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Crítica

Arnaldo Antunes

: "Novo Mundo"

Ano: 2025

Selo: Risco

Gênero: MPB, Pop Rock

Para quem gosta de: Titãs e Marisa Monte

Ouça: Novo Mundo e Tire o Seu Passado da Frente

8.2
8.2

Arnaldo Antunes: “Novo Mundo”

Ano: 2025

Selo: Risco

Gênero: MPB, Pop Rock

Para quem gosta de: Titãs e Marisa Monte

Ouça: Novo Mundo e Tire o Seu Passado da Frente

/ Por: Cleber Facchi 24/03/2025

Há tempos Arnaldo Antunes não parecia tão entusiasmado em estúdio. Para ser mais exato, desde que deu vida ao colaborativo Iê Iê Iê (2009), registro em que uniu forças com o músico cearense Fernando Catatau. E isso tem um motivo: ainda que siga em carreira solo desde o início dos anos 1990, quando deixou os Titãs para mergulhar na própria obra, o cantor e compositor paulistano é o tipo de artista que cresce no coletivo.

Exemplo disso fica ainda mais evidente nos deparamos com o fino repertório de Novo Mundo (2024, Risco), trabalho em que estabelece no diálogo com diferentes parceiros criativos a passagem para um universo de novas possibilidades. Com produção de Pupillo (bateria, percussão) e completo pela presença dos músicos Kiko Dinucci (guitarras e violões), Vitor Araújo (teclados e piano) e Betão Aguiar (baixo), o registro de doze faixas equilibra ferocidade e leveza enquanto garante algumas das melhores canções de Antunes em anos.

Inaugurado pela potente faixa-título, Novo Mundo diz a que veio logo nos minutos iniciais. Partindo de uma base de drill, o músico estabelece um olhar atento sobre a nossa sociedade, a frieza das relações geradas por redes sociais e a manipulação das massas pela lógica dos algoritmos enquanto abre passagem para o rapper baiano Vandal. São versos sempre provocativos, políticos e certeiros, direcionamento que se reflete em outros momentos no decorrer do trabalho, como na execução enérgica de Tire o Seu Passado da Frente.

Entretanto, a real beleza do disco se estabelece na capacidade de Antunes em combinar canções furiosas e liricamente provocativas com momentos de maior vulnerabilidade emocional. É como se, no meio do caos diário a que somos submetidos, sentimentos como amor, afeto e compaixão fossem ainda mais importantes. E como ele faz isso bem. Do romantismo sorridente de Acordarei à doce melancolia que se apodera de Viu, Mãe?, sobram momentos em que o compositor estreita laços com os ouvintes de maneira bastante sensível.

Sobrevive justamente nesses momentos de maior delicadeza o contato com novos e antigos colaboradores de Antunes. Em Sou Só, por exemplo, é voz de Marisa Monte que engrandece a canção. Já em Pra Não Falar Mal, faixa que surge como uma resposta positiva ao caos detalhado nos minutos iniciais do trabalho, é Ana Frango Elétrico que acompanha o artista. Quem também dá as caras é David Byrne, parceiro na dançante Body Corpo e Não dá Para Ficar Parado aí na Porta, música que repete a dinâmica das vozes da primeira.

Inquieto, exploratório e sempre disposto a incorporar diferentes possibilidades e parceiros criativos, Novo Mundo nasce como um reflexo do próprio criador. Mesmo que ecos dos antigos trabalhos e os já esperados jogos de palavras sejam percebidos no decorrer do material, as dinâmicas agora são outras, com o artista estabelecendo na força dos instrumentos e olhar atento para o presente a passagem para um mundo novo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.