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Crítica

Banda Del Rey

: "O Disco"

Ano: 2023

Selo: Pedra Onze

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: Mombojó e Chinaina

Ouça: Se Eu Pudesse Voltar no Tempo e Não Vou Ficar

7.0
7.0

Banda Del Rey: “O Disco”

Ano: 2023

Selo: Pedra Onze

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: Mombojó e Chinaina

Ouça: Se Eu Pudesse Voltar no Tempo e Não Vou Ficar

/ Por: Cleber Facchi 12/09/2023

Durante quase duas décadas, a Banda Del Rey serviu como um ponto de encontro entre os membros da Mombojó, os músicos Felipe S (guitarra), Chiquitito Corazon (órgão, sintetizadores, pandeirola e voz), O Príncipe (guitarra, violão e voz) e Vicente Machado (bateria), e o conterrâneo Chinaina (voz). Em cima do palco, o projeto que nasceu ao acaso, para tocar na festa de aniversário de uma amiga do vocalista, se transformava em uma verdadeira celebração à obra de Roberto Carlos e outros nomes importantes da Jovem Guarda, efeito reforçado pelas sempre catárticas performances ao vivo do grupo pernambucano.

Satisfatório perceber essa mesma energia no primeiro trabalho de estúdio da banda, O Disco (2023, Pedra). Na contramão de outras obras do gênero, quase sempre apegadas ao repertório romântico do músico capixaba, o registro de dez faixas trata sim sobre o amor, porém, sustenta na fluidez dos arranjos e dinâmica entre os integrantes um precioso senso de renovação. Exemplo disso fica bastante evidente na introdutória Ilegal, Imoral ou Engorda, criação de 1976 que rompe com o recorte proposto pelo grupo, centrado em canções da década de 1960, mas que sintetiza com brilhantismo o entusiasmo do quinteto.

Uma vez apontada a direção em estúdio, cada nova composição alcança um ponto de equilíbrio entre a nostalgia e a renovação. Em Do Outro Lado Da Cidade, por exemplo, são camadas de sintetizadores e guitarras que fazem lembrar o som explorado pela Mombojó em Amigo do Tempo (2020). Nada que a faixa seguinte, Não Vou Ficar, pareça incapaz de perverter. Enquanto os versos destacam a melancolia de Tim Maia, autor da canção, o órgão em destaque faz lembrar das colaborações de Roberto com o tecladista Lafayette, direcionamento reforçado na posterior Nada Vai Me Convencer, agora com um tempero raivoso.

Com a chegada de Não Há Dinheiro Que Pague, uma das canções mais icônicas do recorte proposto pelo grupo, todos esses elementos previamente apresentados ao público ganham novo tratamento. Da guitarra marcada pelo suíngue, passando pelo coro de vozes e sintetizadores, é como se o quinteto transportasse para dentro de estúdio a mesma euforia explícita nas apresentações ao vivo. Um precioso exercício criativo que quase acaba engolindo a música seguinte, Ninguém Vai Tirar Você De Mim, faixa que, mesmo bem executada, parece apenas servir de plataforma para Quase Fui Lhe Procurar, vinda logo em sequência.

Fuga momentânea do restante da obra, a canção originalmente gravada no cultuado O Inimitável (1968) funciona como um respiro necessário. Pouco mais de quatro minutos em que o grupo destaca o uso das harmonias de vozes e arranjos, reforçando e melancolia explícita nos versos. Passado esse momento de maior calmaria, Negro Gato mais uma vez joga o trabalho para outra direção, soando como um ska-punk-litorâneo, conceito prontamente derrubado na canção seguinte, Você Não Serve Pra Mim, música que parece apontar para os primeiros registros do próprio Chinaina em carreira solo, vide Simulacro (2007).

Escolhida para o encerramento do trabalho, Se Eu Pudesse Voltar No Tempo destaca a força criativa do grupo e ainda sustenta nos versos um convite não intencional a reviver as canções do disco. Passando quase despercebida em um álbum que tem Jesus Cristo, 120… 150… 200 Km Por Hora e Uma Palavra Amiga como principais composições, a releitura da banda pernambucana cresce parava além dos limites da versão original. São guitarras, batidas e vozes que se revelam aos poucos, porém, culminam em um fechamento grandioso, indicativo da capacidade do quinteto pernambucano em imprimir sua marca em estúdio mesmo ao revisitar a obra de uma das figuras mais icônicas e representativas da música brasileira.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.