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Crítica

Bárbara Eugênia

: "Foi Tudo Culpa Do Amor"

Ano: 2023

Selo: Saravá Discos

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: Pélico e Tatá Aeroplano

Ouça: Impossível Acreditar Que Perdi Você

7.5
7.5

Bárbara Eugênia: “Foi Tudo Culpa Do Amor”

Ano: 2023

Selo: Saravá Discos

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: Pélico e Tatá Aeroplano

Ouça: Impossível Acreditar Que Perdi Você

/ Por: Cleber Facchi 17/03/2023

Bárbara Eugênia sempre demonstrou enorme fascínio pela música romântica produzida no Brasil. Logo no primeiro trabalho de estúdio, Journal de Bad (2010), a cantora e compositora nascida em Niterói, no Rio de Janeiro, decidiu revisitar O Tempo, canção que integra o álbum Cidadão Instigado e o Método Túfo de Experiências (2005) e funciona como um aceno para o passado. Entretanto, foi com a chegada do registro seguinte, É o Que Temos (2013), e a releitura de Porque Brigamos, eternizada na voz de Diana, que essa relação ficou ainda mais evidente, abrindo passagem para outras interpretações sempre bem sucedidas.

Vem justamente dessa relação de Bárbara com diferentes pérolas do cancioneiro popular o estímulo para o fino repertório apresentado em Foi Tudo Culpa Do Amor (2023, Saravá Discos). Com produção assinada pelo artista maranhense Zeca Baleiro, com quem divide os versos de Não Se Vá, sucesso na voz de Jane e Herondy, o trabalho de dez faixas passeia em meio a composições originalmente lançadas nos anos 1960, 1970 e 1980, porém, partindo de um precioso e sempre necessário senso de atualização, direcionamento que se completa pela interferência criativa de colaboradores como Erico Theobaldo (bateria), Rovilson Pascoal (guitarras), Bianca Godoi (baixo), Pedro Cunha (teclados e sintetizadores) e Julia Valiengo (coros).

Perfeita representação desse resultado acontece na já conhecida Impossível Acreditar Que Perdi Você. Originalmente apresentada no início dos anos 1970 pelo cantor e compositor mineiro Márcio Greyck, a canção, que já foi interpretada por nomes como Fábio Jr. e Vanessa da Mata, se transforma em um pop enevoado que aponta para as criações de nomes recentes como Lana Del Rey. “Eu já não consigo mais viver dentro de mim / E, e viver assim é quase morrer“, confessa em meio a ambientações delicadas, batidas sempre calculadas e sintetizadores que funcionam como um complemento aos versos lançados pela artista.

Outra que encanta pela mesma sutileza no processo de adaptação é Qualquer Jeito, faixa que alcançou o topo das paradas de sucesso no final da década de 1980 na voz de Kátia, afilhada artística de Roberto Carlos, um dos autores da canção. São pouco mais de quatro minutos em que Bárbara segue de onde a cantora fluminense parou há mais de três décadas, mergulhando na construção de uma composição que dialoga com o que há de mais doloroso nas experiências românticas de qualquer indivíduo. Um delicado exercício criativo que segue até os últimos acordes da derradeira faixa-título, criação do goiano Odair José.

Nos poucos momentos em que rompe com esse pop empoeirado, Bárbara se permite transitar por entre estilos e diferentes propostas criativas de forma sempre curiosa. Enquanto algumas, como Mentira, em que flerta com o reggae, acabam distanciando o ouvinte do restante do trabalho, outras, como Vadiar, seduzem pela maneira como a artista mergulha na produção romântica a partir de uma abordagem regional. O mesmo acontece na já citada faixa de encerramento, canção que preserva o refinamento estético presente no restante da obra, porém, partindo de um enquadramento econômico e que abraça a música caipira.

São canções marcadas por momentos de maior fragilidade emocional e pequenos refúgios sentimentais. Uma combinação de dor e acolhimento que garante ao público uma experiência equilibrada durante toda a execução do trabalho, afinal, sempre que tende ao exagero romântico, consumindo o ouvinte pela melancolia dos temas, a artista estabelece respiros em que garante maior fluidez ao repertório. Instantes em que Bárbara utiliza das experiências compartilhadas por diferentes nomes da música brasileira para potencializar tudo aquilo que tem sido explorado por ela própria desde os primeiros registros em estúdio.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.