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Crítica

Arca

: "KiCk ii"

Ano: 2021

Selo: XL

Gênero: Experimental, Pop, Eletrônica

Para quem gosta de: SOPHIE, Lotic e Björk

Ouça: Rakata e Prada

8.0
8.0

Arca: “KiCk ii”

Ano: 2021

Selo: XL

Gênero: Experimental, Pop, Eletrônica

Para quem gosta de: SOPHIE, Lotic e Björk

Ouça: Rakata e Prada

/ Por: Cleber Facchi 07/12/2021

Quem há tempos acompanha a obra de Alejandra Ghersi, a Arca, sabe do caráter prolífico da artista venezuelana. Mesmo antes de revelar ao público o primeiro trabalho de estúdio da carreira, o insano Xen (2014), a cantora, compositora e produtora de Caracas já havia despejado uma dezena de outros registros autorais e composições assinadas em parceira com nomes importantes como Kanye West e FKA Twigs. Entretanto, o que ninguém poderia imaginar é que, passado o lançamento de KiCk i (2020), álbum que contou com a presença de Björk, SOPHIE e Rosalía, Ghersi revelaria outros quatro discos em sequência.

Em KiCk ii (2021, XL), segundo capítulo da série, Arca segue exatamente de onde parou no último ano. São composições que transitam por entre estilos de forma deliciosamente irregular, torta, manipulando a interpretação do ouvinte durante toda a execução do material. Fragmentos de vozes, melodias e batidas que preservam o caráter exploratório dos primeiros trabalhos da artista, como Mutant (2015), mas que a todo momento recorrem ao pop como um importante alicerce criativo, conceito bastante explícito na já conhecida BornYesterday, bem-sucedido encontro com a cantora e compositora australiana Sia.

A principal diferença em relação ao trabalho anterior está na forma como Arca se permite provar de novas possibilidades e ritmos ao longo do registro. E isso fica bastante evidente na sequência de abertura do álbum, com Prada, Rakata e Tiro. São pouco mais de sete minutos em que a artista venezuelana estreita a relação com a cultura latina, proposta que vai da cúmbia ao reaggaeton em uma criativa combinação de elementos que amplia tudo aquilo que foi revelado em KLK. Mesmo o uso das vozes e o tratamento dado aos versos assume uma abordagem distinta, resultando em um material ainda mais acessível.

Nada que prejudique a construção de músicas puramente experimentais, ainda íntimas dos antigos trabalhos de Arca. Exemplo disso acontece em Muñecas. Composta em parceria com Mica Levi, a faixa de essência atmosférica ganha forma aos poucos, sem pressa. São ambientações e vozes submersas, estrutura que se completa pela letra cíclica, como um mantra. A própria composição de abertura, Doña, evidencia o domínio da artista em utilizar da manipulação de texturas eletrônicas, ruídos e sobreposições totalmente irregulares, sujas, apontando a direção seguida pela produtora até a chegada da derradeira Andro.

Dentro desse território marcado pelas possibilidades, Arca utiliza dos próprios sentimentos como um importante componente de amarra conceitual, estrutura que tem sido explorado desde o homônimo álbum de 2017. São canções que discutem sexualidade, gênero e ancestralidade de forma bastante sensível e particular, proposta que talvez custe a atrair o ouvinte mais apressado, mas que invariavelmente tende a seduzir. “Eu vim para te prender / Eu sei que você quer / Não me nega“, canta em Luna Llena, música que sintetiza parte das emoções e do estranho domínio exercido pela cantora ao longo do trabalho.

Claro que isso não exime Arca da forte instabilidade que consome a segunda metade do trabalho. Enquanto a porção inicial encanta pela pluralidade de ideias e evidente domínio criativo da cantora, com a chegada de Araña, todas as canções parecem encaixado de forma irregular, como possíveis sobras do material entregue no álbum anterior. A própria BornYesterday, mesmo feita para grudar na cabeça do ouvinte, soa deslocada do restante do disco. São retalhos instrumentais e poéticos que, para o bem ou para o mal, refletem a capacidade da artista em transitar por entre estilos de forma sempre imprevisível.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.