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Crítica

Oso Oso

: "Basking in the Glow"

Ano: 2019

Selo: Triple Crown Records

Gênero: Indie Rock, Emo, Rock Alternativo

Para quem gosta de: The Hotelier e Modern Baseball

Ouça: The View e Basking In The Glow

8.0
8.0

“Basking in the Glow”, Oso Oso

Ano: 2019

Selo: Triple Crown Records

Gênero: Indie Rock, Emo, Rock Alternativo

Para quem gosta de: The Hotelier e Modern Baseball

Ouça: The View e Basking In The Glow

/ Por: Cleber Facchi 29/08/2019

Em um universo de artistas que têm revisitado a produção alternativa entre o final da década de 1990 e início dos anos 2000, chamam a atenção aqueles que parecem perverter o óbvio, sustentando na força das próprias ideias e sentimentos um princípio de diálogo com o ouvinte. É o caso de Jade Lilitri. Em um lento processo de transformação criativa que teve início em Real Stories of True People Who Kind of Looked Like Monsters (2015), o cantor e compositor norte-americano faz de cada novo registro de inéditas do Oso Oso a passagem para um delicado exercício criativo, processo que alcança seu melhor resultado nas canções de Basking in the Glow (2019, Triple Crown Records).

Sequência ao elogiado The Yunahon Mixtape (2017), trabalho em que Lilitri se aprofundou no emo/pop punk produzido na segunda metade dos anos 1990, o registro de apenas dez faixas encontra em memórias recentes e pequenas conquistas do músico de Long Beach, Nova Iorque, a base para parte expressiva da obra. São versos apaixonados e instantes de profunda vulnerabilidade emocional, estrutura que reflete no romantismo dos temas um parcial distanciamento de outros registros do gênero.

Essa foi uma das primeiras vezes que eu escrevi, não tentando extrair de outros trabalhos, livros e ficção, como eu costumo fazer. Eu costumava inventar personagens e coisas assim. Isso parece um comentário muito presente em minha vida. Com certeza, estou em um relacionamento e muito apaixonado“, respondeu em entrevista a Billboard. E isso pode ser percebido durante toda a execução da obra. Da abertura do disco, em The View (“Meus olhos se iluminaram quando eu vi / A visão de onde você se senta“), até alcançar a derradeira Charli (“Nós vamos apenas fingir, / Sim, acho que está tudo bem / Porque você e eu nos divertimos muito“), tudo se organiza como um produto dessa nova fase.

Uma vez imerso nesse conceito, Lilitri explora todos os espectros de um novo relacionamento — inclusive os negativos. “Então, devagar, parece que estamos nos apressando / Tentei me segurar nesse jogo impossível / E eu sei que estou errado, o que mais posso dizer? / Eu tenho um vislumbre desse sentimento, estou tentando ficar nessa pista“, reflete em Impossible Game, composição em que discute a ânsia dos primeiros encontros e o medo de ser consumido pelo desejo. Instantes de breve angústia, como um parcial regresso ao material entregue no disco anterior.

É justamente essa colisão de ideias e pequenas inseguranças narradas por Lilitri que fazem de Basking in the Glow uma obra tão preciosa. Para além do mero lirismo romântico ou angústia que tradicionalmente move esse tipo de obra, o cantor e compositor norte-americano entrega ao público um trabalho conceitualmente diverso, mostrando todas as nuances da vida a dois. O resultado dessa profunda entrega emocional está na produção de músicas essencialmente versáteis, caso de Wake up Next to God, A Morning Song e a própria faixa-título do disco, síntese da poesia agridoce que orienta o disco.

Parte da beleza que rege o álbum sobrevive de forma como Lilitri utiliza dos arranjos para alavancar os sentimentos detalhados em cada composição. Responsável pelos instrumentos em parte expressivo da obra, o músico trabalha cada elemento de forma complementar, fazendo com que guitarras encolham e cresçam a todo instante, reforçando a tensão emocional que existe em Basking in the Glow. Um delicado exercício criativo que rivaliza com outros exemplares recentes do gênero, principalmente Harmlessness (2015), do coletivo The World Is a Beautiful Place & I Am No Longer Afraid to Die, ou mesmo o material entregue no bem-sucedido retorno do American Football.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.