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Crítica

Amber Mark

: "Three Dimensions Deep"

Ano: 2022

Selo: PMR

Gênero: R&B, Neo-Soul, Pop

Para quem gosta de: Jorja Smith, SZA e Chloe x Halle

Ouça: Foreign Things e Worth It

8.2
8.2

Amber Mark: “Three Dimensions Deep”

Ano: 2022

Selo: PMR

Gênero: R&B, Neo-Soul, Pop

Para quem gosta de: Jorja Smith, SZA e Chloe x Halle

Ouça: Foreign Things e Worth It

/ Por: Cleber Facchi 31/01/2022

Filha de pai jamaicano e mãe alemã, Amber Mark nasceu no Tennessee, porém, passou grande parte da infância e adolescência viajando pelo mundo. Foram diferentes países, incluindo um longo período de habitação em um monastério em Darjeeling, na Índia, onde se envolveu fortemente com a cultura local. Desse permanente cruzamento de fronteiras e contato direto com outros povos veio a relação da artista com a música, sempre diversa, pluralidade que acaba se refletindo de forma bastante sensível em cada uma das canções que abastecem o primeiro trabalho da cantora Three Dimensions Deep (2022, PMR).

Produto final de um lento processo de amadurecimento artístico que teve início há meia década, quando deu vida ao bem-sucedido 3:33am (2017), Mark faz do presente disco uma criativa combinação de ideias e referências que apontam para os mais variados campos da música. São canções que costuram passado e presente da produção negra, porém, de forma sempre particular, direcionamento explícito durante o lançamento do EP Conexão (2018), de onde vieram faixas como Love Me Right e a versão para Love Is Stronger Than Pride, de Sade, mas que ganha novo e delicado tratamento no fino repertório que embala a experiência do ouvinte até a composição de encerramento do trabalho, a atmosférica Event Horizon.

Uma vez imersa nesse ambiente de formas flutuantes e versos confessionais, Mark transita por entre estilos, porém, utiliza dos próprios sentimentos como um importante componente de aproximação entre as faixas. E isso fica bastante evidente na dobradinha formada por Darkside e a já conhecida Worth It. Pouco mais de sete minutos em que a cantora, sem necessariamente romper com um mesmo direcionamento poético, vai do funk pulsante que evoca nomes como Janet Jackson ao R&B produzido na última década. A própria Foreign Things, com seus ecos de reggae e variações inusitadas, em nenhum momento diminui a força dos versos sutilmente lançados pela artista. “Se você precisar de mim, estarei aqui a noite toda“, confessa.

Vem justamente dessa criativa combinação de ritmos e sentimentos o estímulo para o fortalecimento da obra. São canções que vão de um canto a outro sem necessariamente fazer disso a passagem para um trabalho confuso. Instantes em que Mark vai da ambientação tropical de Softly, com suas sobreposições e entalhes percussivos, ao pop retrofuturista de FOMO, música que parece saída do último disco de Dua Lipa, Future Nostalgia (2020). Claro que isso não interfere na produção de músicas ainda íntimas dos antigos registros da cantora, vide o R&B atmosférico de Cosmic e a doce nostalgia que toma conta de What It Is.

O problema é que nesse esforço de apresentar um repertório que transita por diferentes estilos, Mark invariavelmente estende a duração do álbum para além do tempo necessário. Parte dessa sensação vem da tentativa da artistas em organizar o registro em três blocos específicos de composições – Without, Withheld e Within –, mas que nunca ficam exatamente claros para o ouvinte. O resultado desse processo está na entrega de uma obra exageradamente longa. Canções como Turnin’ Pages, Bliss e Out Of This World que poderiam facilmente entregues ao público em uma edição especial de Three Dimensions Deep.

Embora extenso e consumido por pequenos excessos, Three Dimensions Deep em nenhum momento deixa de surpreender o ouvinte. Do momento em que tem início, no som empoeirado de One, música concebida a partir de fragmentos de Dear Bobby (The Note), de Bobby Bland, passando pela ressignificação de faixas já conhecidas, caso de Softly e Competition, difícil não se deixar conduzir pela experiência proposta por Mark. É como um acumulo natural de tudo aquilo que a cantora tem produzido e revelado ao público desde o início da carreira, porém, partindo de uma abordagem ainda mais tocante e musicalmente diversa.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.