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Crítica

André Paixão

: "Fora de Ritmo"

Ano: 2023

Selo: Super Discos

Gênero: Indie, MPB

Para quem gosta de: Kassin e Domenico Lancellotti

Ouça: Amor Egoísta, Maduro e Sabor do Equilíbrio

7.8
7.8

André Paixão: “Fora de Ritmo”

Ano: 2023

Selo: Super Discos

Gênero: Indie, MPB

Para quem gosta de: Kassin e Domenico Lancellotti

Ouça: Amor Egoísta, Maduro e Sabor do Equilíbrio

/ Por: Cleber Facchi 08/01/2024

Conhecido pela identidade de Nervoso, título conquistado pelo jeito frenético de tocar bateria, André Paixão atravessou o final da década de 1990 e início dos anos 2000 em uma sequência de projetos de enorme valor artístico para a cena alternativa do Rio de Janeiro. Do introdutório Beach Lizards, passando pelo colaborativo Acabou La Tequila, Lafayette & Os Tremendões, Matanza e até Los Hermanos, sobram momentos em que o percussionista deixou sua marca. Interessante perceber em Fora de Ritmo (2024, Super Discos), primeiro trabalho com o próprio nome, um acumulo natural de todas essas experiências.

Concebido em um intervalo de mais de uma década, passando por 12 diferentes estúdio, Fora de Ritmo é um registro que, assim como o próprio processo de manufatura, exige ser absorvido aos poucos, sem pressa. Parte desse resultado vem não apenas do esforço do compositor em mergulhar em tormentos particulares, como na decisão em entregar a bateria, sua principal ferramenta de trabalho, nas mãos de diferentes nomes da cena brasileira. O resultado desse processo está na formação de uma obra marcada pelo forte aspecto contemplativo, como um passeio pelas dores, memórias e desilusões vividas por Paixão.

Sem você meu mundo é cinza / Sem contraste / E sem proveito“, canta logo nos minutos iniciais do disco, em O Colecionador de Céus. Orientada pela bateria de Biba Meira (DeFalla) e completa pelas vozes Katia Jorgensen, a composição sintetiza de forma bastante eficiente o fino toque de melancolia que se apodera do trabalho, como uma representação do recente término de relacionamento vivido por Paixão e a atriz Guta Stresser, com quem esteve junto durante 14 anos, mas que parece ir além de uma temática específica. É como um exercício de amadurecimento pessoal que parte das experiências do compositor carioca, mas que a todo momento busca estreitar laços com as inquietações e diferentes vivências do próprio ouvinte.

Exemplo disso fica bastante evidente com a chegada de Maduro, faixa que cresce na bateria de Domenico Lancellotti, destacando o aspecto reflexivo que orienta o trabalho, porém, livre do direcionamento moroso e base compacta que se estabelece em parte expressiva do álbum. “Quando a gente vê que as coisas não vão muito bem / O outro lado não entende e pega um novo trem / E vai sem voltar“, canta em meio a melodias e vozes quase radiantes. São justamente esses pequenos contrastes que tornam o processo de audição tão satisfatório. Composições que orbitam um mesmo território criativo, reforçando o caráter pessoal de Paixão na construção dos versos, mas que a todo momento levam o disco para outras direções.

Instantes em que Paixão vai da melancolia inebriante de Amor Egoísta, com bateria de Wilson das Neves (1936 – 2017), à doce psicodelia que se apodera de Sabor de Equilíbrio, em companhia de Rodrigo Barba. Um colorido catálogo de ideias que sutilmente transita por entre estilos, porém, estabelece na construção dos versos e emoções do próprio realizador um importante componente de amarra. Claro que nem todas essas composições parecem fluir com a mesma naturalidade. É o caso de Franchement, faixa que mesmo executada com competência junto de Guto Goffi (Barão Vermelho), parece deslocada do restante da obra.

Ainda assim, se levarmos em consideração o tempo que Paixão levou para finalizar o trabalho, Fora de Ritmo se revela como um material bastante consistente. Do momento em que tem início, na já citada O Colecionador de Céus, passando pela construção de músicas como O Ladrão de Vírgulas, com Marcelo Callado, e Vestido Vermelho, junto de Pupillo, evidente é o esmero e capacidade do artista em costurar cada uma das composições que integram o disco. Canções que servem de passagem para um universo particular, contudo, nunca herméticas e sempre abertas ao dialogo emocional com qualquer ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.