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Crítica

Arca

: "KiCk iiiii"

Ano: 2021

Selo: XL

Gênero: Experimental, Art Pop, Eletrônica

Para quem gosta de: SOPHIE, Björk, Lotic

Ouça: Chiquito, Amrep e Sanctuary

7.8
7.8

Arca: “KiCk iiiii”

Ano: 2021

Selo: XL

Gênero: Experimental, Art Pop, Eletrônica

Para quem gosta de: SOPHIE, Björk, Lotic

Ouça: Chiquito, Amrep e Sanctuary

/ Por: Cleber Facchi 10/12/2021

Último capítulo da série de cinco registros apresentados em um intervalo de pouco mais de um ano, KiCk iiiii (2021, XL) mostra o lado mais contido e intimista, mas não menos inventivo de Alejandra Ghersi, a Arca. Seguindo exatamente de onde parou no antecessor, KiCk iiii (2021), a cantora, compositora e produtora venezuelana investe na construção de um repertório que se distancia de possíveis excessos de forma a potencializar a construção dos versos e sentimentos explorados pela artista. São pianos melancólicos e vozes que preservam e pervertem tudo aquilo que já havia sido testado no homônimo álbum de 2017.

Não por acaso, a cantora inaugura o disco fazendo uso apenas da própria voz. “Como alguém persuade diante da dor?“, questiona de forma melancólica na introdutória In The Face, música originalmente apresentada no experimental @@@@@ (2020), lançado há poucos meses, mas que dialoga de forma bastante sensível com tudo aquilo que a artista venezuelana busca desenvolver ao longo do presente álbum. É como se, passada a turbulenta experiência iniciada em KiCk i, Arca pudesse finalmente respirar, proposta que embala a experiência do ouvinte até a composição de encerramento do álbum, Crown.

Vem justamente desse delicado processo de criação o estímulo para algumas das principais composições do disco. É o caso de Pu, logo nos momentos iniciais do trabalho, e Ether, minutos à frente. Livre da ambientação ruidosa, batidas e permanente fragmentação das ideias que marca toda a série de registros apresentada nas últimas semanas, Arca se concentra apenas na formação de faixas regidas pelo completo minimalismo dos pianos e melodias cuidadosamente trabalhadas dentro de estúdio. Mesmo quando investe nos vocais, como em Chiquito, tudo se revela de forma sensível, cercando e confortando o ouvinte.

Entretanto, na mesma medida em que estabelece uma atmosfera marcada pela forte sensação de acolhimento, Arca investe na construção de faixas regidas por momentos de maior experimentação. E isso fica bastante evidente em Amrep. Inaugurada pelo uso de sintetizadores reducionistas e melodias etéreas, a composição rapidamente mergulhar em um oceano de ruídos, quebras e texturas granuladas, típicas da produtora venezuelana. Nada que pareça igualar o mesmo caráter provocativo que embala as canções dos ainda recentes KiCk ii (2021) e KiCk iii (2021), mas, ainda assim, um precioso exercício de criação.

E isso fica ainda mais evidente em Sanctuary. Única parceria do disco, a colaboração com Ryuichi Sakamoto, um dos grandes nomes da produção japonesa, ganha forma em meio a ambientações sujas e vozes sobrepostas que transportam o ouvinte para um novo território criativo. De fato, toda a segunda metade de KiCk iiiii parece pontuada por momentos de maior ruptura e sutil regresso aos antigos trabalhos da cantora. São canções como Músculos e Fireprayer que contrastam com os pianos e vozes minimalistas que abastecem o restante da obra, estrutura que garante maior profundidade e dinamismo ao material.

Dessa forma, o que tinha tudo para ser um álbum exaustivo, efeito direto do vasto repertório despejado pela artista nas últimas, acaba se revelando como um exercício criativo ainda mais interessante. Do momento em que tem início, em In The Face, até alcançar a derradeira Crown, Arca garante ao público um registro que se divide entre o acolhimento e o permanente senso de provocação. Instantes em que a produtora venezuelana garante ao público um fechamento adequado para a série inaugurada em KiCk i, porém, provando de novos temas e conceitos que, mais uma vez, ampliam os limites da própria obra.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.