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Crítica

Astrid Sonne

: "Great Doubt"

Ano: 2024

Selo: Escho

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Tirzah e ML Buch

Ouça: Staying Here e Do You Wanna

8.0
8.0

Astrid Sonne: “Great Doubt”

Ano: 2024

Selo: Escho

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Tirzah e ML Buch

Ouça: Staying Here e Do You Wanna

/ Por: Cleber Facchi 19/12/2024

Cada nova composição em Great Doubt (2024, Escho), terceiro e mais recente álbum de estúdio da cantora e compositora dinamarquesa Astrid Sonne, leva o ouvinte para um território diferente. São experimentos com a música eletroacústica que partilham de uma abordagem vanguardista, efeito direto da educação da artista, em essência voltada ao estudo dos clássicos, mas que encontra na intensa relação com o pop e na produção eletrônica um precioso componente de ruptura criativa que leva o material para outras direções.

A principal diferença em relação a outros trabalhos produzidos pela artista, como Human Lines (2018) e o pandêmico Outside of Your Lifetime (2021), está no maior destaque dado aos versos. Ainda que parta de uma abordagem essencialmente esparsa, revelando letras curtas que detalham cenas, acontecimentos e diferentes estados emocionais, fragmentos expositivos detalham uma vulnerabilidade poucas vezes antes percebida na obra de Sonne. “Você quer ter um bebê?”, questiona a artista na labiríntica Do You Wanna.

São pequenos fluxos de pensamentos e momentos de maior exposição emocional, proposta que está longe de revelar o todo, mas ajuda a entender muito do que se passa dentro da cabeça de Sonne. “Eu daria tudo de mim pelo seu amor”, confessa em Give My All, composição que, mais uma vez, serve de passagem para um universo particular da artista. É como se Sonne encontrasse em si mesma uma importante ferramenta de trabalho, expandindo de maneira bastante significativa o próprio processo de criação dentro de estúdio.

Claro que esse maior destaque aplicado à construção dos versos não interfere na forma como a musicista continua a se aventurar na inserção dos arranjos, batidas e bases melódicas. Exemplo disso fica mais do que evidente em Staying Here. Enquanto a letra da composição destaca a sensibilidade poética de Sonne, arpejos de sintetizadores se espalham em meio a ondulações sutis que evocam a obra de Arthur Russell. Um precioso exercício criativo sempre aberto aos experimentos e delírios da compositora dinamarquesa.

Mais do que isso, Great Doubt soa como um ponto de convergência para Sonne, incorporando de maneira reformulada uma série de elementos originalmente testados em Human Lines e Outside of Your Lifetime. O próprio uso da viola, instrumento que sempre acompanhou a artista desde os primeiros registros autorais, ganha novo significado ao longo do trabalho, como no direcionamento fragmentado da econômica Almost.

Apesar desse esforço de Sonne em ampliar os próprios horizontes, vide a inusitada combinação de estilos na pontente Boost, Great Doubt esbarra em uma série de canções que mais parecem ideias em formação, vide Everything Is Unreal. É como se a musicista dinamarquesa nunca ultrapassasse o que parece ser uma linha estabelecida logo na introdutória Light and Heavy, proposta que concede ao trabalho um caprichoso acabamento homogêneo, mas que acaba restringindo as composições a um limitado território criativo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.