Image
Crítica

Angel Olsen

: "Big Time"

Ano: 2022

Selo: Jagjaguwar

Gênero: Folk, Alt. Country

Para quem gosta de: Sharon Van Etten e Big Thief

Ouça: All the Good Times e Right Now

8.5
8.5

Angel Olsen: “Big Time”

Ano: 2022

Selo: Jagjaguwar

Gênero: Folk, Alt. Country

Para quem gosta de: Sharon Van Etten e Big Thief

Ouça: All the Good Times e Right Now

/ Por: Cleber Facchi 13/06/2022

Os meses que antecedem as gravações de Big Time (2022, Jagjaguwar), sexto e mais recente trabalho de estúdio de Angel Olsen, foram bastante turbulentos para a cantora e compositora norte-americana. Em um intervalo de poucos dias, a artista que havia acabado de se revelar como homossexual, foi surpreendida com a notícia do falecimento do próprio pai, que morreu durante o sono, aos 89 anos, e, semanas depois, com a partida da mãe, vítima de insuficiência cardíaca, aos 78 anos. Mesmo consumida pela dor, Olsen decidiu não adiar as sessões que já havia agendado e fez disso um melancólico estímulo para o material.

Não por acaso, parte expressiva das canções que embalam o sucessor de All Mirrors (2019) giram em torno de temas como saudade, partida e separação. A diferença em relação a outros trabalhos revelados pela artista, como os também dolorosos Burn Your Fire for No Witness (2014) e My Woman (2016), está na forma como Olsen parece aceitar a própria condição. “Acho que é hora de acordar desta viagem em que estivemos … Obrigado pela carona / E todos os bons momentos“, canta logo nos primeiros minutos do disco, na já conhecida All The Good Times, composição que aponta a direção seguida ao longo do registro.

Dessa forma, Big Time cresce como uma obra consumida pelos sentimentos, porém, nunca desoladora ou minimamente arrastada, evidenciando o domínio criativo e perfeito equilíbrio da artista durante toda a execução do material. São composições que alternam entre a melancolia dos temas e o sentimento de libertação, estrutura que embala a experiência do ouvinte até os minutos finais. “Difícil ficar para sempre / Mas estou lhe dizendo agora / Se estamos separados ou aqui juntos / Eu preciso ser eu mesma“, reforça em Right Now, música que não apenas destaca a sensibilidade dos versos como a potência dada aos arranjos.

Pela primeira vez acompanhada pelo produtor e multi-instrumentista Jonathan Wilson (Father John Misty, Bonnie “Prince” Billy), Olsen investe na construção de um repertório marcado pelo uso de faixas ascendentes. São canções que partem de uma ambientação contida, utilizando de elementos da música country, porém, completas pela criativa sobreposição dos arranjos e vozes sempre destacadas, fortes. Exemplo disso fica bastante evidente em Go Home, faixa que avança em uma medida própria de tempo, sem pressa, valorizando cada mínimo fragmento poético detalhado pela artista. “Como posso continuar? / Com todos aqueles velhos sonhos / Se eu sou o fantasma agora / Vivendo aquelas cenas antigas“, reflete.

Claro que isso não interfere na entrega de faixas menores, também regidas pelo mesmo direcionamento melancólico. São canções como a atmosférica Dream Thin, precioso exercício criativo em que utiliza de sintetizadores reducionistas de forma a envolver a letra marcada pelo forte caráter onírico. A própria composição de encerramento do disco, Chasing The Sun, encanta pelo tratamento dado aos pianos e lenta costura dos arranjos. Instantes em que Olsen traz de volta uma série de elementos originalmente testados durante a montagem do álbum anterior, porém, provando de diferentes temáticas, dores e sensações.

Um dos trabalhos mais dolorosos já apresentados por Olsen, Big Time parte de um momento de forte vulnerabilidade vivido pela artista, porém, parece crescer para além das experiências detalhadas pela compositora. Do momento em que tem início, em All The Good Times, passando por preciosidades como Through The Fires e a própria faixa-título, não são poucos os momentos em que a cantora utiliza da universalidade dos temas de forma a estreitar a relação com o ouvinte. Canções que discutem a passagem do tempo, luto e distanciamento, porém, reforçando a todo momento a necessidade de seguir em frente.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.