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Crítica

Bachelor

: "Doomin’ Sun"

Ano: 2021

Selo: Polyvinyl / Lucky Number

Gênero: Indie Rock, Bedroom Pop

Para quem gosta de: Jay Som e Soccer Mommy

Ouça: Anything at All e Sick Of Spiraling

7.3
7.3

Bachelor: “Doomin’ Sun”

Ano: 2021

Selo: Polyvinyl / Lucky Number

Gênero: Indie Rock, Bedroom Pop

Para quem gosta de: Jay Som e Soccer Mommy

Ouça: Anything at All e Sick Of Spiraling

/ Por: Cleber Facchi 11/06/2021

Distante dos palcos por conta da pandemia de Covid-19, Melina Duterte, a Jay Som, decidiu aproveitar o tempo livre para mergulhar em uma série de composições inéditas e colaborações com diferentes artistas, como Soccer Mommy e No Rome. Entretanto, foi junto de Annie Truscott, baixista do Chastity Belt, que a multi-instrumentista resolveu ampliar esse processo, investindo nas cinco músicas inéditas de And Other Things (2020), estreia do paralelo Routine. Mas será essa curva breve dentro da própria carreira seria suficiente para aplacar a mente criativa da prolífica guitarrista? A resposta chega agora com a entrega de Doomin’ Sun (2021, Lucky Number / Polyvinyl), estreia do Bachelor, segundo projeto colaborativo de Duterte em um intervalo de pouquíssimos meses.

Dessa vez acompanhada de Ellen Kempner, vocalista, compositora e líder do Palehound, Duterte e a parceira de estúdio investem em um repertório que transita por décadas de referências e sentimentos de forma sempre detalhista e poética. São canções que partem de vivências reais, conflitos e acontecimentos recentes que movimentaram o cotidiano de cada realizadora, proposta que vai da introdutória Back of My Hand (“Eu quero suas mentiras, eu preciso do seu segredo / Você será meu?“), com suas guitarras ascendentes, à derradeira faixa-título (“Mas temos tempo, e você está me segurando / O fim da terra o libertará“), composição que se espalha em meio a melodias acústicas, captações caseiras e vozes cuidadosamente sobrepostas, feitas para envolver e confortar o ouvinte.

É justamente essa abordagem contrastante, com uma combinação do rock melódico de Jay Som a as guitarras sujas do Palehound, que orientam a experiência do ouvinte até o último segundo da obra. Instantes em que a dupla norte-americana alterna entre momentos de maior explosão e faixas deliciosamente contidas, garantindo movimento ao disco. Exemplo disso acontece na dobradinha composta por Sand Angel e a já conhecida Stay in the Car. Pouco mais de cinco minutos em que Duterte e Kempner partem de uma base deliciosamente letárgica, lembrando as canções menos urgentes do Pavement, para mergulhar em uma composição marcada pelo jogo de vozes e arranjos barulhentos, por vezes íntimos do som produzido pelo Pixies nos momentos mais acessíveis.

Interessante notar a construção de faixas que parecem incorporar esses dois extremos mesmo em um curtíssimo intervalo de tempo. É o caso de Anything at All. Composição escolhida para anunciar a chegada do disco, a faixa parte de uma base reducionista, utiliza de momentos de pico, porém, reserva aos minutos finais uma turbulenta sobreposição de guitarras e ruídos que concentram o que há de melhor no som produzido pelas duas artistas. “Quando eu falo tem um demônio / Me deixando tão profana / E cada palavra suja se torna seu nome“, cresce a letra da canção, preparando o terreno para o fechamento ruidoso que parece pensado para as apresentações ao vivo da dupla, efeito direto da construção catártica que embala de forma intensa e emocional a experiência do ouvinte.

Embora pontuado por momentos de maior euforia e faixas regidas pela força dos sentimentos, Doomin’ Sun é um registro que mantém sua consistência durante toda a execução, orbitando um universo bastante específico. São camadas de guitarras, sintetizadores ocasionais e batidas sempre econômicas, como se pensadas apenas para garantir movimento ao trabalho. Tamanha similaridade no processo de construção da obra torna a experiência de ouvir o álbum harmônica, porém, previsível. Salve a abordagem acústica da já citada faixa-título e o rock nostálgico de Sick Of Spiraling, pouco pode ser encarado como novidade, soando como uma reciclagem previsível de ideias e referências há muito consolidadas por Duterte e Kempner em seus respectivos projetos em carreira solo.

De fato, quando voltamos os ouvidos para o ainda recente Anak Ko (2019), terceiro álbum de estúdio de Jay Som, Duterte parece muito mais interessada em testar os próprios limites criativos, costurando melodias e estruturas pouco usuais. Mesmo a recente parceria com Truscott, em And Other Things, utiliza de temas e abordagens instrumentais que parecem melhor resolvidas do que o repertório apresentado em Doomin’ Sun. Junto de Kempner, se destacam os versos e sentimentos expressos pela dupla durante toda a execução do álbum. São histórias de amor, indagações existencialistas e versos consumidos por sentimentos e experiências femininas, proposta que invariavelmente supre qualquer traço de conforto e captura a experiência do ouvinte de maneira efetiva.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.