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Ano: 2022

Selo: Taurina

Gênero: MPB, R&B, Neo-Soul

Para quem gosta de: Céu e Tulipa Ruiz

Ouça: Benta e Sangue Mioma

8.5
8.5

Anelis Assumpção: “Sal”

Ano: 2022

Selo: Taurina

Gênero: MPB, R&B, Neo-Soul

Para quem gosta de: Céu e Tulipa Ruiz

Ouça: Benta e Sangue Mioma

/ Por: Cleber Facchi 14/12/2022

Entre amigos imaginários e elementos astrológicos, Anelis Assumpção sempre encarou a própria obra como um espaço aberto à colaboração. Entretanto, ao mergulhar no fino repertório de Sal (2022, Taurina), mais recente empreitada criativa da artista paulistana em carreira solo, esse permanente atravessamento de informações e diálogo com diferentes parceiros ganha novo significado. Embora carregue a assinatura da cantora, sobrevive na construção das faixas a interferência direta de um seleto time de compositoras, instrumentistas, produtoras e vozes que trazem novos temperos e sabores ao trabalho de Assumpção.

Não por acaso, Sal talvez seja o registro mais plural do repertório da artista paulistana. Com Uva Niágara como música de abertura, Assumpção se espalha em um misto de canto e rima, transforma o próprio corpo nas ruas de São Paulo e transita por entre estilos enquanto estreita relações com a baiana Larissa Luz. É como um ensaio para o chega logo em sequência em uma das principais composições do disco, Benta. Completa pela participação de Luedji Luna, a faixa composta em colaboração com Céu e Thalma de Freitas, parceiras no Negresko Sis, destaca a sensibilidade dos versos e temática da hereditariedade que ecoa em parte expressiva do material. “Saudade é amor que fica“, detalha em meio a arranjos ensolarados.

Passado esse momento de breve euforia, Sal encolhe para confessar sentimentos na reducionista Violeta Blue. São batidas e bases labirínticas, estrutura que se completa pela produção e vozes instrumentais assinadas em parceria com Céu. O mesmo direcionamento minucioso volta a se repetir minutos à frente, em Empírica. Acompanhada de Jadsa, Assumpção flutua em meio a ambientações marofadas de dub, proposta que ainda abre passagem para Rasta, criação de essência letárgica co-produzida por Mahmundi, mas que conta com versos assumidos em colaboração com nomes como Liniker, Gustavo e Tulipa Ruiz.

Com a chegada de Manadeiro, criação de Pipo Pegoraro e Serena Assumpção (1977 – 2016), irmã de Anelis, a artista paulistana mais uma vez muda os rumos da obra e desemboca em um ambiente de emanações acústicas, potencializando o delicado encontro com a amiga Thalma de Freitas. A própria Sinhá Sereia, interlúdio assumido por Dona Ancide, soa como uma extensão natural desse resultado e ainda se conecta diretamente à ótima Pouso de Ave Rara. Com participação da baiana Josyara, a composição destaca o lado contemplativo e místico do trabalho, direcionamento reforçado durante toda a segunda metade do registro.

Embora repleto de participações especiais e encontros com diferentes parceiros criativos, interessante perceber na “solitária” Sangue Mioma, uma das principais composições do disco. Com vozes assumidas integralmente por Assumpção, a faixa produzida em parceria com Iara Rennó destaca não somente o lirismo apurado da artista paulistana, como abre passagem para o que há de mais experimental no som produzido em Sal. São incontáveis camadas instrumentais, texturas e efeitos que se conectam à percussão que surge e desaparece durante toda a execução do material, como um complemento direto aos vocais.

Partindo desse cruzamento de informações, Assumpção abre passagem para o fechamento do trabalho. Diferente de tudo que se apresenta ao longo da obra, Clitórias, parceria com Ava Rocha, mais uma vez destaca a forte carga emocional que consome o álbum. São versos que se aprofundam nas experiências e alma feminina, estrutura que se completa pela participação de Maíra Freitas. Instantes em que a artista se entrega por completo e ainda conduz o ouvinte para a derradeira Mais Uma Volta. Acompanhada pelo marido e parceiro criativo Curumin, a cantora não apenas garante o fechamento ideal ao disco, como destaca o aspecto cíclico dos versos e necessário regresso a fim de saborear todas as nuances do material.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.