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Crítica

Alex G

: "God Save the Animals"

Ano: 2022

Selo: Domino

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Car Seat Headrest e Jay Som

Ouça: Runner, Blessing, Miracles

8.5
8.5

Alex G: “God Save the Animals”

Ano: 2022

Selo: Domino

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Car Seat Headrest e Jay Som

Ouça: Runner, Blessing, Miracles

/ Por: Cleber Facchi 30/09/2022

O vocal altamente distorcido, quase irreconhecível, arranjos que oscilam entre formatações acústicas e diálogos com a produção eletrônica, ruídos e captações caseiras. Você não precisa ir além de After All, música de abertura em God Save the Animals (2022, Domino) para ser prontamente transportado para o mais novo álbum de Alex G. Sequência ao material entregue pelo cantor, compositor e produtor norte-americano em House of Sugar (2019), o novo disco oscila entre momentos de maior experimentação e faixas que parecem capturar a atenção do ouvinte logo em uma primeira audição, como um acumulo natural de tudo aquilo que o artista da Pensilvânia tem incorporado em mais de uma década de carreira.

Propositadamente instável, como tudo aquilo que caracteriza as criações de Alexander Giannascoli, o registro produzido em parceria com o multi-instrumentista e velho colaborador Jacob Portrait, do Unknown Mortal Orchestra, mostra o artista em sua melhor forma. São composições que parecem extraídas de uma estranha estação de rádio. Canções que fazem lembrar as criações de veteranos dos anos 1980 e 1990, porém, totalmente fragmentadas, tortas, como se adaptadas ao estranho universo criativo do compositor que costuma se dividir entre estúdios profissionais e espaços improvisados de gravação.

Dessa forma, sempre que tende ao óbvio, o músico perverte qualquer traço de conforto e inverte os rumos da obra de maneira a tensionar a experiência do ouvinte. A própria escolha de Blessing como primeira faixa do disco a ser apresentada ao público funciona como uma boa representação desse resultado. Entre guitarras labirínticas e vozes sussurradas, sempre duplicadas, Giannascoli vai de encontro ao mesmo território criativo do Pixes, brincando com a desconstrução dos elementos. “Todo dia / É uma benção / Enquanto eu ando / Através da lama“, canta em um misto de esperança cega e fino toque de amargura.

São essas pequenas contradições poéticas e composições que oscilam entre experiências religiosas e questões existenciais que tornam a experiência de ouvir o trabalho tão satisfatória. Diferente dos antigos trabalhos, em que parecia mergulhar nas próprias inquietações, Giannascoli se aprofunda em temas que parecem menos abstratos e capazes de dialogar com uma parcela ainda maior do público. “Você e eu temos pílulas melhores que ecstasy / Elas são milagres e cruzes“, detalha em Miracles, canção marcada pelo uso de pequenos simbolismos e uma síntese do território desbravado pelo artista ao longo da obra.

Com todos esses elementos em mãos, Giannascoli faz de God Save the Animals um de seus trabalhos mais complexos e conceitualmente diversos. Enquanto músicas como S.D.O.S. se aprofundam em ambientações soturnas, formas pouco usuais e vozes maquiadas pelo auto-tune, outras como Runner concentram o que há de mais delicado e acolhedor no som produzido pelo artista. “Eu gosto de pessoas com quem posso me abrir / Quem não julga pelo que eu digo, mas me julga pelo que eu faço“, canta. Mesmo composições já conhecidas, como Cross The Sea, ganham novo significado quando observadas como parte do registro.

Tamanha combinação de elementos resulta na construção de um trabalho que amplia o repertório de Giannascoli, porém, preserva a identidade criativa do músico estadunidense durante toda sua execução. Como indicado logo nos minutos iniciais da obra, tudo gira em torno de um material marcado pelas distorções, quebras conceituais e uso de pequenas corrupções estéticas que vem sendo aprimoradas e incorporadas desde os primeiros registros. Um misto de conforto e permanente senso de renovação, proposta que potencializa tudo aquilo que o artista havia testado durante o lançamento do álbum anterior.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.