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Crítica

Alice Glass

: "PREY//IV"

Ano: 2022

Selo: Eating Glass

Gênero: Pop, Hyperpop, Eletrônica

Para quem gosta de: Grimes e Yeule

Ouça: Love Is Violence e Baby Teeth

7.0
7.0

Alice Glass: “PREY//IV”

Ano: 2022

Selo: Eating Glass

Gênero: Pop, Hyperpop, Eletrônica

Para quem gosta de: Grimes e Yeule

Ouça: Love Is Violence e Baby Teeth

/ Por: Cleber Facchi 25/02/2022

Primeiro álbum de Alice Glass em carreira solo, PREY//IV (2022, Eating Glass) é um verdadeiro exercício de libertação. Sequência ao homônimo EP de inéditas que marca a saída da cantora e compositora do Crystal Castles, projeto em que atuou como vocalista durante quase uma década, o registro preserva parte expressiva dos elementos que fizeram da artista um dos nomes mais importantes e influentes do período, porém, utiliza de uma abordagem ainda mais caótica e confessional. São canções que detalham os abusos cometidos pelo antigo parceiro de banda, Ethan Kath, incorporam momentos de maior vulnerabilidade vividos por Glass e tensionam fortemente a experiência do ouvinte durante toda a execução do material.

Exemplo disso fica bastante evidente em I Trusted You. Uma das primeiras composições do álbum a serem apresentadas ao público, a faixa reflete o que há de mais doloroso nas experiências compartilhados por Glass. “Eu confiei em você / Agora estou brava por ter desperdiçado“, detalha em meio a sintetizadores densos, ruídos e batidas sempre calculadas, como um complemento aos versos que se espalham em uma nuvem de ambientações e vozes sempre carregadas de efeitos. Instantes em que a artista se entrega por completo, como uma manifestação dolorosa das emoções, traumas e conflitos que consomem o disco.

Entretanto, sobrevive nos momentos de maior urgência e curioso diálogo com a música pop a passagem para algumas das composições mais expressivas do disco. É o caso de Love Is Violence. Enquanto os versos refletem o que existe de mais doloroso na obra de Glass – “Eles são complacentes, estou sufocando / Eu vou te cortar com um sorriso / É a minha dor como a atração principal” –, batidas tortas ganham forma e crescem de forma versátil, transportando o ouvinte para diferentes cenários. É como se a artista dialogasse de forma totalmente caótica com a obra de Charli XCX, Dorian Electra e outros nomes ainda recentes.

Essa mesma aceleração e insano processo de criação acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo da obra. São músicas como Baby Teeth e Fair Game, já conhecidas do público, em que Glass traz de volta uma série de conceitos originalmente testados no Crystal Castles, porém, utilizando de uma abordagem ainda mais acessível. Perfeita representação desse resultado acontece em Suffer and Swallow. Pouco menos de três minutos em que a artista parte de uma estrutura convencional, mas que se completa pela inexata fragmentação dos elementos, vozes sempre carregadas de efeitos e instantes de maior instabilidade.

Muito desse resultado vem da escolha de Glass em mais uma vez colaborar ao lado de Jupiter Keys. Ex-integrante da banda de noise rock HEALTH e parceiro de longa data da artista, o produtor norte-americano parece ter alcançado um ponto de equilíbrio entre o que existe de mais acessível e torto no som incorporado pela cantora. São camadas de sintetizadores e ruídos sempre controlados, estrutura que se completa construção das batidas e pequenas quebras rítmicas, como uma extensão natural de tudo aquilo que foi apresentado no registro anterior, de onde vieram composições como Forgiveness e Without Love.

O problema é que isso é exatamente o que se esperava de um primeiro álbum de Glass em carreira solo. Embora consistente e repleto de boas composições, PREY//IV pouco acrescenta quando voltamos os ouvidos para tudo aquilo que a cantora tem produzido desde os anos 2000. Com exceção do esforço em dialogar com uma parcela ainda maior do público, efeito direto da curiosa interpretação sobre a música pop, tudo soa como uma permanente reciclagem de ideias e conceitos. Canções que poderiam facilmente se perder após uma breve audição do trabalho, mas que ganham novo significado quando percebemos a forte carga emocional e entrega da artista mesmo nos momentos de maior comodidade do disco.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.