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Ano: 2023

Selo: Bayonet

Gênero: Indie Rock, Dream Pop

Para quem gosta de: Real Estate e Wild Nothing

Ouça: Don't Fade Away e Dare Me

7.8
7.8

Beach Fossils: “Bunny”

Ano: 2023

Selo: Bayonet

Gênero: Indie Rock, Dream Pop

Para quem gosta de: Real Estate e Wild Nothing

Ouça: Don't Fade Away e Dare Me

/ Por: Cleber Facchi 07/06/2023

Bastam os acordes iniciais de Sleeping on My Own para que o ouvinte seja prontamente transportado para dentro do quarto e mais recente trabalho de estúdio do Beach Fossils, Bunny (2023, Bayonet). São guitarras altamente nostálgicas que atravessam os anos 1980 e 1990, passam pela obra de veteranos como R.E.M. e Teenage Fanclub, mas em nenhum momento ocultam a identidade do grupo nova-iorquino que hoje conta com os músicos Dustin Payseur, Jack Doyle Smith, Tommy Davidson e Anton Hochheim. Uma combinação de passado e presente que se completa pela sobreposição dos versos sempre carregados de sentimentos.

Ela é novocaína / É tudo que eu preciso / Para aliviar a dor / Não desapareça“, canta em Don’t Fade Away, música que sintetiza parte dos temas incorporados pelo grupo ao longo do trabalho. São composições consumidas pelo sentimento de abandono, memórias de um passado ainda recente e a inevitabilidade da passagem do tempo. Um olhar minucioso para as diferentes vivências por Payseur durante o período pandêmico, como um diário emocional que se permite ser folheado (e cantado) pelo ouvinte, possivelmente partidário das mesmas experiências conflitantes que o artista e seus parceiros de banda buscam explorar.

Claro que isso está longe de parecer uma novidade para quem há tempos acompanha o trabalho da banda. Desde a entrega do autointitulado registro de estreia, há mais de uma década, passando por obras como Clash The Truth (2013) e Somersault (2017), Payseur sempre encontrou nos próprios traumas e experiências pessoais uma importante fonte de inspiração para a construção dos versos. A diferença está na forma como tudo é trabalhado de maneira ainda mais sensível e expositiva, como um mergulho na mente do artista que transporta para dentro de estúdio diferentes narrativas e conflitos sentimentais.

Exemplo disso fica bastante evidente logo nos minutos iniciais do trabalho, na já citada Sleeping on My Own. Enquanto camadas de guitarras se revelam ao público em pequenas doses, Payseur mergulha fundo na própria solidão. “Dormindo sozinho / Não posso esquecer / Deixe-me em paz / Estou bem“, canta. Nada que prejudique a construção de faixas marcadas pela sensação de completude causada pelo amor. “No momento em que te vi tudo era verdade / Eu não estou mais vazio, garota / Você me fez sentir novo“, confessa minutos à frente, em Run to the Moon, um dos momentos de maior vulnerabilidade do disco.

Entretanto, para além da forte carga sentimental e capacidade de Payseur em dialogar com o ouvinte por meio das emoções, Bunny evidencia o amadurecimento criativo do quarteto e refinamento dado aos arranjos. Livre de qualquer traço de urgência, o grupo se concentra na formação de músicas adornadas por incontáveis camadas instrumentais e efeitos que concedem ao disco um finto toque de psicodelia. Canções como (Just Like The) Setting Sun e Anything Is Anything que evocam nomes como Cocteau Twins e Slowdive, trilham caminhos pouco usuais e delicadamente ampliam o campo de atuação da banda.

Ainda assim, Bunny em nenhum momento ultrapassa no que parece ser um limite estabelecido pela banda. Salve exceções, como a enérgica Tough Love, com suas guitarras e batidas aceleradas, muito do que caracteriza o trabalho é estabelecido logo nos minutos iniciais, em Sleeping on My Own. São guitarras enevoadas e vozes parcialmente submersas, como uma extensão do material entregue nos registros anteriores. Um exercício criativo talvez previsível, mas que encanta pelo minucioso tratamento dado aos versos e temas sentimentais que se aprofundam em diferentes experiências de forma sempre tocante.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.