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Ano: 2021

Selo: Garganta Records / Ori Records / Yb Music

Gênero: MPB, Ciranda, Eletrônica

Para quem gosta de: Lia de Itamaracá e Juçara Marçal

Ouça: Borda da Pele e A Hora É Minha

8.4
8.4

Alessandra Leão: “Acesa”

Ano: 2021

Selo: Garganta Records / Ori Records / Yb Music

Gênero: MPB, Ciranda, Eletrônica

Para quem gosta de: Lia de Itamaracá e Juçara Marçal

Ouça: Borda da Pele e A Hora É Minha

/ Por: Cleber Facchi 25/11/2021

Produto final de um intenso processo criativo, Acesa (2021, Garganta Records / Ori Records / Yb Music) é apenas uma parte do exercício proposto por Alessandra Leão nos últimos anos. Sequência ao material entregue pela cantora, compositora e produtora pernambucana no contemplativo Macumbas e Catimbós (2019), registro que encanta pelo completo minimalismo dos elementos, o trabalho de essência documental se organiza a partir de processos. Primeiro, a artista realizou conversas em caminhadas livres com mestres, músicos e líderes religiosos de Pernambuco, Paraíba e São Paulo ligados às tradições do coco, ciranda, maracatu, jurema, umbanda e candomblé. Registrados em vídeo, esses diálogos se transformaram em uma série de 15 episódios e no precioso alicerce conceitual que abastece as canções do presente disco.

Partindo desse olhar para as manifestações artísticas e religiosas localizadas no Nordeste do país, Leão e o co-produtor Caê Rolfsen, com quem havia trabalhado no disco anterior, entregam ao público uma obra que preserva o caráter orgânico e riqueza das tradições, mas que se permite provar de novas possibilidades e diferentes direções criativas. São fragmentos instrumentais, rítmicos e poéticos que partem de uma base essencialmente ritualística, porém, completa pela inserção de ruídos sintéticos e efeitos eletrônicos que ampliam de forma significativa tudo aquilo que a artista pernambucana havia testado anteriormente.

Não por acaso, Leão fez de Borda da Pele a primeira composição do disco a ser revelada ao público. Enquanto a percussão de Guilherme Kastrup, Mestre Nico e Bruno Prado parece apontar a direção seguida ao longo da faixa, camadas de sintetizadores e ambientações delirantes garantem maior profundidade ao material. São pouco menos de quatro minutos em que a cantora e Rolfsen parecem brincar com as possibilidades dentro de estúdio. É como se a artista seguisse exatamente de onde parou durante o lançamento de Macumbas e Catimbós, porém, utilizando de uma abordagem totalmente imprevisível, torta.

Esse mesmo direcionamento criativo acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo do trabalho. São canções como Sombra do Dia e Carminha em que Leão utiliza da sobreposição dos elementos de forma a hipnotizar o ouvinte. Batidas, melodias, ruídos e vozes que se entrelaçam em uma combinação sempre ritualística, como uma interpretação reformulada e futurística das rodas de ciranda. Mesmo quando desacelera, como na atmosférica Pé de Baobá, a estrutura permanece a mesma. Um lento desvendar de ideias e experiências que se reflete com naturalidade até a carnavalesca Marcha Pra Ninar.

Nada que prejudique a construção de faixas ainda íntimas dos antigos trabalhos produzidos por Leão. E isso fica bastante evidente na série de colaborações que surgem ao longo da obra. São músicas como A Hora é Minha, com Lia de Itamaracá, e Rosa Tá Dizendo, em parceria com Odete de Pilar, em que os sintetizadores assumem uma formação menos ruidosa, valorizando a percussão tradicional e o uso das vozes, sempre destacadas. O próprio uso de interlúdios, captações ao vivo e fragmentos extraídos das andanças da artista durante o processo de construção do registro parece contribuir para esse resultado.

Tamanha pluralidade de ideias faz de Acesa uma obra que continua a reverberar na cabeça do ouvinte mesmo após o encerramento do trabalho. Para além da construção das batidas, melodias e vozes que dão vida aos sentimentos e histórias cantadas por Leão e seus convidados, difícil não pensar no presente álbum como uma obra viva. São composições que preservam a essência e parte da atmosfera detalhada em Macumbas e Catimbós, porém, estabelecem em uma série de elementos externos, como nas conversas documentadas pela cantora, uma variedade de elementos que garantem maior profundidade ao disco.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.