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Crítica

Blanck Mass

: "Animated Violence Mild"

Ano: 2019

Selo: Sacred Bones Records

Gênero: Experimental, Eletrônica, Industrial

Para quem gosta de: Fuck Buttons e Oneohtrix Point Never

Ouça: House vs. House e Love is a Parasite

8.0
8.0

“Animated Violence Mild”, Blanck Mass

Ano: 2019

Selo: Sacred Bones Records

Gênero: Experimental, Eletrônica, Industrial

Para quem gosta de: Fuck Buttons e Oneohtrix Point Never

Ouça: House vs. House e Love is a Parasite

/ Por: Cleber Facchi 30/08/2019

Poucas vezes antes o som produzido por Benjamin John Power no Blanck Mass pareceu tão acessível e ainda insano quanto em Animated Violence Mild (2019, Sacred Bones Records). Sequência ao versátil World Eater (2017), obra marcada pela criativa colagem de referências, melodias e vozes sampleadas, o novo álbum do produtor britânico utiliza de uma estrutura homogênea, fazendo de cada composição um estímulo para a faixa seguinte. Ideias que se entrelaçam de maneira complementar, conceito evidente na formação ritmada das batidas e, principalmente, no uso atmosférico dos sintetizadores.

Não por acaso, Power escolheu Death Drop e House vs. House como faixas de abertura do disco. São pouco mais de 15 minutos em que o produtor brinca com a colisão das batidas e ruídos eletrônicos de forma orquestrada, estrutura que naturalmente aponta para os primeiros trabalhos do artista no Fuck Buttons. Fragmentos de vozes, colagens e camadas de pura distorção, como uma interpretação particular do mesmo som industrial de Nine Inch Nails, Coil e demais representantes do gênero.

Parte desse “diálogo” entre as faixas vem do confesso desejo do produtor em revelar uma obra conceitualmente hermética, guiada por uma mesma base temática. Partindo desse propósito, o produtor inglês transformou inquietações sobre o consumo desenfreado no principal componente criativo do álbum. “Eu perdi pessoalmente, mas também em um sentido global, pelo que nós, como espécie, perdemos e entregamos ao nosso consumismo sugador de sangue apenas para sermos devastados por ele“, reflete no texto de apresentação do trabalho.

Como forma de traduzir esse voracidade do desejo consumista, Power investe em uma seleção de faixas que parecem maiores e mais complexas a cada nova audição. São variações melódicas e batidas trabalhadas em um conceito tão íntimo do ouvinte quanto caótico, proposta que vem sendo aprimorada pelo produtor desde a estreia como Blanck Mass. Exemplo disso está na força criativa de Love is a Parasite. São pouco mais de seis minutos em que o artista brinca com a composição das ideias de forma propositadamente exagerada, mudando de direção a todo instante.

Mesmo imerso nesse conceito turbulento, interessante perceber a forma como Power detalha a composição de pequenos respiros criativos. É o caso de Creature / West Fuqua, músicas que se espalha em meio a sintetizadores cósmicos e instantes de evidente refinamento atmosférico, como uma fuga declarada do restante da obra. A própria No Dice, mesmo marcada pelo jogo das batidas, carrega no uso de vozes instrumentais, camadas e inserções minuciosas o princípio de um novo direcionamento estético, brincando com a interpretação do ouvinte.

Verdadeira colcha de retalhos, Animated Violence Mild vai do pop obscuro da década de 1980 ao experimentalismo eletrônico dos anos 2000 em uma linguagem própria do Blanck Mass. Mesmo que seja possível perceber uma série de elementos originalmente testados pelo artista no Fuck Buttons, como os paredões de ruídos sintéticos e vozes sobrepostas, ao utilizar de um único referencial temático, Power organiza suas ideias com maior clareza, garantindo ao público uma obra que vai do equilíbrio conceitual à lenta desconstrução das ideias.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.