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Crítica

Badsista

: "Gueto Elegance"

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Eletrônica, R&B, Rap

Para quem gosta de: Linn da Quebrada e Jup do Bairro

Ouça: A Braba do Joca, VSNF e Na Pista

8.5
8.5

Badsista: “Gueto Elegance”

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Eletrônica, R&B, Rap

Para quem gosta de: Linn da Quebrada e Jup do Bairro

Ouça: A Braba do Joca, VSNF e Na Pista

/ Por: Cleber Facchi 29/11/2021

De Jup do Bairro à Linn da Quebrada,de Kelela à Deize Tigrona, não foram poucos os artistas com quem Rafaela Andrade, a Badsista, colaborou criativamente ao longo da última década. Entretanto, ao mergulhar no primeiro álbum em carreira solo, Gueto Elegance (2021, Independente), a produtora paulistana parece seguir uma trilha completamente distinta em relação ao material entregue nos últimos registros autorais e colaborações. Longe das pistas, a musicista transforma os próprios desejos, romances e inquietações no estímulo para um repertório que se revela ao público em pequenas doses, sempre de forma provocativa.

E isso fica bastante evidente em VSNF. Uma das primeiras composições do disco a serem produzidas pela artista, a faixa adornada pelo uso dos sintetizadores não apenas evidencia o minucioso processo de composição do registro, como chama a atenção pela inserção das vozes assumidas pela própria produtora. “Eu quero é paz / Mas vê se não fode“, dispara. O mesmo direcionamento, porém, partindo de uma base ainda mais sensível, acaba se refletindo minutos à frente, no R&B romântico de Hoje Eu Quero Brilhar e na completa melancolia toma conta de Sem Dar Tchau, música escolhida para o encerramento do álbum.

Se por um lado esse uso das vozes amplia significativamente o campo te atuação da própria artista, por outro, evidencia alguns dos momentos de maior instabilidade do trabalho. Exemplo disso acontece na sequência de abertura do disco, com Chora Na Minha Frente e Bandida, quando a rima, ainda travada, tímida, custa a engrenar e capturar a atenção do ouvinte. Nada que um time seleto de colaboradores vindos de diferentes campos da música brasileira e internacional não dê conta de solucionar. Perfeita representação desse resultado acontece em Farse, bem-sucedido encontro com a rapper queniana MC Yallah e uma síntese clara de tudo aquilo que Badista busca desenvolver ao longo de Gueto Elegance.

Vem justamente desse diálogo com novos e velhos colaboradores a passagem para algumas das melhores composições do disco. É o caso de Chega Nas Ideias, parceira com Jup do Bairro que concentra o que há de melhor na obra de cada colaboradora. Nada que se compare ao material entregue em A Braba do Jaca. Completa pela voz macia de Lari BXB 777, a faixa segue em uma criativa combinação de canto e rima que evidencia o lado mais provocativo do álbum. “Segurando o teu cabelo / Vou beijando sua nuca / Bota a mão no espelho / Rebola filha da puta“, detalha em meio a batidas cuidadosamente espalhadas pela artista.

Mesmo quando diminui a potência das vozes, Badista mantém firme o mesmo refinamento presente no restante do álbum. Síntese desse resultado fica bastante evidente na colaborativa Na Pista. Completa pela participação de RHR, também responsável pela masterização e parte da mixagem do disco, a canção de essência reducionista encanta pela combinação das batidas e texturas eletrônicas que soam como um encontro entre Aphex Twin e DJ Rashad. Pouco menos de quatro minutos em que a produtora resgata a essência das antigas composições, porém, partindo de uma abordagem parcialmente distinta.

Dentro desse labirinto de sons, ritmos e sensações que encolhem e crescem a todo instante, sempre de maneira imprevisível, Badsista aproveita ainda para estreitar a relação com nomes como Rey Sapienz e Lord Spikeheart, na pulsante Soca, Ashira, em Sem Compromisso, e Ventura Profana, na agridoce Amor Que Não Posso Inventar, uma das músicas mais sensíveis do registro. São inserções pontuais que naturalmente refletem o caráter colaborativo da produtora, mas que em nenhum momento posicionam a artista em segundo plano, protagonismo que se reflete do primeiro ao último segundo do trabalho.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.