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Crítica

Bartees Strange

: "Farm To Table"

Ano: 2022

Selo: 4AD

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Nilüfer Yanya e Illuminati Hotties

Ouça: Wretched e Heavy Hearts

8.0
8.0

Bartees Strange: “Farm To Table”

Ano: 2022

Selo: 4AD

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Nilüfer Yanya e Illuminati Hotties

Ouça: Wretched e Heavy Hearts

/ Por: Cleber Facchi 28/06/2022

Há dois anos, enquanto o número de casos de Covid-19 aumentava diariamente e as pessoas buscavam sobreviver dentro de suas próprias casas, a música de Bartees Strange parecia servir como um refúgio. Com o lançamento de Live Forever (2020), o cantor e compositor britânico deu vida a uma sequência de composições marcadas pelo forte aspecto confessional, contrastando com a potência das guitarras que apontavam de maneira nostálgica para o som produzido no início dos anos 2000. Um misto de passado e presente, conceito que ganha novo tratamento com as canções reveladas em Farm To Table (2022, 4AD).

Segundo e mais recente álbum de inéditas de Strange, o registro segue de onde o músico naturalizado estadunidense parou no disco anterior, porém, se permite provar de novas possibilidades e diferentes temáticas. São canções em que, mesmo preservando a urgência dos elementos, refletem sobre as transformações vividas após o lançamento de Live Forever, faixas que se aprofundam em debates raciais e momentos de maior vulnerabilidade. É como um mergulho na mente e recordações vividas pelo artista, proposta que vai da minuciosa construção dos versos à colagem que ilustra a imagem de capa do disco.

Escolhida como música de abertura do álbum, Heavy Heart funciona como uma boa representação desse resultado. Inaugurada em meio a camadas de guitarras e ambientações minimalistas, a faixa rapidamente se transforma em um turbilhão emocional que sintetiza alguns dos elementos mais característicos da obra de Strange. Instantes em que o artista vai de conflitos sentimentais a temas existenciais e reflexões sobre a própria hereditariedade de forma bastante sensível e honesta. “Eu nunca senti tanto a sua falta / Eu não quero acabar assim / Algumas noites sinto como meu pai / Correndo por aí“, detalha em tom melancólico.

Sobrevive justamente nesse cruzamento de informações, temas e emoções um estímulo natural para o fortalecimento do álbum. É como se Strange utilizasse de diferentes narrativas dentro de cada canção, fazendo de Farm To Table um registro que continua a ecoar na cabeça do ouvinte mesmo após a entrega da derradeira Hennessy. Faixas como Cosigns, em que reflete sobre o próprio crescimento e relação com artistas como Phoebe Bridgers e Justin Vernon, além de outras preciosidades que partem sempre de conceitos e reflexões bastante pessoais, mas que em nenhum momento deixam de dialogar com o público.

Nada que inviabilize a entrega de faixas marcadas pela intensidade dos versos e imediata interpretação. É o caso de Wretched. Da construção dos arranjos ao romantismo agridoce que orienta a formação dos versos, poucas vezes antes Strange pareceu tão acessível, íntimo do ouvinte. O mesmo acontece em Hold The Line, delicada reflexão sobre o assassinato de George Floyd e um dos momentos de maior impacto do registro. Surgem ainda músicas como Black Gold, composição em que desacelera consideravelmente para mergulhar em memórias de um passado distante e recordações sempre empoeiradas da infância.

Mesmo marcado pelo refinamento dado aos versos e temas incorporados dentro de cada composição, Farm To Table é um trabalho que pouco avança musicalmente em relação ao antecessor Live Forever. E isso está longe de parecer um problema. Livre de possíveis rupturas estéticas, Strange se concentra na montagem de um repertório consistente, como uma extensão natural de tudo aquilo que foi apresentado no disco anterior, vide músicas como a crescente Escape This Circus e Wretched. Canções que partem da potência dada aos arranjos, batidas e vozes, porém, crescem nos sentimentos e evidente entrega do artista.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.