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Crítica

Beirut

: "Artifacts"

Ano: 2022

Selo: Pombeii

Gênero: Indie Pop, Folk

Para quem gosta de: Andrew Bird e Devendra Banhart

Ouça: Fisher Island Sound e So Slowly

7.5
7.5

Beirut: “Artifacts”

Ano: 2022

Selo: Pombeii

Gênero: Indie Pop, Folk

Para quem gosta de: Andrew Bird e Devendra Banhart

Ouça: Fisher Island Sound e So Slowly

/ Por: Cleber Facchi 11/02/2022

Entre o final dos anos 1990 e o início da década seguinte, a cena norte-americana viveu uma verdadeira invasão de coletivos formados por jovens músicos e suas pequenas orquestras particulares. De Arcade Fire a The Decemberists, passando pelas criações do Of Montreal e Neutral Milk Hotel, sobram nomes bastante característicos do período. Entretanto, poucos foram tão bem-sucedidos quanto Zach Condon e seus parceiros de banda no Beirut. Original de Santa Fé, no Novo México, o grupo fez do diálogo com a música produzida no leste europeu e outras experimentações com o pop um estímulo natural para a própria obra.

E isso fica bastante evidente em toda a sequência de registros apresentados pela banda logo nos primeiros anos de atuação, caso de Gulag Orkestar (2006) e The Flying Club Cup (2007). São trabalhos que passeiam em meio a melodias empoeiradas e orquestrações sublimes, apontando a direção seguida por Condon pelos próximos anos. Vem justamente desse olhar curioso para os primeiros trabalhos do grupo o estímulo para a recente coletânea Artifacts (2022, Pompeii). São pouco menos de 90 minutos em que o artista resgata uma série de composições já conhecidas do público fiel e preciosidades nunca antes reveladas.

Sequência ao material entregue em Gallipoli (2019), último trabalho de inéditas do Beirut, Artifacts sustenta no primeiro bloco de canções um repertório bastante familiar. Não por acaso, o músico inaugura a coletânea com a conhecidíssima Elephant Gun. Marcada pelo uso minucioso dos arranjos, a faixa abre passagem para toda uma sequência de composições originalmente apresentadas em registros como Lon Gisland EP (2007) e Pompeii EP (2007). São criações como My Family’s Role in the World Revolution, Scenic World e Transatlantique que sintetizam o que há de mais característico no som produzido pela banda.

Entretanto, sobrevive no distanciamento dessa porção inicial da coletânea a passagem para algumas das composições mais interessantes do trabalho. Com Autumn Tall Tales como ponto de partida, Condon investe em uma sequência de faixas marcadas pelo forte aspecto caseiro, resgatando criações que acabaram de fora dos primeiros registros da banda. Entre as canções que abastecem o material, acertos como Fyodor Dormant, música que se espalha em meio a sintetizadores, batidas e vozes sempre econômicas, indicando a direção para uma série de outros registros dotados de uma linguagem similar.

São composições como Irrlichter, Sicily e Bercy em que Condon preserva traços da identidade criativa do Beirut, porém, segue pela mesma trilha eletrônica incorporada em obras como March of the Zapotec/Holland EP (2009). Claro que isso não interfere na produção de músicas ainda íntimas dos primeiros registros da banda. É o caso da curtinha Your Sails. Pouco menos de dois minutos em que o multi-instrumentista vai de encontro ao mesmo território criativo de Gulag Orkestar, conceito que volta a se repetir mais à frente, em Fisher Island Sound, canção escolhida para anunciar a chegada da coletânea.

Dentro desse espaço marcado pelo permanente olhar para o passado, Condon aproveita para resgatar outras criações bastante curiosas. É o caso da já conhecida O Leãozinho, versão para a música de Caetano Veloso que integra a coletânea Red Hot + Rio 2 (2011), e Interior of a Dutch House, faixa que abastece um registro lançado em parceria com o Calexico poucos meses após a chegada de Gulag Orkestar. São fragmentos empoeirados, raridades e velhas conhecidas que não apenas remontam os primeiros anos do Beirut em estúdio, como funcionam como um precioso exercício de apresentação para a banda.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.