguns, há sempre o desejo em se reinventar e provar de novas possibilidades dentro de estúdio, para outros, o simples resgate da própria identidade acaba se revelando como a melhor opção. Ainda que pareça uma escolha preguiçosa, essa parece ter sido a alternativa mais segura e inteligente para os suecos do ABBA, grupo que após quatro décadas de hiato está de volta com Voyage (2021, Polar / Universal), nono álbum de inéditas da carreira.

Mesmo que seja possível visualizar caminhos e pensar em inúmeras possibilidades criativas quando observamos tudo aquilo que aconteceu com a música pop desde que Agnetha Fältskog, Björn Ulvaeus, Benny Andersson e Anni-Frid Lyngstad decidiram encerrar as atividades da banda, desde o início da carreira, com Ring Ring (1973), o grupo de Estocolmo nunca prometeu nada além de um som altamente melódico, descomplicado e cantarolável. E é exatamente isso que o quarteto oferece em cada uma das dez composições que abastecem o registro: uma doce e nostálgica viagem em direção ao passado.

Não por acaso, o grupo fez de I Still Have Faith In You a primeira composição do disco a ser apresentada ao público. Inaugurada em meio a sintetizadores atmosféricos, batidas calculadas e vozes cuidadosamente encaixadas de Fältskog e Lyngstad, a faixa traz de volta a essência de músicas como The Winner Takes It All, One of Us e demais criações da banda que se revelam ao público em uma medida própria de tempo. São frações instrumentais e poéticas que não apenas preparam o terreno para o material que será apresentado até a derradeira Ode to Freedom, como costuram passado e presente da banda sueca.

E isso fica ainda mais evidente em Don’t Shut Me Down. Pronta para as pistas, a faixa preserva a essência dançante de obras como Arrival (1976) e Voulez-Vous (1978), porém, dialogando com toda a onda de novos artistas que têm revisitado a música disco nos últimos anos, como Jessie Ware e Carly Rae Jepsen. Essa mesma fluidez atemporal acaba se refletindo logo nos primeiros minutos do trabalho, em When You Danced with Me. Enquanto as harmonias de vozes rapidamente conduzem o ouvinte em direção ao passado, sintetizadores coloridos estreitam a relação com nomes ainda recentes, como Passion Pit.

Dentro desse espaço aberto às possibilidades e canções que parecem dançar pelo tempo, o quarteto ainda investe em uma série de criações bastante curiosas. É o caso de Just a Notion, música originalmente composta para o álbum Voulez-Vous, porém, finalizada somente agora. Mais à frente, surge Keep an Eye on Dan, uma típica canção de personagem, marca da banda, mas que carrega nos sintetizadores e efeitos eletrônicos um precioso senso de renovação. O mesmo acontece em No Doubt About It, faixa de essência retrô que sustenta na completa aceleração dos elementos a passagem para um novo território criativo.

Dessa forma, Voyage cresce como uma obra que preserva a essência do quarteto de forma bastante explícita, porém, livre de qualquer traço de comodidade. É como se a banda fosse capaz de dialogar com uma frente de novos artistas sem necessariamente fazer disso um exercício aberto à colaboração, trilha escolhida por Giorgio Moroder no terrível retorno com Déjà Vu (2015), obra em que força parcerias com nomes como Britney Spears e Charli XCX. São canções que, mesmo na completa ausência de pressa, se resolvem em um curto espaço de tempo, como a passagem para um universo próprio do grupo sueco.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.