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Crítica

Axel Boman

: "LUZ / Quest For Fire"

Ano: 2022

Selo: Studio Barnhus

Gênero: Eletrônica, Deep House

Para quem gosta de: DJ Koze, Kornél Kovács e Pional

Ouça: Hold On e Sottopassaggio

8.6
8.6

Axel Boman: “LUZ / Quest For Fire”

Ano: 2022

Selo: Studio Barnhus

Gênero: Eletrônica, Deep House

Para quem gosta de: DJ Koze, Kornél Kovács e Pional

Ouça: Hold On e Sottopassaggio

/ Por: Cleber Facchi 22/04/2022

Perto de completar dez anos de lançamento do primeiro trabalho de estúdio da carreira, Family Vacation (2013), Axel Boman decidiu presentear o público com não apenas um, mas dois registros de inéditas: LUZ e Quest For Fire (2022, Studio Barnhus). Sequência ao material entregue pelo produtor sueco em Le New Life (2019), o repertório que se divide em dois blocos bastante específicos de canções evidencia não apenas a capacidade do artista em transitar por entre estilos de forma sempre provocativa, como estreita a relação com diferentes colaboradores, entre eles, o artista visual Robin Ekemark e o diretor de arte Erik Lavesson.

Nesse sentido, mais do que um exercício puramente sonoro, Boman garante ao público uma obra feita para ser absorvida integralmente, da identidade visual aos textos que acompanham a edição física do material. Claro que isso não interfere no processo de escuta dos dois trabalhos. E isso fica bastante evidente no primeiro deles, o versátil LUZ. De classificação difícil, o registro aponta para a produção eletrônica, porém, estabelece no precioso cruzamento de informações, ritmos e quebras o estímulo para capturar e orientar a experiência do ouvinte até a delicada música de encerramento, Hold On, com vozes do próprio produtor.

Em um intervalo de apenas nove canções, Boman segue de onde parou no disco anterior, estreita a relação com diferentes colaboradores e utiliza do propositado desequilíbrio entre as faixas para garantir movimento ao disco. Exemplo disso fica bastante evidente no encontro entre ‘Atra, parceria com o saxofonista Kristian Harborg, e Out Sailing, música que se completa pela presença de Man Tear e Inre Frid. São pouco menos de dez minutos em que o artista vai do jazz às pistas em uma delirante combinação de elementos, proposta que faz lembrar de DJ Koze em álbuns como o também instável Knock Knock (2018).

Embora parta de uma abordagem diferente, essa mesma costura irregular dos elementos ganha ainda mais destaque no repertório de Quest For Fire. Do momento em que tem início, em Sottopassaggio, encontro com a dupla Milojn, cada elemento do trabalho parece pensado para transportar o ouvinte para um novo território criativo. Instantes em que o artista potencializa o uso das batidas e componente sintéticos, incorpora elementos de dub e explora micro-ambientações para ampliar os limites da obra. A própria a relação com os colaboradores ecoa de maneira discreta, destacando ainda mais a produção de Boman.

Dessa forma, o artista sueco preserva tudo aquilo que tem sido explorado desde a estreia com Family Vacation, mas em nenhum momento se permite sufocar pela própria obra. É como um campo aberto às possibilidades, estrutura que, vez ou outra, resulta em caminhos sem saída, como na atmosférica Roman Plumbing, mesmo preservando o aspecto provocativo e capacidade do produtor em transitar por entre estilos. O resultado desse processo está na entrega de uma obra que se divide entre a contemplação e a euforia, dualidade que tinge com incerteza a formação do trabalho até a derradeira Les Lèvres Rouges.

Sempre aberto ao diálogo com diferentes colaboradores e inusitado cruzamento de ritmos, Boman garante ao público um repertório amplo, mas que em nenhum momento perde a consistência. Da escolha dos timbres ao uso dos sintetizadores e batidas, cada elemento parece pensado de forma a contribuir para a homogeneidade do material. A própria escolhida do produtor em dividir o repertório em dois registros específicos contribui fortemente para esse resultado. Composições que vão de um canto a outro, transitam por entre estilos e formas pouco usuais, mesmo utilizando de uma direção estética bastante particular.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.