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Crítica

Another Michael

: "New Music and Big Pop"

Ano: 2021

Selo: Run For Cover Records

Gênero: Indie Folk, Indie Pop, Folk

Para quem gosta de: Whitney, The Shins, Fleet Foxes

Ouça: New Music, Big Pop e I Know You're Wrong

7.8
7.8

Another Michael: “New Music and Big Pop”

Ano: 2021

Selo: Run For Cover Records

Gênero: Indie Folk, Indie Pop, Folk

Para quem gosta de: Whitney, The Shins, Fleet Foxes

Ouça: New Music, Big Pop e I Know You're Wrong

/ Por: Cleber Facchi 16/03/2021

A imagem de capa que estampa o primeiro álbum de estúdio de Another Michael, New Music and Big Pop (2021, Run For Cover Records), funciona como uma representação exata do som produzido por Michael Doherty e seus parceiros de banda, os músicos Alenni Davis e Nick Sebastiano. Composições que mesmo na completa ausência de pressa instantaneamente transportam o ouvinte para um mundo mágico. São fragmentos instrumentais marcados por histórias de tempos mais simples, relacionamentos e memórias nostálgicas que se cruzam a todo instante, como um delicado pano de fundo conceitual que não apenas envolve como dialoga com o que há de mais sensível nas experiências, doces e amargas, vividas por qualquer indivíduo.

E isso se reflete com naturalidade logo nos primeiros minutos do disco, na introdutória New Music. Entre harmonias de vozes e versos descritivos, Doherty transforma uma simples conversa (“Ficamos acordados até tarde conversando online sobre novas músicas / E você me enviou um link para uma faixa que eu nunca tinha ouvido antes / Eu preciso colocar meus fones de ouvido…), em uma delicada reflexão sobre a passagem do tempo e a necessidade de aceitar a solidão (“O tempo não está no meu pulso / Estou disposto a me segurar e aguentar essa terrível solidão / Eu sou meio novo“). Instantes em que o músico aponta para o passado de forma melancólica, porém, de maneira sempre acolhedora, leveza que embala a experiência do ouvinte até o último instante da obra.

São canções que partem de uma base reducionista, muitas vezes regidas pelo violão solitário de Doherty, porém, adornadas pelo uso de pequenos acréscimos instrumentais e versos cuidadosamente trabalhados pelo músico. Exemplo disso acontece em My Day, quarta faixa do disco. “Pensei ter visto você vindo a um quilômetro de distância / E eu estava errado / E eu não consigo me conter / Estou pensando no meu dia enquanto vou“, confessa em meio a ambientações acústicas que ora apontam para as criações urbanas de Simon & Garfunkel, ora fazem lembrar do som bucólico que escapa da obra de Nick Drake. Um lento desvendar de ideias e experiências sentimentais que potencializa tudo aquilo que o grupo vinha testando desde os primeiros registros autorais, como o também econômico Land EP (2018), de onde vieram músicas como About e Connect.

Nos poucos momentos em que perverte parte dessa estrutura, como nas ensolaradas I Know You’re Wrong e Big Pop, o trio de Filadélfia evidencia o lado mais acessível de obra. São canções que evocam as melodias cantaroláveis de veteranos como Band of Horses e The Shins, porém, estreitando a relação com o trabalho de contemporâneos como Whitney. Parte dessa similaridade vem justamente do esforço do grupo em incorporar elementos do R&B produzido nos anos 1960 e 1970, distanciando o álbum de um previsível envelopamento acústico. É o caso de Row, música que evoca nomes como Labi Siffre e Odetta, porém, cresce no precioso cruzamento entre as vozes de Doherty e Davis. É como se a banda testasse os próprios limites dentro de estúdio, proposta que se reflete até a derradeira Shaky Cam.

Observado de maneira atenta, cada composição de New Music and Big Pop funciona como um fragmento isolado dentro da obra. São registros que partem de uma arquitetura acústica, porém, estabelecem no uso das vozes e pequenos acréscimos conceituais a passagem para diferentes abordagens criativas. O resultado desse processo está na entrega de um álbum essencialmente amplo. Canções que vão da atmosfera densa do Fleet Foxes, como em I’m Not Home, ao pop nostálgico da década de 1960, marca de músicas como What Gives? e a já citada Big Pop. Um misto de passado e presente, direcionamento que passa por algumas das principais referências da banda, porém, preservando a identidade criativa do trio.

Bem-sucedido exercício de apresentação, New Music and Big Pop evidencia a imagem de um grupo que aponta para os clássicos, porém, estabelece no uso de versos confessionais um importante elemento de consolidação das próprias temáticas. Do momento em que tem início, na já citada New Music, até alcançar Shaky Cam, composição que reflete o lado mais enérgico da obra, Doherty e seus parceiros garantem ao público um registro de identificação quase imediata. São canções que celebram o amor, evidenciam o que há de mais doloroso nos momentos de maior solidão, porém, em nenhum momento se permitem consumir pela dor, conceito que marca parte do repertório apresentado em Land EP, mas que ganha ainda mais destaque nas composições que embalam o presente disco.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.