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Crítica

Bedouine

: "Waysides"

Ano: 2021

Selo: The Orchard

Gênero: Folk

Para quem gosta de: Jessica Pratt e Hand Habits

Ouça: The Solitude e The Wave

7.5
7.5

Bedouine: “Waysides”

Ano: 2021

Selo: The Orchard

Gênero: Folk

Para quem gosta de: Jessica Pratt e Hand Habits

Ouça: The Solitude e The Wave

/ Por: Cleber Facchi 06/01/2022

Azniv Korkejian é o raro caso de uma artista que, desde o primeiro trabalho de estúdio, sempre soube que direção seguir criativamente. Influenciada pela música produzida na década de 1970, principalmente as criações de veteranos como Joni Mitchell, Nick Drake e Karen Dalton, a cantora e compositora de origem síria fez de cada novo registro autoral como Bedouine a passagem para um delicado território criativo, estrutura que volta a se repetir com a chegada do terceiro álbum de inéditas da musicista que hoje reside nos Estados Unidos, Waysides (2021, The Orchard), obra que reflete o completo esmero de Korkejian.

De essência reducionista, como tudo aquilo que a cantora tem produzido desde os primeiros registros autorais, Waysides encanta justamente pela forma como Korkejian se distancia de possíveis excessos de forma a valorizar a construção dos versos. São canções dotadas de uma linguagem universal, sempre sensíveis e capazes de dialogar com os sentimentos de um jovem incompreendido da década de 1970, como de qualquer ouvinte recente, talvez consumido pela forte sensação de isolamento causada por conta da pandemia de Covid-19. Uma combinação de dor e acolhimento, marca das criações de Bedouine.

Eu nunca vi / A solidão / Como algo a evitar até você sair“, confessa na introdutória The Solitude, música que sintetiza esse permanente sentimento de abandono e solidão que pouco a pouco consome o disco. É como se Korkejian transportasse para dentro de estúdio parte das angústias vividas nos últimos meses. Uma extensão natural de tudo aquilo que foi apresentado pela cantora durante o lançamento do trabalho anterior, o também melancólico Bird Songs Of A Killjoy (2019), porém, em uma abordagem ainda mais intimista, cuidado que se reflete com naturalidade até a composição de encerramento, Songbird.

São canções que orbitam um universo bastante particular de Korkejian, direcionamento que vai da já conhecida The Wave (“Eu não posso conter o que sinto por você“), ao material entregue em preciosidades como I Don’t Need the Light (“Eu não preciso da luz se não estou olhando para você“). Composições que choram a partida de um antigo amor, se afogam em desilusões e evidenciam o que há de mais doloroso nas criações da artista síria. A própria base instrumental do disco, completa pela co-produção de Gus Seyffert (Adele, Norah Jones), parceiro de longa data da cantora, parece contribuir ainda mais para esse resultado.

Embora regido pelo violão solitário de Korkejian, marca desde o primeiro álbum de estúdio, Waysides encanta pela forma como pequenos acréscimos surgem e desaparecem durante toda a execução do material. São pianos sofisticados, a bateria de Josh Adams e o violoncelo de Gabe Noel (Kendrick Lamar, Father John Misty) que garantem maior profundidade e refinamento ao trabalho. Mesmo a voz da artista, sempre incorporada de forma atmosférica e inebriante, funciona como um instrumento complementar, ampliando de forma bastante sensível a construção de faixas como as discretas It Wasn’t Me e The Wave.

Claro que quando observamos toda a produção recente de Bedouine, Waysides acaba se revelando como uma obra que pouco evolui criativamente. Mesmo regido com extrema delicadeza, não há nada no presente disco que a cantora já não tenha incorporado ou apresentado anteriormente. Entretanto, como indicado desde o primeiro álbum de estúdio, Korkejian nunca prometeu nada além de um bem-resolvido conjunto de faixas intimistas trabalhadas em cima de uma base acústica, estrutura que não apenas se reflete, como é incorporada de forma ainda mais delicada durante toda a execução do presente disco.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.