Image
Crítica

Arlo Parks

: "My Soft Machine"

Ano: 2023

Selo: Transgressive

Gênero: Pop Rock, Bedroom Pop, Soul

Para quem gosta de: Clairo e Nilüfer Yanya

Ouça: Blades, Pegasus e Impurities

7.4
7.4

Arlo Parks: “My Soft Machine”

Ano: 2023

Selo: Transgressive

Gênero: Pop Rock, Bedroom Pop, Soul

Para quem gosta de: Clairo e Nilüfer Yanya

Ouça: Blades, Pegasus e Impurities

/ Por: Cleber Facchi 02/06/2023

Desde o início da carreira, a música de Arlo Parks sempre pareceu um refúgio para os momentos de maior melancolia. Dotada de um lirismo altamente confessional, a cantora e compositora britânica estabeleceu nas próprias inquietações, dores e relacionamentos fracassados um precioso componente de diálogo com o ouvinte, direcionamento que se reflete em parte expressiva das composições que marcam o introdutório Collapsed in Sunbeams (2021), mas que ganha ainda mais destaque com a chegada do segundo e mais recente trabalho de estúdio apresentado pela artista, o agridoce My Soft Machine (2023, Transgressive).

Produto das experiências e novas vivências da artista que hoje reside em Los Angeles, na Califórnia, My Soft Machine sintetiza parte dos elementos que serão apresentados ao longo da obra logo nos minutos iniciais do trabalho, em Bruiseless. “Eu gostaria de estar sem hematomas / Quase todo mundo que eu amo foi abusado, e eu estou inclusa / Sinto tanta culpa por não poder proteger mais pessoas do mal“, confessa Parks em meio a suspiros, captações de campo e camadas de sintetizadores que se revelam aos poucos, apontando a direção para a trilha sentimental que sutilmente orienta o ouvinte pelo interior do material.

Embora consumido pela melancolia dos temas, My Soft Machine encanta juntamente pela forma como Parks contrasta poemas dolorosos com versos e melodias sempre aprazíveis. “Eu irradio como uma estrela / Quando você abraça todas as minhas impurezas“, canta em Impurities, música que evidencia esse delicado exercício de exposição emocional adotado pela compositora durante toda a execução do material. É como se Parks alcançasse um equilíbrio talvez imperceptível durante o desenvolvimento do trabalho anterior. Um misto de dor e fino toque de acolhimento que garante maior fluidez ao repertório do disco.

Interessante perceber tamanha consistência de Parks justamente do álbum que mais aproxima a artista inglesa de outros colaboradores. Longe do amigo e principal parceiro criativo do disco anterior, Gianluca Buccellati, a cantora encontra no experiente Paul Epworth (Adele, Rihanna) o suporte necessário para grande parte das canções. O resultado desse processo está na entrega de músicas como a também colaborativa Pegasus, faixa que preserva a essência das antigas criações da musicista, porém, completa pelas vozes de Phoebe Bridgers e uso de ambientações que transportam o material para um novo território.

Outro que contribui para ampliar o campo de atuação do trabalho é Ariel Rechtshaid (HAIM, Carly Rae Jepsen). Produtor de Puppy e I’m Sorry, o músico norte-americano estimula Parks a brincar com as possibilidades em estúdio. Enquanto a primeira desemboca em um R&B torto, efeito da percussão irregular e texturas cuidadosamente encaixadas, na faixa seguinte, a cantora mergulha em um soul minimalista, como um aceno para a obra de Lianne La Havas e outros nomes de peso da cena inglesa. São pequenas corrupções estéticas que delicadamente pervertem tudo aquilo que foi apresentado em My Soft Machine.

Ainda assim, Parks nunca ultrapassa o que parece ser um limite bem definido durante toda a execução do trabalho. Do uso calculado das guitarras, passando pelo tratamento dado à bateria e vocais, a cantora em nenhum momento se distancia daquilo que Impurities, Blades e demais composições estabelecem logo nos minutos iniciais do disco. Mesmo em se tratando dos temas, My Soft Machine é uma obra que pouco avança em relação ao registro anterior, resultando em um conjunto de faixas que invariavelmente convencem pela força das emoções, mas que continuam a orbitar um universo há muito desvendado pela artista inglesa.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.