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Crítica

Arctic Monkeys

: "The Car"

Ano: 2022

Selo: Domino

Gênero: Rock

Para quem gosta de: The Last Shadow Puppets

Ouça: Body Paint e I Ain’t Quite Where I Think I Am

8.0
8.0

Arctic Monkeys: “The Car”

Ano: 2022

Selo: Domino

Gênero: Rock

Para quem gosta de: The Last Shadow Puppets

Ouça: Body Paint e I Ain’t Quite Where I Think I Am

/ Por: Cleber Facchi 25/10/2022

Viúvos da fase AM (2013), não adianta chorar. Ao menos por enquanto, Alex Turner parece pouco ou nada interessado em regressar ao mesmo território criativo que fez do Arctic Monkeys um dos nomes mais importantes do rock inglês ao longo da última década. Sétimo álbum de estúdio da banda completa por Jamie Cook, Matt Helders e Nick O’Malley, The Car (2022, Domino) segue de onde o quarteto parou há quatro anos, durante o lançamento de Tranquility Base Hotel & Casino (2018), porém, de forma menos hermética, direcionamento que vai da construção dos versos ao evidente refinamento dado aos arranjos.

Com os dois pés no chão, Turner se distancia da narrativa lunar conceitualmente expressa no trabalho anterior para aterrisar em músicas que tratam sobre a natureza humana. São composições que refletem a sensação de isolamento, atravessam paisagens noturnas e detalham conflitos internos, porém, de maneira sóbria. “Não se emocione“, canta logo nos minutos iniciais, na já conhecida There’d Better Be A Mirrorball, canção que sintetiza parte dos temas explorados pelo artista ao longo do material e ainda destaca a sutileza dos arranjos, como um avanço claro em relação ao repertório entregue no registro passado.

Quinta faixa do disco e uma das primeiras composições do trabalho a serem apresentadas ao público, Body Paint funciona como uma boa representação desse resultado. Inaugurada em meio a camadas de sintetizadores, a canção ganha forma aos poucos, detalhando arranjos de cordas, coros de vozes e pequenas orquestrações que contrastam com a poesia amarga de Turner, centrada em uma história de traição. “Estou observando cada movimento seu / Eu sinto que as lágrimas estão vindo / Não vai demorar“, canta em meio a versos sempre descritivos e sensíveis, como parte de uma melancólica narrativa visual.

O próprio Turner afirmou em entrevistas que muitas das canções em The Car utiliza de uma abordagem cinematográfica, conceito testado pela banda em Tranquility Base Hotel & Casino. Entretanto, enquanto o disco anterior se passava em um mesmo cenário, o luxuoso hotel localizado no Mar da Tranquilidade, onde, em 1969, pousou o módulo lunar da Apollo 11, com o presente álbum, o músico britânico passeia em meio a diferentes paisagens, cenas e acontecimentos. É como uma compilação de curtas. Fragmentos visuais, poéticos e instrumentais que se revelam ao público em uma medida própria de tempo, sem pressa.

Se por um lado esse tratamento atmosférico potencializa a construção dos versos e sentimentos detalhados por Turner ao longo da obra, por outro, tende a consumir a experiência do ouvinte. Salve excessões, como a funkeada I Ain’t Quite Where I Think I Am, The Car utiliza de uma abordagem exageradamente contida e arrastada, problema também evidente em Tranquility Base Hotel & Casino. Ainda que esperar pelo dinamismo expresso em obras como Favourite Worst Nightmare (2007) seja um equívoco, falta ao disco a mesma fluidez e estruturas contrastantes que apresentaram o som produzido pelo grupo há duas décadas.

Embora moroso, prevalece em The Car um esforço genuíno da banda em testar os próprios limites. Cada vez mais distante da urgência que marca os primeiros trabalhos de estúdio, o músico britânico e seus parceiros se aprofundam na construção de um repertório marcado pela complexidade dos elementos e permanente busca por novas temáticas e inquietações. É como um delicado exercício de amadurecimento. Canções que deixam de pertencer ao parque de diversões particular de Turner, marca do repertório entregue em Tranquility Base Hotel & Casino, para mergulhar em dramas compartilhados da vida adulta.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.