Ano: 2024
Selo: Samba Rock
Gênero: MPB, Samba, Jazz
Para quem gosta de: Claudette Soares e Áurea Martins
Ouça: Meus Sapatos e Foi Só Porque Você Não Quis
Ano: 2024
Selo: Samba Rock
Gênero: MPB, Samba, Jazz
Para quem gosta de: Claudette Soares e Áurea Martins
Ouça: Meus Sapatos e Foi Só Porque Você Não Quis
A parceria de Alaíde Costa com Emicida, Pupillo e Marcus Preto continua rendendo bons frutos. Dois anos após o lançamento de O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim (2022), disco que apresentou a cantora a uma nova parcela de ouvintes, a artista carioca retorna com E o Tempo Agora Quer Voar (2024, Samba Rock), trabalho que pouco avança criativamente em relação ao registro que o antecede, porém, estabelece na fina seleção do repertório e versos cuidadosamente interpretados por Costa a verdadeira beleza do material.
Exemplo disso fica mais do que evidente na inaugural Foi Só Porque Você Não Quis, delicada colaboração entre Caetano Veloso, que musicou os versos de Emicida, a partir de um desencontro narrado pela cantora e o artista baiano em 1974. São pouco mais de três minutos em que o vocal macio de Costa atravessa uma tapeçaria de sopros altamente nostálgica, como uma faixa esquecida da década de 1950. É como um lento preparativo para o que se revela de forma ainda mais sofisticada na composição seguinte, Meus Sapatos, melancólica criação de Rashid que ganhou arranjos de Gilson Peranzzetta e foi finalizada por Emicida.
Passada essa meticulosa introdução, Costa reapresenta a já conhecida Ata-Me, canção do pernambucano Junio Barreto que ganha novo significado ao ser observada como parte do repertório montado para E o Tempo Agora Quer Voar. São versos dotados de um romantismo agridoce, sempre imersos em memórias de um passado distante, por vezes enevoado, conceito que acaba se refletindo em Suave Embarcação, de onde vem o verso que concede título ao registro e que ainda se completa pelas vozes de Claudette Soares.
Com a chegada de Bilhetinho, o disco desacelera ainda mais, porém potencializa a voz e os sentimentos expressos por Alaíde a partir da letra composta por Emicida e Luz Ribeiro com arranjos de Rubel. Essa mesma força na aplicação dos vocais fica ainda mais evidente com a chegada de Além de Uma Palavra. Marcada pela interpretação cênica de Costa, lembrando uma canção perdida de Maria Bethânia, a faixa composta por Clara Delgado mais uma vez evidencia a intensa carga emocional que consome o trabalho.
Contraponto a esse resultado, surge Moço. Já conhecida criação de Marisa Monte e Carlinhos Brown, a faixa de atmosfera novelesca segue a trilha do restante da obra, contudo estabelece no andamento dado aos arranjos e maior participação da bateria um precioso componente de renovação. É como se Costa lentamente se afastasse da ambientação soturna que orienta parte expressiva do trabalho para provar de uma abordagem radiante, conceito reforçado pela percussão cristalina e cordas que elevam a canção.
Esse direcionamento progressivo culmina na entrega de Bem Belém. Escolhida para o encerramento do trabalho, a canção, que conta com arranjos de Zé Manoel e letra dividida entre Leonel Pereda e Ronaldo Bastos, avança aos poucos, destacando o vibrafone de Jota Moraes. São inserções sutis que concedem à faixa um toque mágico, estrutura que se completa pela letra marcada pela passagem do tempo, temática que acompanha o ouvinte desde a composição de abertura, Foi Só Porque Você Não Quis, e segue até os momentos finais. O tempo agora quer voar, mas a voz e os sentimentos de Alaíde Costa permanecem.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.