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Crítica

Amaarae

: "The Angel You Don't Know"

Ano: 2020

Selo: Sad Saints Angry Angels

Gênero: R&B, Pop, Rock

Para quem gosta de: Tierra Whack, NAO e Noname

Ouça: Leave Me Alone e Fantasy

8.3
8.3

Amaarae: “The Angel You Don’t Know”

Ano: 2020

Selo: Sad Saints Angry Angels

Gênero: R&B, Pop, Rock

Para quem gosta de: Tierra Whack, NAO e Noname

Ouça: Leave Me Alone e Fantasy

/ Por: Cleber Facchi 23/11/2020

Se você olhar para a imagem de capa de The Angel You Don’t Know (2020, Sad Saints Angry Angels), estreia de Ama Serwah Genfi, a Amaarae, vai perceber uma colorida colagem de ideias, formas e diferentes estéticas. Propositado ou não, esse é justamente o direcionamento incorporado pela cantora e compositora nova-iorquina durante toda a execução do álbum. São canções que vão do R&B ao rock, do experimentalismo eletrônico ao pop de forma sempre irregular, torta, como se a artista que cresceu em Accra, capital de Gana, transportasse para dentro de estúdio parte das próprias vivências e tudo aquilo que vem testando desde o início da carreira.

E isso se reflete logo nos primeiros minutos do trabalho, na sequência composta por D*A*N*G*E*R*O*U*S, Fancy e Fantasy. São pouco mais de seis minutos em que o ouvinte é confrontado pela crueza das guitarras, partilha do mesmo bedroom pop incorporado por nomes como Clairo e Jay Som, e termina mergulhado em um trap latino que poderia facilmente ser encontrado em algum disco recente de Bad Bunny. É como se Amaarae testasse os próprios limites dentro de estúdio, costurando diferentes abordagens conceituais, porém, preservando a própria identidade criativa.

E isso se reflete, principalmente, na forma como os versos são incorporados ao longo da obra. Como indicado durante o lançamento de Passionfruit Summers EP (2017), registro que apresentou o trabalho da cantora há três anos, Amaarae se concentra na produção de um repertório marcado pelo forte aspecto sentimental dos versos. São canções em que parte de desilusões amorosas, crises existenciais e momentos de maior melancolia, estabelecendo um diálogo quase imediato com o ouvinte. Instantes em que reflete a mesma vulnerabilidade de nomes como NAO e Noname, ainda que imersa em um cenário marcado pela constante corrupção das ideias.

Você está bagunçando meu espaço mental, cara / Você está explodindo … Eu quero que você apenas me deixe em paz / Eu quero ficar sozinha“, canta em Leave Me Alone, canção em que sintetiza parte do lirismo angustiado que serve de sustento ao disco. Mesmo quando celebra o amor e o sexo, como em Trust Fund Baby, Amaarae preserva o forte aspecto intimista do álbum, utilizando de sensações e experiências particulares como estímulo para a formação dos versos. “Lençóis de algodão de seda / Dance contra minhas omoplatas / Sirva na colher de prata / Desistiria de tudo por você“, confessa em meio a batidas reducionistas e arranjos delicados.

Interessante notar que mesmo marcado pelo forte caráter intimista, The Angel You Don’t Know encanta justamente pela forma como Amaarae estreita a relação com diferentes nomes do novo pop africano. São artistas como o nigeriano Cruel Santino e o conterrâneo ganês Kojey Radical, com quem divide a excelente Jumping Ship, música que sintetiza a capacidade da cantora em dialogar com uma parcela ainda maior do público, porém, preservando o minimalismo do restante da obra. O mesmo tratamento acaba se refletindo em outras composições no decorrer do trabalho, como Céline e Feel Away, sempre acompanhada por diferentes colaboradores.

De essência diversa, The Angel You Don’t Know não apenas assume a função de apresentar o som produzido por Amaarae, como deixa o caminho aberto para os futuros trabalhos da artista nova-iorquina. Da melancolia tropical que toma conta de Sad, U Broke My Heart, 3AM e Leave Me Alone, passando pelo rap torto de Hellz Angel, canção que evoca as criações de Tierra Whack, cada fragmento do disco parece transportar o ouvinte para um território diferente, conceito que se reflete não apenas no tratamento dado às batidas, melodias e temas instrumentais, mas principalmente aos versos, sempre marcados pelo desejo da artista em ressignificar todo e qualquer traço de sentimento.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.