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Crítica

Ambar Lucid

: "Garden of Lucid"

Ano: 2020

Selo: Independente

Gênero: Indie, Badroom Pop, Indie Pop

Para quem gosta de: Vagabon, Nilüfer Yanya e Clairo

Ouça: Fantasmas e Questioning My Mind

7.5
7.5

Ambar Lucid: “Garden of Lucid”

Ano: 2020

Selo: Independente

Gênero: Indie, Badroom Pop, Indie Pop

Para quem gosta de: Vagabon, Nilüfer Yanya e Clairo

Ouça: Fantasmas e Questioning My Mind

/ Por: Cleber Facchi 29/04/2020

Em um cenário historicamente dominado por homens brancos, Amber Lucid nasce como uma alternativa necessária. De ascendência dominicana e mexicana, porém, residente em Nova Jersey, a jovem artista tem investido na composição de um badroom pop bilíngue e deliciosamente intimista. Canções como A Letter To My Younger Self e Letting Go, base para o introdutório Dreaming Lucid (2019), mas que ganham ainda mais destaque no repertório montado para o segundo álbum de estúdio da musicista norte-americana, Garden of Lucid (2020, Independente).

Feito para ser desvendado aos poucos, sem pressa, o trabalho que conta com co-produção de The Wavys vai do pop latino ao R&B em uma criativa colagem de referências. Instantes em que a musicista parece dialogar com a obra de contemporâneas como Vagabon e Nilüfer Yanya, porém, de forma sempre autoral, conceito que se reflete em algumas das principais faixas do disco. É o caso da já conhecida Story To Tell. Uma das primeiras canções do álbum a serem apresentadas ao público, a música se revela ao público em pequenas doses. São melodias ensolaradas e versos melancólicos que se entrelaçam de forma detalhista, minúcia que se reflete até a homônima composição de encerramento.

Mesmo a faixa de abertura do álbum, Garden, evidencia esse cuidado de Lucid no processo de composição da obra. Do uso das guitarras à lenta inserção das vozes, tudo parece trabalhado em uma medida própria de tempo. “Há muita beleza aqui / Mas também tristeza … Como você vai sairá no final? / Você permitirá que o jardim fale?“, questiona enquanto prepara o terreno para o cenário metafórico que serve de sustento ao disco. Canções que vão da melancolia à doce libertação, como um convite a partilhar dos temas e experiências mais sensíveis já vividas pela artista.

Canções sempre marcadas pela dualidade dos sentimentos e versos ora cantados em inglês, ora em espanhol. Exemplo disso está na crescente Universe, oitava faixa do disco. São pouco mais de três minutos em que Lucid convida o ouvinte a mergulhar em um território marcado por inquietações e conflitos particulares, conceito reforçado pela força dos arranjos e temas instrumentais. “Eu realmente não quero te mostrar o que estou sentindo / Minha realidade tem sido algo que estou sonhando / Eu pertenço ao universo“, canta enquanto arrasta o ouvinte cada vez mais para dentro da obra, como uma natural extensão do material entregue em Dreaming Lucid.

São faixas como Fantasmas (“Seu fantasma mora aqui / Por que demorou tanto tempo para você ver?“) e Shades of Blue (“Ainda vamos nos encontrar? / Eu não quero ter que esconder / Todos os meus diferentes tons de tristeza“), em que a artista parte de experiências pessoais como forma de dialogar com o ouvinte. Canções pontuadas por questões existencialistas, relacionamentos fracassados e versos sempre regidos pelo isolamento do eu lírico. Um delicado exercício criativo que não apenas preserva, como sutilmente amplia tudo aquilo que a cantora havia testado no disco anterior.

Convite a se perder em um universo particular da artista de Nova Jersey, proposta evidente logo na imagem de capa do disco, Garden of Lucid nasce como uma obra que exige ser desvendada pelo ouvinte. Mesmo que seja facilmente absorvida logo em uma primeira audição, vide músicas como as acessíveis Story To Tell e Questioning My Mind, sobrevive nos pequenos detalhes e fragmentos espalhados por toda a obra o real componente de destaque do álbum. São texturas de guitarras, frações minimalistas e vozes tratadas como instrumentos, proposta que ganha ainda mais destaque a cada nova audição.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.